1) A história introduz os personagens principais: Louise, a mãe fria e distante; Philippe, o pai bondoso; e seus filhos Henry e Charlotte. Também apresenta Isabelle, filha dos empregados do castelo.
2) Henry conhece Isabelle pela primeira vez na cachoeira e fica encantado por sua beleza e voz. Ele a convida para sua festa de aniversário.
3) Isabelle aceita ir à festa, mas quer manter sua identidade em segredo para não prejudicar seus pais. Henry fica ansi
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Louise Beaufort: Loira, olhos claros, altiva, orgulhosa e senhora de si. Se
casara com Philippe por imposição dos pais, para juntar as duas fortunas. Não se
casara por amor, porém, tinha orgulho de sua riqueza. Tivera dois filhos contra a sua
vontade: Henry e Charlote. Sua gravidez era sempre motivo de briga no castelo.
Enjoava com o cheiro de qualquer coisa e raramente saía do quarto, por achar que
seu corpo perdia a beleza.
Logo que seus filhos nasceram, os entregara aos cuidados de empregados
e preceptores, que lhes dera a devida educação que uma família nobre merecia.
Quando um deles sentia falta da mãe, precisava marcar hora para vê-la, e, mesmo
assim, se esta estivesse indisposta, ela cancelava o encontro, trancava a porta do
quarto e não saía de lá por dois ou até três dias, culpando a enxaqueca que lhe
acometia de vez em quando.
Mas a verdade era que Louise não se cansava de dar festas e se acostumou
a beber logo cedo. Suas empregadas tinham que colocá-la na cama
silenciosamente, pois morriam de medo dos seus castigos. A única que conseguia
falar com ela era Therése. Sua mãe trabalhava no castelo quando ela nasceu e logo
Thérese tomou o seu lugar como governanta de Louise, que a respeitava, porém,
somente como empregada.
Thérese: empregada do castelo, casada com Antoine, o cavalariço de
Philippe. Os dois tiveram uma linda filha de nome Isabelle.
Philippe Beaufort: Alto, olhos escuros, todos o respeitavam por ser justo e
bondoso. Era apaixonado pela esposa, porém, a frieza com que esta o tratava, o fez
recuar e ficar retraído. Amava seus dois filhos e lhes dedicava o máximo de tempo
que podia.
Filhos de Louise e Philippe: Henry Beaufort – Alto, cabelos negros, olhos
castanhos escuros, tocava piano e amava poesia. Era muito parecido com o pai.
Seu esporte preferido era o hipismo e a esgrima. Era louco pela irmã Charlote e
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conversava com ela sobre tudo, já que havia somente dois anos de diferença entre
os dois.
Era um rapaz belo, muito procurado pelas mulheres da corte, mas, apesar
de namorar algumas delas, jamais se apaixonara na vida e brincava, dizendo aos
amigos que “ela” ainda não tinha aparecido.
Brincalhão, era conhecido pelo sorriso, pela educação e respeito com que
tratava a todos, inclusive os empregados, o que gerava sempre uma bronca de sua
mãe, que achava que ele deveria se comportar com frieza, mantendo distância
emocional dos empregados.
A ligação com seus pais era estranha. Amava os dois, porém, só lembrava
de sua mãe trancada no quarto com enxaqueca, bêbada ou toda arrumada para as
festas, porém, nunca lembrava de ter recebido carinho dela.
Seu pai era diferente. Era um homem bondoso, atencioso, porém, não muito
carinhoso. Lembrava-se que o levava para pescar às vezes, mas era um pouco
distante, como se os seus pensamentos estivessem sempre em outro lugar, perdido
em um mar de tristeza.
e Charlote Beaufort – loira, olhos azuis como os da mãe e inteligente. Tinha
uma coleção de bonecas de porcelana que seu pai lhe trazia de todas as viagens
que fazia. Muito falante, era a melhor amiga de Henry e adorava quando seu irmão
lhe fazia carinho e mexia com seus belos cabelos, que mais pareciam anéis
dourados caindo-lhe sobre os ombros.
Isabelle: Filha de Therése Isabelle era considerada a “pequena” da
família. Filha única, possuía pele branca como porcelana e olhos escuros profundos,
mas cheios de vida. Cabelos negros que iam até a cintura. Sua boca era sempre
sorriso e parecia uma pintura de Cézanne.
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Apesar de não serem ricos, seus pais viviam bem com o salário pago pelos
Beaufort. Moravam em uma casa simples, porém muito digna, que ficava a 1 km do
castelo. Seu pai a levava ao colégio todos os dias de charrete, com a permissão de
Philippe e com pena dos seus delicados pés, porém, Isabelle não era orgulhosa. Era
uma menina meiga, bondosa, de olhar profundo e sorriso fácil.
Inteligente, adorava estudar história, aprendera a bordar lindos tecidos com
sua avó. Costurava e até fazia suas próprias roupas, cópias da alta costura
francesa. Isabelle também aprendera a tocar piano com a professora de Henry,
Annete, que lhe dava aulas em troca de seus bordados ou costura. Suas mãos eram
finas e delicadas e sempre recebia elogios por sua perfeita postura.
Desde pequena, era apaixonada por Henry. Não tinha olhos para outra
pessoa, mas sabia que era um amor impossível, por isso, se resignava com o que
tinha e nunca reclamava da vida. Seu lugar preferido era a cachoeira que cortava a
montanha atrás do castelo.
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Alpes do Sul da França, 1860. O sol erguia majestoso por trás do castelo de
Beaufort, conhecido como o Chateau di Beaufort, iluminando a paisagem que se
descortinava pelos vales e montanhas.
O castelo estava sendo preparado para a festa de 21 anos de Henry. Em
todo lugar, se via empregados correndo de um lado para o outro, evitando as
broncas de Louise, que levantara mal-humorada e com enxaqueca.
A festa era esperada por muitas moças que achavam que seria a ocasião
perfeita para fisgar o melhor partido da região, porém, Henry estava tranqüilo e se
levantou, como em todas as manhãs, bem-humorado e sorrindo para todos.
Se dirigiu ao estábulo e logo saiu cavalgando pelos campos com seu cavalo
Anjou. Pela primeira vez, Henry ousou sair um pouco do caminho habitual e
circundou o castelo, à procura de lugares novos que ainda não conhecia.
De repente, ouviu uma voz como a de um rouxinol e se dirigiu, encantado,
até lá. Logo chegou às margens de uma cachoeira, que até então, não conhecia,
afinal a terra que pertencia à sua família, ao Castelo, era tão grande que ninguém
sabia ao certo onde terminava.
A cachoeira era linda. O sol batia em uma pedra, onde águas cristalinas
lançavam gotas de diamante acima da cabeça de uma moça que estava sentada,
olhando pro céu e cantando. Henry sentiu sua respiração parar quando a viu. Jamais
em sua vida, tivera uma visão tão bela.
Ela tinha os cabelos negros, molhados, até a cintura. Cantava e sorria de
alegria, mostrando dentes brancos e perfeitos. Sua boca era linda e de sua
garganta, a música soava cristalina como a água.
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Henry saltou do cavalo e sentou-se a uma pedra, um pouco escondido, não
querendo assustar aquela linda moça, que tinha a pele branca como uma porcelana.
Fechou os olhos e sentiu que flutuava ao som de sua voz.
De repente a voz se calou, trazendo Henry para o presente. Seus olhos se
cruzaram e ela lhe sorriu, um pouco acanhada. Ele lhe sorriu de volta, levantou-se e
se aproximou devagar.
- Olá, como vai? De onde você veio moça encantadora?
- Olá Henry. Sou filha de Thérese, a governanta do castelo e de Antoine, o
cavalariço de seu pai, o Sr. Philippe.
- Como então nunca a vi antes?
- Minha mãe sempre me manteve afastada do castelo por ordem de sua
mãe, além do mais, eu estudo e tenho meus afazeres o dia todo.
Saindo da água, Isabelle tentou subir numa pedra, mas Henry foi mais
rápido e a ajudou, antes que esta caísse. Com o rosto em chamas, ela agradeceu-
lhe a gentileza e parou um pouco, torcendo os cabelos cheios de água. Henry não
conseguia tirar os olhos dela. Convidou-a a se sentar com ele e, tirando uma maçã
do bolso, ofertou a ela.
- Obrigada Henry, você é muito gentil.
- Por nada Senhorita. Posso saber o seu nome? (ele perguntou, tentando
desviar os olhos do corpo da moça)
- Isabelle.
- Você já sabia o meu nome...
- Sim! Minha mãe sempre fala muito em você e em sua irmã, Charlotte. Ela
gosta muito de vocês, pois os conhece desde que nasceram. Minha avó trabalhou
para a mãe da sua mãe.
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- Você vem sempre aqui Isabelle?
- Sim. Sempre! É o meu lugar preferido dos arredores do castelo.
- Eu não conhecia este lugar ainda, mas também, fiquei muito tempo fora
estudando e viajando. Somente hoje brotou um desejo imenso de avançar mais um
pouco o caminho que eu costumava fazer com Anjou [e apontou o cavalo].
- Eu conheço Anjou. Meu pai cuida dele. [fazendo um carinho no cavalo]
- Que lugar lindo aqui!
- Sim. A água é cristalina e o sol sempre bate direto na superfíciel, dando a
impressão que estou dentro de um espelho.
Com os olhos brilhando, Henry perguntou:
- Foi essa a exata impressão que tive quando a vi. Você vem à minha festa
mais tarde?
- Acho melhor não....
- Mas porque??
- Sua mãe não gosta de misturar as coisas. Cada um no seu lugar! [falou e
abaixou a cabeça]
- Mas o aniversário é meu e eu convido quem eu quiser. Gostaria muito que
viesse.
Isabelle ousou olhar dentro dos seus olhos pela primeira vez e seu corpo
estremeceu.
- Está com frio.... tome! [tirou o casaco e o colocou em seus ombros]
- Oh, muito obrigada! [ela respondeu com o rosto vermelho]
- Isabelle, é sério, eu gostaria muito que viesse à festa hoje à noite. Você me
daria a honra de dançar uma música com você?
Os lábios de Isabelle tremeram. Tinha muita vontade de ir, mas sentia medo
que seus pais fossem prejudicados por causa de sua ousadia.
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- Vamos combinar uma coisa então. Estarei na sua festa, mas não quero
que ninguém me reconheça. Só você saberá que sou eu, pois não quero prejudicar
meus pais. Você concorda?
- Qualquer coisa que você pedir! [sorrindo]
- Então está bem, eu irei!
Henry pegou nas mãos de Isabelle e falou:
- Será uma honra para mim a sua presença. Estarei esperando ansioso.
Você é linda Isabelle!
- Henry....
- Não, não fale nada, deixe-me somente olhar pra você. Não pense que sou
assim com todas as mulheres, mas você me enfeitiçou a partir do momento que ouvi
sua voz entoando aquela linda melodia.
Henry beijou suas mãos e chegou devagar seu rosto perto de Isabelle,
fazendo seus corações baterem acelerados quando seus lábios se tocaram.
- Oh.... [Isabelle virou-se rapidamente, ajeitando os cabelos]
- Não, por favor! Me perdoe! Não quis faltar-lhe com o respeito. Eu senti uma
vontade imensa de beijar seus lábios. Não consigo parar de te olhar Isabelle.
- Henry, você sabe que isso não podia acontecer. Não podemos ter nenhum
tipo de relacionamento, pois seria contra a vontade de seus pais e contra os
costumes.
- Isabelle! Shhhhh... fique quieta! [tocou com a ponta dos dedos o rosto dela,
descendo pela testa, sobrancelhas, pelo nariz delicado, contornando seu queixo e
chegando até sua boca, que estava trêmula e vermelha ainda do beijo].
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- Henry, eu preciso ir. Preciso ajudar minha avó, pois minha mãe hoje está
ajudando na organização da sua festa.
- Isabelle, vou esperar você a noite, por favor, não falte! É o maior presente
que eu poderia ganhar! [disse sério, olhando para ela].
- Eu estarei lá.... [ela disse e saiu correndo].
Henry ficou vendo a moça sair correndo, descalça, pelo campo florido, onde
pequenas margaridas se misturavam com azaléias, tulipas e lírios. Ele sorriu e
pensou: Lírios significavam: “Eu te desafio a me amar”... e eu te desafio a me amar
Isabelle! [pensou consigo mesmo!]
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Parte II
Isabelle chegou em casa com o rosto afogueado. Foi direto para o banho e
quando saiu, sua avó observou seu sorriso feliz e perguntou o que havia acontecido.
Como nunca havia mentido, ela contou do seu encontro com Henry e do sentimento
que sentia por ele há muito tempo.
Sua avó olhou-a cheia de preocupação, mas não quis desanimar a neta.
Sabia que dali em diante haveria muitos problemas, mas também sabia que, quando
o amor nascia num coração, nada era capaz de acabar com tamanho sentimento.
Beijou o rosto da neta e pediu cautela naquela noite. As duas foram para o
quarto e passaram a tarde costurando um belo vestido para Isabelle. Logo depois,
sua avó prendeu-lhe o cabelo sedoso e brilhante no alto da cabeça e deixou mexas
enroladas descendo por suas costas.
Quando chegou ao castelo, como de costume, todos usavam uma máscara.
Isabelle colocou a sua, que tapava somente seus olhos e entrou.
O contraste do vestido branco com seus cabelos negros e pele alva deram-
lhe um ar de princesa e ao mesmo tempo, de pureza – e isso chamou a atenção de
vários rapazes e moças que circulavam pelo salão, inclusive, Henry.
Assim que a viu, ele sabia que era ela. Que ela era sua “Ela”! Sorriu e foi ao
seu encontro, tomando-lhe as mãos e beijando com gentileza como mandava a
tradição. A vontade de Henry era de tirar-lhe as luvas e beijar seus dedos delicados,
bem como lhe dar um abraço para sentir seu perfume e a maciez da pele.
Eles dançaram juntos quase a noite toda, trazendo comentários maldosos
de algumas moças que sonhavam estar no lugar de Isabelle. Uma delas, prima de
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Henry - Emilie, que claramente estava com ciúmes dele, chamou sua tia Louise e
apontou para o casal.
Louise virou-se tentando ser discreta, mas o álcool embotava um pouco
seus sentidos e quase virou a taça de champagne em seu vestido, o que a deixou
um pouco mal-humorada. Fitou o casal com os olhos apertados e perguntou à sua
sobrinha se ela conhecia a moça que não saía dos braços de seu filho.
- Nunca a vi na corte, Tia.
- Não me chame de Tia! Não tenho idade para isso! [falou, apertando os
lábios].
- Desculpe Ti... Louise. [seu rosto pegava fogo de raiva da tia]
- Pois então, vá saber quem é esta moça e a que família ela pertence!
- Está bem! [e saiu caminhando entre os convidados].
Louise procurou pelo salão a figura do marido e o avistou logo mais à frente,
conversando com o Conde Du Bois. Philippe, pressentindo o olhar da esposa,
desculpou-se com o conde e saiu ao seu encontro, olhando, preocupado, para o
copo sempre cheio na mão da esposa.
- Você não acha que deve beber menos hoje querida? (perguntou
carinhosamente, mas preocupado)
- E porque essa preocupação agora? (ela perguntou mal-humorada)
- É aniversário do nosso filho e eu acho que você gostaria de participar até o
final, antes que se sinta mal.
- Ora, não me venha com essa. Você sabe que eu gosto de beber, e além
do mais, isso me diverte e me distrai.
- Você é quem sabe, mas amanhã, sabe que vai acordar com enxaqueca e
mal-humorada!
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- Não precisa me lembrar dessas coisas. Aliás, você reparou que o seu filho
está dançando somente com uma moça esta noite?
- Não!
- Olhe para eles. Parecem felizes! Mas sabe a que família ela pertence?
- Você sabe que não reparo nessas coisas querida.
- Você só pensa nos negócios e nos cavalos! [falou Louise com desgosto]
- Bem, vou cumprimentar outros convidados e depois nos falamos. [saiu
Philippe, evitando discutir com a esposa]. Sabia que não adiantava discutir com ela,
ela sempre tinha razão e ele estava cansado de brigas.
Emilie chegou perto da tia e informou-lhe que ninguém reconhecia a moça, o
que levou Louise, tropeçando, até o casal.
- Querido, agora é a minha vez de dançar com o aniversariante!
Sem graça, porém, com respeito, Henry enlaçou a mãe e fez um sinal com
os olhos, avisando Isabelle que logo estaria de volta. Ela saiu pelo terraço, tomando
um gole de espumante, à procura de ar fresco.
Enquanto isso, Henry tentava segurar sua mãe, que estava um pouco tonta,
por causa da bebida.
- Mãe, você não acha que já bebeu demais hoje?
- Ora, não me amole, eu estou me divertindo, como todos.
- A Sra. é quem sabe.
- Henry, quem é a moça que estava dançando com você?
Henry tossiu nervoso, não sabia o que responder e deu uma resposta vaga.
- Apenas uma amiga mãe.
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- E essa amiga não tem nome?
- Sim, é Isabelle.
- Isabelle? Quem são seus pais? Onde ela mora? É rica?
- Mãe, não me encha de perguntas. Outro dia falamos sobre isso. O que eu
quero neste momento é me divertir nesta festa maravilhosamente organizada pela
Sra.
Ele sabia que a única maneira de desviar a atenção de sua mãe era o
elogio.
- Aliás, eu já falei o quanto está lindíssima hoje?
Sorrindo, ela respondeu-lhe:
- Muito obrigada Henry, você sabe que adoro ouvir essas coisas.
- Sei sim mãe.
- E onde está Charlote?
- Está com amigas do outro lado do salão. Etienne está ao seu lado e você
sabe como ele é apaixonado por ela mãe.
- Sim, eu sei e ele vem de ótima família e muito rica.
- Você se importa muito com isso minha mãe. Você não acha que já temos
dinheiro suficiente para ter que nos preocupar com isso?
- Claro que não meu filho. Quanto mais, melhor.
- Mãe, mãe... a felicidade, a tranqüilidade e o amor, nada disso se compra
com dinheiro.
- Como não meu filho? Como você acha que me casei com o seu pai? Foi
um arranjo de nossa família para juntar nossas fortunas.
- Sim mãe, mas isso é coisa do povo mais antigo. Hoje em dia, não tem mais
isso. As pessoas se casam por amor e eu quero me casar por amor.
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- Pare de falar bobagens Henry [falou Louise, nervosa]. Você pode até se
casar por amor, mas tem que ser com uma moça de boa família e bastante rica para
que ela esteja á sua altura. E chega desse papo! Quero tomar alguma coisa, pois
estou com calor!
Louise desprendeu-se do braço de Henry e, pegando outro copo de
champagne da bandeja á sua frente, saiu pelo salão.
Henry ficou olhando até ela sumir de suas vistas e olhou em volta,
procurando por Isabelle. Encontrou-a no terraço, sozinha, sentada em um banco,
rodeada pelo caramanchão de lindas flores brancas, combinando com seu vestido e
pele.
- Você está linda Isabelle!
- Você também Henry.
- Saiba que estão todos comentando sobre você. Os rapazes vieram me
perguntar quem é a bela mulher que não saiu dos meus braços a noite toda [falou
Henry, sorrindo].
- Henry, isso me deixa preocupada! E se sua mãe descobrir sobre mim? Isso
não pode acontecer. [Isabelle se levantou, nervosa].
- Isabelle, pois saiba de uma coisa: eu estou perdidamente apaixonado por
você. Não consigo parar de pensar em você, de olhar para você. Quero que se case
comigo!
- Henry !!!!!! (ela falou arregalando os olhos, visivelmente nervosa)
- Sim Isabelle, eu quero me casar com você e é isso que farei!
- Você sabe que isso é impossível – falou Isabelle com os olhos cheios de
lágrimas.
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- Não minha querida, nada é impossível. Eu a amo e vou lutar para ficarmos
juntos.
- Henry, sua mãe pode mandar eu e meus pais para a rua, se não fizer coisa
pior. Minha avó depende deles. O que será de nós?
- Minha Isabelle. Se minha mãe não aceitar nossa união, eu vou embora
com vocês.
- Mas Henry, seus pais podem te deserdar por minha causa. [Isabelle já
estava chorando copiosamente no ombro de Henry].
- Não meu amor, meu pai não fará isso e se fizer, não importa. Sou um
homem forte, tenho instrução e sei me virar. Além do mais, meu avô me deixou
pequena herança que fará com que vivamos confortavelmente. Por favor, tenha
calma.
- Oh meu amor, eu tenho muito medo de tudo isso!
- Eu sei minha querida, mas olhe em meus olhos e diz que não é isso que
você quer!
- Sim, sim, sim Henry! Sempre quis! Sempre amei você, desde a primeira
vez que o vi, quando eu tinha apenas 14 anos.
- Oh minha Isabelle, então isso foi ontem? [Henry falou e deu uma
gargalhada tentando desanuviar o ambiente]
- Não seu bobo! Eu completo 18 anos daqui a dois meses!
Henry fitou seus olhos, abraçou-a com cuidado e beijou-lhe os lábios.
Isabelle achou que ia desmaiar, tamanho amor que sentia por aquele
homem. Sempre imaginou que um dia ele poderia ser seu, mas jamais pensou que
aquele sonho pudesse ser realizado. No íntimo, seu corpo estremeceu, com medo.
O que seria dos seus pais, da sua avó e dela mesma se Louise não aceitasse o
casamento deles?
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Algum tempo depois, Henry levou Isabelle até em casa e se despediram
com um beijo apaixonado. Ele segurou-lhe o queixo e jurou-lhe amor eterno. Ela
entrou em casa sorrindo e, silenciosamente, se despiu, vestiu a camisola que sua
avó deixara-lhe aos pés da cama e deitou-se, passando o resto da noite sonhando
com o seu amor.
Henry voltou para casa e os convidados já haviam ido embora. Ele estava
cansado, porém, muito feliz. Isabelle fora o melhor presente que havia ganhado em
sua vida e não conseguia parar de pensar nela. Entrou em seu quarto em silêncio e
encontrou Charlote, sentada em sua cama, esperando-o.
- Oi minha bonequinha, o que está fazendo aqui a essa hora? [ele sempre a
chamava de bonequinha por causa de sua paixão pela coleção de bonecas de
porcelana].
Sorrindo, Charlote respondeu-lhe:
- Estava lhe esperando meu irmão. Quero saber tudo sobre aquela moça.
Você pensa que não vi seus olhos brilhando quando a fitava? Você passou a noite
inteira com ela e deixou Emilie e as outras moças mortas de inveja dela [falou
Charlote sorrindo].
- Oh minha irmã, eu preciso mesmo lhe contar!
- Pois então conte! Aliás, ela é linda!
Henry deitou a cabeça no colo da irmã e contou-lhe como conhecera
Isabelle e se apaixonou à primeira-vista. Contou-lhe de sua preocupação com
relação à sua mãe e do pedido que fizera a Isabelle.
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Charlote, preocupada, deslizava os dedos pelos cabelos do irmão.
- Henry, você sabe que amo você meu irmão, mas sabe que nossa mãe vai
fazer de tudo para que esse casamento não se realize. Sabe como ela só pensa em
nome e dinheiro – pra não falar na bebida. (ela falou mordendo os lábios,
preocupada)
- Pois é, eu ainda não sei como falar com ela, mas vou pensar com cuidado
para que tudo dê certo.
- Você sabe que pode contar comigo!
Charlote abraçou seu irmão, deu-lhe um beijo e foi para seu quarto.
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PARTE III
Henry não conseguiu dormir. Passou a noite inteira pensando em Isabelle.
Assim que o dia amanheceu, trocou-se rapidamente e desceu para o café. Como de
costume, sua mãe dormia e provavelmente ficaria no quarto pelos próximos dois ou
três dias com enxaqueca por causa da bebida.
Thérese serviu-lhe o desjejum e Henry olhou-a com respeito. Cumprimentou-
a feliz e antes de sair, abraçou-a, o que causou-lhe espanto.
- Mas o que o menino Henry tem hoje? [perguntou-lhe sorrindo]
- Eu só estou feliz Thérese. Obrigada por existir!
- Mas, o que está falando menino?
- Nada Thérese, nada. Agora vou andar a cavalo. Você pode mandar
preparar uma cesta com frutas, queijo, vinho e outros quitutes que só você sabe
fazer?
- Claro meu filho, vá selar seu cavalo que daqui a pouco levo-lhe a cesta.
- Obrigada Thérese.
Henry saiu alegre e cumprimentou todos os empregados, sorrindo.
Todos gostavam dele e o fitaram felizes.
Logo Thérese chegou com uma linda cesta e com uma bela toalha.
- Tome meu filho, divirta-se e tenha cuidado!
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Henry saiu cavalgando, segurando a cesta e louco para encontrar Isabelle.
Sabia que não haviam combinado nada, mas sentia que ela estaria a sua espera na
cachoeira.
Assim que desceu do cavalo, avistou Isabelle sentada embaixo de uma
árvore, lendo um livro de poesias. Ela estava vestida com um vestido simples, porém
belo, de cor lavanda, um verde bem claro como a água da cachoeira pela manhã.
Ouvindo o barulho do cavalo, Isabelle levantou os olhos para o seu amado,
levantou-se e se jogou nos seus braços. Os dois se beijaram profundamente,
sentindo os seus corpos tremerem de ansiedade e paixão.
- Trouxe um lanche para nós [falou Henry].
- Que maravilha! Não comi nada pela manhã e saí correndo para cá, com a
esperança em vê-lo novamente.
- Eu senti a mesma coisa minha querida.
Os dois arrumaram a bela toalha no chão, colocaram a cesta de lado e
Henry deitou a cabeça de Isabelle em seu colo, tocando-lhe os cabelos com carinho.
- Não consegui dormir á noite. Não parei de pensar em você.
- Nem eu meu amor!
- Isabelle, eu a amo mais do que tudo nesse mundo.
- Eu também o amo Henry.
Henry baixou a cabeça e tocou em seus lábios a princípio, delicadamente,
porém, a urgência de seus corpos pedia mais. Sua língua forçou a boca de sua
amada a abrir-se mais e ele explorou-lhe a boca, a língua, os dentes.
Seu corpo foi descendo sobre o de sua amada e ambos se perderam no
tempo. Não havia nada que impedisse os dois de se amarem, o que importava era o
sentiam.
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Henry desatou o nó do laço que prendia o vestido de Isabelle na frente e
deslizou seu dedo delicadamente pelos seios de Isabelle. Seus seios eram brancos
como a neve, os bicos eram rosados e delicados. Estavam duros, implorando por
seus lábios. Henry tocou-os com a boca, fazendo Isabelle se contorcer embaixo do
seu corpo.
Sentou-a à sua frente e virou-a de costas para ele. Teve paciência de
desabotoar os pequenos botões perolados que desciam por sua cintura. Por baixo
do vestido, ela usava um conjunto simples, porém de muito bom gosto, combinando
com o vestido.
Logo os dois estavam nus e se amando. Quando o corpo de Henry
penetrou-a, Isabelle soltou um pequeno e imperceptível grito, mas logo estava
vibrando de prazer.
Ele beijou-lhe o corpo todo e passaram a tarde inteira fazendo amor. Os dois
se alimentaram e foram para a cachoeira, nus, onde mais uma vez, se amaram.
Antes de se despedirem, Henry colocou uma corrente de ouro no pescoço de
Isabelle com uma delicada cruz cravejada de rubis, o que fez os olhos dela se
encherem de lágrimas.
- Sei o quanto você gosta de ir à igreja e a importância do significado da cruz
pra você. Esse colar foi de minha avó e faz parte da minha herança, onde prometi ao
meu avô, dar à mulher que chegasse à altura de minha avó e que eu amasse muito.
- Oh meu amor, muito obrigada. É lindo! Vou guardar para sempre! Te amo!
- Também te amo meu amor!
Beijou-lhe a boca, se abraçaram e se despediram, cada um indo para sua
casa.
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Isabelle chegou em casa feliz e sua avó sorriu-lhe, dando um abraço
carinhoso na neta. Ela se deitou e ficou olhando para o teto do seu quarto,
relembrando os momentos de felicidade, vividos com Henry.
Por outro lado, Henry chegou em casa cantarolando, surpreendendo Louise,
que descia vagarosamente as escadas.
- Posso saber porque tanta felicidade?
- Nada não mãe, é que o dia está lindo hoje.
- Sei! (ela respondeu desconfiada)
- Vou tomar um banho e nos vemos no jantar.
- Está bem, pois eu quero mesmo falar com você sobre a festa de ontem.
Estremecendo, Henry se virou e subiu as escadas correndo, entrando em
seu quarto, preocupado com a conversa que sua mãe queria ter com ele.
Após um breve descanso, Henry desceu e encontrou sua família esperando-
o para o jantar. Todos estavam em silêncio ao redor da mesa quando ele se sentou.
- Boa noite mãe, pai, boa noite Charlote.
- Boa noite filho.
- Boa noite meu irmão.
- Então, vamos jantar?
Thérese mandou servir a mesa e ficou ali parada ao lado, esperando o jantar
terminar, para que nada lhes faltasse.
Todos jantaram em silêncio, pois Louise estava mal-humorada.
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Ao final do jantar, ela colocou os talheres em cima do prato, se virou para
Henry e então fez a pergunta esperada:
- Então, quem é a moça que passou a noite inteira com você ontem no
baile?
- Mãe, é uma moça que conheci outro dia.
- Não podemos saber a que família ela pertence?
- Ela está passando férias com a família de uma prima, ninguém aqui a
conhece.
- É? E qual o nome da família dessa prima?
Completamente nervoso, Henry inventou um nome na hora.
- É a família Bayard, mãe.
- Os Bayard, de origem nobre?
- Não sei mãe, mas creio que não.
Batendo com força o copo na mesa, Louise se levantou, assustando a todos.
- Como não? Como você passa a noite inteira dançando com uma moça e
não sabe dizer a que família ela pertence?
- Louise, não precisa exagerar. Nosso filho apenas dançou com uma moça,
isso não significa nada não é filho?
Todos os olhares se voltaram para o rosto de Henry, que, vermelho,
gaguejou uma resposta inaudível.
- O que você disse Henry? [perguntou a mãe]
22. 22
- Nada mãe.
- Sim, você disse. Repita a resposta.
- Está bem mãe. Eu disse que sim, que significou muito pra mim. Eu estou
apaixonado por aquela moça.
- E como pode estar apaixonado por uma moça após conhecê-la apenas na
noite de ontem?
- Eu não a conheci ontem no baile mãe.
- Como não? Então esse interesse vem de há mais tempo?
- Sim, vem.
- Então quero saber a qual família ela pertence, se eles têm fortuna e,
principalmente, se ela é uma moça certa para ficar com o meu filho.
- Mãe! [Henry levantou-se nervoso]. Sou eu quem devo decidir com quem
ficar ou não. Eu sempre disse que me casaria por amor e dinheiro aqui não me
importa. Já temos o necessário!
- Você está louco? Isso está fora de questão. Ou você me diz quem é esta
moça ou nunca mais a verá.
- Não sou mais uma criança mãe. Eu a amo e quero me casar com ela.
- Meu filho.... [gaguejou Philippe]
- Nada disso! Se ela não tiver nome nem fortuna, não a verá mais e ponto
final.
Louise falou isso, atirou o copo contra a parede da sala de jantar, fazendo
um barulho ensurdecedor e subiu as escadas gritando palavras de baixo calão.
- Filho, quem é esta moça? [perguntou seu pai preocupado]
Henry olhou para o lado onde Thérese estava em pé, olhando para o chão.
- Pai, vamos falar sobre isso na biblioteca.
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- Está bem meu filho, vamos!
Charlote olhou para o irmão e desejou-lhe boa sorte, porém, seu rosto
estava apreensivo quando subiu para o quarto, rezando para que o irmão
conseguisse convencer os pais do seu amor.
- Então meu filho, agora a conversa é de pai para filho. Quem é esta moça?
- Pai, eu vou contar-lhe tudo, mas você promete me ouvir até o fim?
- Claro. Do que se trata?
Foi então que Henry contou ao pai como conheceu Isabelle e como se
apaixonou por ela. O semblante do seu pai foi se fechando, preocupado. Henry
logicamente não contou que fizera amor com Isabelle, apenas como se amavam e
como queria se casar com ela.
- Filho, você conhece a sua mãe. Ela irá infernizar a vida desta moça.
- Sim pai, eu sei. Mas se você estiver do meu lado, eu enfrento ela.
- Você sabe que não gosto de contrariar a sua mãe. [Seu pai falou isso,
abaixando o rosto, envergonhado].
- Sim pai, mas é a minha felicidade que está em jogo. Eu quero me casar
com Isabelle. Eu a amo pai.
Suspirando, seu pai se levantou, andou de um lado para o outro nervoso e
falou.
- Não sei o que fazer meu filho. Sua mãe vai ficar uma fera e quando souber
quem é essa moça, não só vai acabar com a vida dela, como a de sua família
inteira. Você pode parar para pensar um pouco nisso e esquecer o sentimento?
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- Não pai, não posso! Nós nos amamos e isso basta.
- Você é muito novo ainda meu filho. Pode ser apenas uma paixão. Amanhã
você pode conhecer outra moça, se apaixonar, se casar, ter filhos. Porque não
espera um pouco até ter certeza dos seus sentimentos?
- Pai! Eu tenho certeza do que sinto e ela também. Foi amor á primeira-vista.
Eu amo a voz dela, suas mãos, seus lábios, seu corpo, seu rosto, seus cabelos, seu
olhar. Ela faz meu coração vibrar. Ela me faz sorrir mesmo não estando com ela. Ela
faz o meu mundo ser melhor. Ela me faz sentir homem. Ela traz cores à minha vida.
Ela é o sol que ilumina o meu dia. Eu a amo como nunca amei ninguém na vida pai.
Seu pai sorriu consigo mesmo, lembrando do dia que vira Louise pela
primeira vez. Também fora amor à primeira-vista, mas assim que se casaram,
Louise se transformara numa mulher fria e materialista.
Procurando esquecer esses pensamentos, ele falou:
- Meu filho, eu sei como se sente, mas você terá uma dura e longa batalha
pela frente. Só espero que você faça o que é melhor para você, mas evite bater de
frente com sua mãe, pois isso pode acabar com a nossa família.
- Vou pensar numa maneira da mamãe aceitar Isabelle pai.
- Está bem meu filho. Boa sorte!
Henry foi para o quarto e mais uma vez, não conseguia tirar Isabelle de sua
cabeça. Ainda sentia o gosto de seus beijos. Ainda podia sentir o calor do seu corpo
na palma de sua mão.
25. 25
PARTE IV
Três meses se passaram. Henry e Isabelle ainda se encontravam ás
escondidas todos os dias na cachoeira. As únicas pessoas que sabiam do amor dos
dois era a avó de Isabelle, Charlote e seu pai, Philippe, que fingia não saber de
nada.
Louise, vendo que seu filho não lhe daria informações, contratou um
empregado e pagou-lhe muito bem para descobrir quem é a moça. Este seguiu
Henry e, chocado, descobriu Isabelle junto ao filho de seus patrões. Seu corpo
estremeceu, com pena da moça e dos pais. Não sabia o que fazer, mas não podia
mentir para sua patroa.
Foi com tristeza e pesar que se dirigiu ao castelo. Sabia que algo de muito
grave estava para acontecer, mas não podia fazer nada. Mandou avisar sua patroa
que havia chegado com informações e narrou-lhe toda história, fazendo Louise jogar
a taça de vinho na parede, nervosa.
Logo, Louise estava quebrando a sala inteira e Charlote desceu as escadas
correndo, preocupada com o barulho. Thérese também chegou, assustada.
- Eu mato aqueles dois! [rosnou Louise] Como Henry pode fazer isso
comigo? Como?
Jogando a porcelana caríssima no chão, Louise gritava. Charlote mandou
Thérese chamar seu pai e logo Philippe imaginou que a hora havia chegado. Henry
entrou naquele momento, e, assustado, pediu para Thérese deixá-los a sós.
- Não! Ela fica! Ela vai ter que ouvir tudo que eu tenho a dizer.
26. 26
- Não mãe, primeiro conversaremos a sós, depois falamos com Thérese.
Saia Thérese, por favor.
Thérese saiu tremendo, pensando no porque Louise disse que ela precisava
ouvir a conversa. Não estava entendendo nada.
- Mãe, por favor, não faça isso!
- Se você continuar se encontrando com essa moça Henry, eu juro que me
mato!
- Mãe, não fale assim!
- Henry, pela última vez. Ou você desiste dessa moça ou eu faço da vida de
todos deles um inferno. Vou mandar Thérese e o seu marido embora com sua mãe e
sua filha!
- Não mãe! Não precisa ser assim. Eu a amo! Por favor, entenda!
- Eu não tenho que entender nada! Eles não têm estirpe, dinheiro, nome,
nada!
- Mas nós não precisamos disso mãe, já temos tudo isso.
- Já pensou no que as pessoas vão dizer?
- Não importa o que as pessoas falem mãe, eu a amo e eu vou me casar
com ela.
Philippe, que até então estava calado, resolveu falar:
- Louise, escute primeiro o que seu filho tem a dizer e vamos conversar
decentemente.
- Cale a boca! Você não sabe de nada! Eu é que tenho que me preocupar
com esta família e com o nosso nome. Você é um incompetente!
- Não é bem assim Louise...[respondeu Phillippe, com o rosto enrubescido]
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- Não? Porque acha que me casei com você? Por amor? Não! Foi por
dinheiro, pelo nome. (ela falou rindo com escárnio)
Philippe ficou branco, sentiu seu coração se apertar e calou-se.
- Mãe, não fale assim com o papai! (falou Charlote, nervosa)
- Eu falo como quiser com todos vocês! [Louise jogou outro copo na parede].
- Você decide. Ou desiste desta moça e vai embora agora para Paris, ou eu
coloco todos no olho da rua e sem direito a um centavo. Decida-se!
- Não mãe. Eu vou embora sim, mas é com Isabelle. Vamos nos casar e
ponto.
- Ótimo. Foi você quem escolheu. [Louise falou sorrindo e saiu da sala].
Charlote abraçou o irmão, afagando seus cabelos e chorando.
- Meu irmão, a gente sabia que isso podia acontecer. O que vai fazer agora?
- Amanhã vou buscar Isabelle e vou embora com ela e sua família para bem
longe daqui.
- Boa sorte meu irmão, que Deus esteja com você.
Henry subiu as escadas triste, nervoso e chateado. Sua mãe sempre fazia
aquela cena. Desde pequeno, ele só tinha aquelas lembranças o assombrando. Não
sabia mais o que fazer, só sabia que amava Isabelle e nada no mundo poderia
separar os dois.
Passou a noite em claro em sua cama, esperando o dia amanhecer.
Porém, o que Henry não contava era que sua mãe, antecipando seus
passos, contratou vários homens para expulsarem Thérese, sua mãe, seu marido e
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sua filha do castelo, levando-os para bem longe dali, prometendo-lhes deixar-lhes
vivos, desde que não voltassem mais aos Alpes franceses.
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PARTE V
Thérese não estava entendendo nada quando os homens bateram à sua
porta com a oferta de Louise. Chamou sua mãe, seu marido e filha para
conversarem e foi então que Isabelle contou-lhe tudo.
Chorando, arrumaram suas coisas e partiram numa charrete doada por
Louise. Isabelle estava inconsolável e durante toda a noite, chorou no colo de sua
avó, enquanto seguiam viagem para bem longe. Ao amanhecer, os homens fizeram
a família tomar um barco e deram-lhe bastante dinheiro para que começassem vida
nova em outro lugar.
Enquanto isso, Henry acordou assustado, com um mau pressentimento.
Levantou-se, tomou um banho, vestiu-se e foi até a cachoeira. Sentou-se na pedra,
onde esperava Isabelle todos os dias. Sorriu vendo seus nomes riscados na pedra
da cachoeira, onde fizeram amor pela primeira vez.
Esperou por duas horas e, nervoso, cavalgou direto para a casa de Isabelle,
onde constatou que não havia ninguém. Foi para sua casa e procurou por Thérese.
Emilie, sua prima, estava sentada á mesa tomando café e avisou que Thérese não
havia ido trabalhar.
Henry subiu as escadas correndo e entrou no quarto de sua mãe, batendo a
porta com força.
- O que foi que a senhora fez com eles mãe? Me diz! Onde está Isabelle e
sua família, diga-me!
- Saia já do meu quarto seu fedelho! Sabe que não gosto de ser acordada e
muito menos a essa hora.
- Vamos mãe, diga-me. O que fez à família de Isabelle?
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Sorrindo com sarcasmo, Louise respondeu:
- Eu apenas ofereci dinheiro a eles. Eles aceitaram e partiram.
Totalmente descontrolado, Henry segurou sua mãe pelos ombros, gritando
com ela.
- Mentira! Eles não fariam isso. Isabelle me ama!
- Ela te ama tanto que aceitou a primeira oferta que fiz para ela ir embora.
Ela só queria isso de você meu filho. Agora pare de me chacoalhar e vá viver sua
vida. Esqueça aquela moça pobretona!
- Eu te odeio e a partir de hoje, nunca mais vou chamar você de mãe. Não
quero mais viver aqui com vocês. Vou embora desta casa hoje mesmo.
- Você não vai a lugar nenhum Henry. Você se acostumou à boa vida que
leva aqui. Você não sabe fazer nada. [falou sarcasticamente Louise]
Henry passou pelo pai e Charlote, parados à porta, chocados com o que
ouviram.
- O que você fez com eles Louise? [perguntou Philippe]
- Ora, só ofereci dinheiro para eles irem embora e eles foram sem retrucar.
- Eu conheço você Louise. Alguma você aprontou. Só espero que não seja o
que eu estou pensando, porque se for, você perdeu nosso filho para sempre.
Philippe saiu do quarto, seguido de Charlote.
Henry pegou o cavalo e saiu correndo em direção às montanhas, chorando
e gritando de ódio. Os empregados viram seu desespero e logo entenderam que
tinha algo a ver com a partida da família de Therése.
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Enquanto isso, Isabelle atravessava o mar sem saber pra onde ia e durante
sete dias e sete noites, passou mal, enjoando com o balanço do barco,
emagrecendo bastante e chegando ao final da viagem, muito abatida e muito
doente.
Seus pais, tristes com a situação da filha, só tiveram força graças à mãe de
Thérese, que não os deixava desanimar. Logo chegaram ao Brasil, uma terra que
nunca ouviram falar. Em poucos dias, Antoine comprou uma fazenda de café com o
dinheiro que Louise lhes dera e recomeçaram a vida.
Isabelle só ficava de cama, abatida, vomitando e perdendo muito peso,
visivelmente doente. Sua avó, preocupada com o seu estado, um dia sentou-se ao
seu lado na cama, e, afagando-lhe os cabelos, falou:
- Minha neta querida, você precisa se recuperar rapidamente! Tem uma vida
que precisa de você.
Isabelle respondeu: - Não vó, ninguém precisa de mim. Eu só queria o
Henry. Como vou viver sem ele??
- Minha filha, existe uma vida dentro de você, ou ainda não percebeu? E é
ele quem depende agora de você ou então o perderá.
- O que a senhora disse, minha avó?? (Isabelle perguntou arregalando os
olhos e se sentando na cama)
- Você está grávida minha filha. Você precisa se alimentar, lutar e levantar
desta cama para que seu filho nasça com saúde, afinal, ele é fruto do seu amor com
Henry e ele não tem culpa do que a mãe dele fez com a gente.
Começando a chorar, ela responde:
- Vó, o que eu faço agora? Eu amo o Henry. Como vou poder viver sem ele?
- Você pode não viver sem ele minha filha, mas agora tem um pedaço dele
dentro de você e precisa ser forte para que este bebê nasça saudável e trate ele
com tanto amor, como ao pai.
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- Você está certa Vó. [passando a mão, carinhosamente pela barriga,
Isabelle chorou muito no colo da avó]. Eu vou tentar me alimentar e sobreviver,
porque um dia ainda acredito que eu e Henry vamos nos encontrar.
- Sim minha filha, vão sim. Eu acredito nisso!
Apertando a pequena cruz do colar que Henry lhe deu na cachoeira, Isabelle
chorou até dormir novamente, porém, agora, sentindo vontade de viver por seu filho.
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PARTE VI
Um ano se passou. Henry não desistiu de ir atrás de Isabelle, porém, os
homens não deixaram nenhum rastro da família. Ele se tornou um homem calado,
deixou a barba crescer, passou a se alimentar o mínimo possível, passando a ficar
abatido, magro, com o corpo arqueado como se carregasse muita tristeza, além do
semblante sempre triste.
Charlote se casara com Etiénne e se mudara do castelo. Philippe mal falava
com Louise, que passou a beber cada dia mais. Desde o dia que Isabelle sumira,
Henry não se sentava mais à mesa com a família e nunca mais falou com sua mãe.
Esta se mostrava mais irritadiça. A enxaqueca passara a ser diária e ela
raramente saía do quarto. Todos os dias Henry ia até a cachoeira e se deitava na
pedra que havia feito amor com sua Isabelle. Não sabia onde estava a sua amada,
mas sabia que sua mãe era culpada por toda a sua tristeza. Também mal falava
com o pai, pois achava que ele poderia ter pulso forte, mas ele se mostrara um
homem fraco.
Seus olhos traziam toda tristeza que ia em seu coração e a única coisa que
o mantinha vivo, era a esperança de um dia voltar a ver Isabelle.
Enquanto isso, Isabelle deu à luz uma linda menina, de nome Julienne, que
significava “cheia de juventude”. Sua pele era branca como a da mãe e seus cabelos
pretos, lisos e brilhantes. Mas seu sorriso e olhos eram do pai. Isabelle transferiu
todo amor que sentia por Henry para a filha deles, que era a prova do amor dos dois.
Em nenhum momento, esquecia Henry e continuava a ter esperança de um dia
voltar a vê-lo.
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Seu pai havia se tornado um próspero fazendeiro de café e muitos rapazes
tentaram cortejar Isabelle. A história combinada pela família era que Isabelle perdera
o marido e, grávida, haviam vindo para o Brasil para recomeçar a vida. Ela não
aceitava a corte de nenhum homem, pois, em seu coração, só havia lugar para
Henry.
Quando Julienne contava com quase cinco anos, ela só adormecia se sua
mãe contasse a história de como conhecera seu pai até o dia em que foram
expulsos de casa pela sua avó.
Isabelle deitava ao seu lado na cama e contava toda história da cachoeira e
do castelo na França. Julienne amava essa história e sorria até dormir. Sempre que
lhe perguntavam o nome do seu pai, ela enchia a boca pra falar: Henry.
Enquanto isso, no Castelo, Louise estava muito doente. Mal conseguia
andar. Seu fígado estava acabado e sua pele se tornara acinzentada com aspecto
doentio. Philippe, com pena da esposa, lhe ajudava no que podia, pois a doença
amansara um pouco o coração daquela mulher que tanto amou.
- Como está Henry? (ela perguntou-lhe)
- Do mesmo jeito... calado... mal se alimenta e vive como um zumbi.
- Você sabe que eu fiz o que achava melhor para todos não é?
- Não Louise, você fez o que achava melhor para você.
Chorando, Louise tentou falar alguma coisa, mas o orgulho ainda era mais
forte.
Mais tarde, Philippe foi até o quarto de Henry e tentou convencer o filho a ir
até o quarto da mãe, mas, irredutível, Henry se negou e encerrou a conversa. Ele se
tornara um homem triste e duro.
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- Filho, você está agindo como sua mãe, está sendo irredutível.
- Pai, enquanto eu não souber o que ela fez com Isabelle e sua família, eu
não quero vê-la mais.
- Então vá conversar com ela. Quem sabe ela acabe te surpreendendo?
- Não sei pai, prefiro não ir, mas vou pensar um pouco.
- Está bem meu filho, boa noite.
Sem responder, Henry virou-se para o lado e ficou pensando no que Isabelle
poderia estar fazendo.
- Será que ela me esqueceu? Será que ela se casou?
Com esses pensamentos, subiram-lhe lágrimas aos olhos e ele chorou até
dormir, cansado, como há muito tempo vinha acontecendo.
Dois anos depois, o médico avisara à família que Louise não teria muito
mais tempo de vida e nem isso amoleceu o coração de Henry, mas ele foi até o seu
quarto, com a esperança que sua mãe pudesse lhe dizer o paradeiro de Isabelle.
Assim que entrou no quarto, os dois se assustaram um com o outro. Louise
estava magra, envelhecida, com o cabelo ralo e sem brilho e com a pele cheia de
rugas. Por outro lado, Henry estava com o corpo mais curvado, Ainda não tinha 30
anos, mas parecia ter mais idade. A barba por fazer lhe dava um aspecto doentio, e
os cabelos apresentavam alguns fios brancos, que claramente, era sinal da tristeza
que ela via em seus olhos.
- O que eu fiz com você meu filho?
- Responda você! (ele falou com o olhar duro)
- Meu filho, me perdoe. Eu fiz o que achava melhor para a nossa família.
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- Não mãe. Você fez o que achava melhor para você. Eu amo Isabelle e
nunca quis outra mulher. Não era apenas uma paixão. Era amor! E você conseguiu
me transformar nisso que sou hoje.
- Meu filho, me perdoe! (ela falou chorando)
- Então me diga mãe, pra onde você mandou Isabelle?
- Abra a gaveta do meu gabinete, por favor, filho. A primeira á esquerda.
Retire a gaveta do móvel. Ao fundo, tem uma gaveta falsa. Lá dentro tem um papel
com todos os detalhes de tudo que aconteceu e para onde eles foram.
Nervoso, Henry se levantou e fez o que a mãe lhe dizia. Achou um papel
amarelado onde estavam os dados das passagens de barco e da cidade do Brasil
para onde foram levadas Isabelle e sua família. Suas mãos tremiam muito.
- Está aí meu filho. Tomara que não seja tarde demais. Eu sei que não fui
uma boa mãe e que agora é tarde para pedir perdão, mas quero dizer que, se eu
pudesse voltar atrás, eu faria tudo diferente. Eu fui obrigada a me casar com um
homem que não amava, por causa de nome e dinheiro. Isso me deixou fria e
amargurada e eu descontei isso em cima da minha família. Me perdoe meu filho. Se
ainda puder, vá atrás de Isabelle e peça-lhe perdão por mim.
- Mãe, muito tempo se passou. Eu não vou deixar a amargura tomar mais
conta da minha vida. Não sei se consigo te perdoar, mas eu sei que sinto pena por
nunca ter visto a senhora ser feliz e fazer meu pai feliz.
Se eu não conseguir encontrar Isabelle, não sei o que vai ser da minha vida.
Acho que a senhora poderia ter feito diferente e isso ninguém mais pode mudar.
Agora eu vou sair, porque vou atrás do amor da minha vida. (ele falou e saiu
correndo do quarto da mãe)
Louise ficou sozinha em seu quarto, chorando, amargurada por todos os
erros cometidos em sua vida. Por sua causa, não tinha sido feliz e não tinha feito
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seu marido nem filhos felizes. Só esperava que seu filho pudesse encontrar o seu
amor e serem felizes, tornando aquele castelo num lugar feliz.
Henry arrumou uma maleta correndo e pediu para o cocheiro partir o mais
rápido possível para tomar o barco ainda aquela noite. Ia tentar de tudo para
encontrar o amor da sua vida. Oito anos se passara! Tomara que Isabelle ainda
estivesse esperando por ele.
Do outro lado do mundo, no Brasil, Isabelle caminhava na praia com sua
filha. Aos sete anos, Julienne era a razão do seu viver, a alegria da sua vida, porém,
seu coração ainda clamava por Henry todos os dias e piorava à noite, quando
dormia, chorando, pensando em quanto se amaram um dia.
Com apenas 26 anos, ela ainda era uma bela moça. Tinha engordado um
pouco, mas ainda conservava a beleza que um dia conquistara Henry. Seus
cabelos, agora um pouco mais curtos, combinavam mais com seu rosto. Seus olhos
não traziam mais o brilho que existira quando conhecera seu amor. Porém, havia
uma serenidade em seu rosto, que lhe trazia um ar mais maduro.
Pegou sua filha pelas mãos e foram para casa. Dera-lhe um banho e a
colocara na cama, não sem antes lhe contar a história da cachoeira.
Fazia muito calor aquela noite. Isabelle decidiu sair para dar um passeio na
praia. Ali, a água estava morna e ela resolveu tomar um banho. Despiu-se, entrando
no mar somente com o colar que Henry lhe dera. Jamais o tirara!
Mergulhou, olhando para a lua cheia que iluminava sua pele branca.
Ouviu um barulho às suas costas bem na hora que a lua escondeu-se atrás
das nuvens, assustando-lhe. Sentia que havia alguém ali, podia ver-lhe a sombra,
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mas não conseguia distinguir quem era. Nervosa, saiu da água, enrolou-se à tolha e
perguntou quem era. A pessoa continuava calada.
Decidida a sair correndo, naquele momento a lua saiu de trás das nuvens,
iluminando a face do homem que a olhava com lágrimas nos olhos. Isabelle achou
que estava sonhando e sentiu seu coração bater acelerado.
Apenas sussurrou um nome: Henry.
Antes que pudesse pensar, sentiu o abraço daquele que era o homem da
sua vida, o pai da sua filha, o homem que ela jamais esqueceria. Os dois choravam
emocionados. Após algum tempo, que parecia uma eternidade, ela perguntou, em
prantos:
- Henry meu amor, é você mesmo? [tocando seu rosto, sem acreditar]
- Isabelle shhh não fale nada, apenas me abrace, por favor, por favor!
- Como você me encontrou?
- Isabelle, eu te amo tanto! Eu achei que fosse morrer sem você meu amor.
- Eu também!
Ambos se abraçaram e fizeram amor ali na praia. Seus corpos se
procuravam com sofreguidão. Queriam encontrar uma maneira de matar todo o
desejo e amor de tantos anos afastados. Henry deitou-a na areia e montou em cima
do seu corpo, com selvageria a que nenhum dos dois estava acostumado, mas
naquele momento, ambos sabiam que somente daquela maneira, podiam se sentir
satisfeitos.
Ele penetrou-lhe o corpo com força, fazendo um gemido de dor escapar da
garganta de Isabelle, mas assim que a beijou, sentiu o corpo dela sendo jogado
contra o seu numa entrega cheia de desejo. Ele lambeu-lhe o pescoço molhado de
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suor misturado à água salgada do mar. Percorreu seu corpo com a boca e mordeu-
lhe o seio com força. Ele sentia tanta raiva por aquele tempo todo afastado de sua
amada que a urgência do sexo fazia-a machucá-la, mas ela sentia o mesmo e não
se importava com a dor misturada ao desejo de tê-lo para sempre dentro de si.
Exaustos, se amaram até o início do amanhecer e só então, sentaram-se
para conversar. Henry lhe contou toda história, como a procurara por todos esses
anos.
Quando o sol nasceu no horizonte, os dois se levantaram e rumaram para a
casa de Isabelle. A empregada já colocava o café da manhã à mesa. Sua avó
estava na cozinha conversando com o jardineiro e seus pais logo apareceram para
tomar o café. Foi quando deram de cara com Isabelle, de mãos dadas com Henry.
Seus olhos encheram-se de lágrimas e, calados, o abraçaram, dando-lhes
as boas-vindas.
Após um tempo, sua avó, emocionada, falou:
- Vamos Isabelle. Leve Henry para cima. Você sabe o que precisa fazer.
Sorrindo, Isabelle respondeu:
- Sei sim Vó. (ela sorriu misteriosa)
- Vamos meu amor, quero lhe apresentar a uma pessoa.
Nervoso, Henry subiu com Isabelle, que abriu a porta do quarto de Julienne.
Ela dormia abraçada a uma boneca de pano feita pela bisavó. Emocionado, Henry
olhou para Isabelle, fazendo a pergunta apenas com os olhos.
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Isabelle fez que sim com a cabeça e ambos se sentaram à cabeceira da filha
e afagaram-lhe o cabelo.
- Ela é a sua cara! (ele falou baixinho, com lágrimas nos olhos, passando os
dedos pelo rostinho delicado da filha)
- Ela tem o seu sorriso e sua boca meu amor.
- Ela é Linda Isabelle. Muito obrigada por isso meu amor!
- Obrigada você Henry. Sem ela, eu não teria resistido à viagem e muito
menos à saudade que senti de você.
- Você sabia que estava grávida quando foi embora?
- Não meu amor. Só descobri porque passei muito mal na viagem de barco e
minha avó foi a única que desconfiou. Foi ela que me fez resistir e cuidar da nossa
filha.
Julienne, ouvindo as vozes dos dois, abriu os olhinhos, esfregou os dois com
as mãozinhas pequeninas e olhou, primeiramente para a mãe, depois para o pai.
- Mamãe, esse é o meu papai?
- É sim minha filha.
- Finalmente você voltou papai! [Julienne falou com a voz sonolenta e
passou os bracinhos em volta do pescoço do pai]
- Sim minha filha, finalmente! O papai agora voltou e nunca mais vai embora!
Julienne pulou no colo do pai e disse-lhe que sempre o havia esperado com
a mãe. Que ela não dormia sem ouvir a história da cachoeira e do colar com a cruz
que ele havia lhe dado e de como ela havia sido gerada com tanto amor.
41. 41
Emocionados, Henry e Isabelle abraçaram Julienne e ficaram deitados com
ela na cama, trocando carinhos, enfim, como uma família.
Tanto tempo perdido. Tanta tristeza a troco de que? Do orgulho de alguém
que só pensava em si mesmo e no dinheiro? Tantos desencontros, tantas lágrimas.
E se ele não conseguisse encontrar Isabelle? Nem saberia que tinha uma filha!
42. 42
PARTE VII
Philippe levou a carta até o quarto de sua esposa. Ela mal respirava. A
qualquer momento, partiria daquele mundo. Sentou-se ao seu lado e contou-lhe que
Henry havia encontrado Isabelle e que tinham uma filha de quase oito anos de idade
e que se chamava Julienne.
Emocionados, deram-se as mãos. Eloise pediu perdão ao marido, suspirou e
fechou os olhos pela última vez.
Philippe chorou observando a esposa. Tanto tempo perdido por nada. Tanta
tristeza, amargura. O que o orgulho faz com uma pessoa, com uma família? O
orgulho, a arrogância, o preconceito.
Quem já não – ao ser tomado pelo ímpeto e na certeza de estar fazendo a
coisa certa – feriu alguém que? Seja numa resposta “atravessada” ou numa atitude
grosseira, contribuímos de alguma forma com a divisão ou o isolamento das
amizades. Passado algum tempo, já com a “cabeça fria”, percebemos que
procedemos de maneira equivocada – ferindo pessoas ou até mesmo nos ferindo.
Refletir sobre o nosso ato nos ajuda a perceber o momento em que agimos
precipitadamente; e dessa reflexão vem o remorso, o qual nos prepara para o
pedido de desculpas.
Reconhecer que fomos precipitados nos argumentos, significa, muitas
vezes, humilhar-se e se fazer pequeno, reconhecer que errou. Perdoar ou liberar
perdão não é ter “amnésia” sobre o ocorrido, mas sim, disponibilizar-se a
restabelecer o relacionamento abalado.
43. 43
Do remorso ao perdão há uma pequena distância, mas o espaço é grande o
bastante para residir o orgulho. Sentimento este que nos tentará convencer de que o
ato de se desculpar ou reconhecer seu erro é atitude dos fracos.
Por outro lado, infelizmente, há pessoas que não aceitam as nossas
desculpas. Preferem romper com os laços afetivos em vez de crescer e amadurecer
por meio dos exercícios apresentados pela vida.
Insistem em manter a irredutibilidade e a prepotência, que pensam possuir,
em vez de dar o passo que romperá com as cadeias que as prendem. Talvez
querendo cumprir a lei do “olho por olho, dente por dente”, esperam por um
momento de revanche. Enquanto isso, desperdiçam tempo e amargam seus dias,
remoendo o que já está resolvido para aquele que se dispôs a se desculpar.
A vida é muito curta para se gastar o precioso tempo com comportamentos
que não trazem a sustentabilidade de nossas convivências. Pedir ou conceder
perdão não nos exige mais do que podemos agüentar. Existem muitas pessoas que
gastam muito tempo buscando motivos para justificar suas infelizes atitudes,
fazendo-se de injustiçadas, em vez de adotar gestos de humildade e agir de maneira
diferente. Na verdade, elas são vítimas do orgulho, que mata pessoas e
sentimentos!
Mais importante do que lembrar que devemos desculpar, é fazer uso da
reflexão e reconhecer que ninguém está acima dos lapsos e erros. Pois aquele que
errou hoje, poderá ser você amanhã…
Não percamos tempo monopolizando picuinhas, ressentimentos ou retendo
perdão. Se uma situação especial o faz refletir, levando-o ao ato da reconciliação,
peça ou dê o perdão e continue a viver com a experiência adquirida.
44. 44
Situações mal resolvidas afetam toda nossa vida. Talvez por isso existam
ainda alguns problemas não “equacionados” em nossas vidas, pois, esses, são
reflexos dos fragmentos dos “elos” que deixamos se perder ao longo do caminho. E
esses elos nem sempre serão refeitos.
Henry recebeu a notícia da morte de sua mãe com certa tristeza. Triste pelas
atitudes dela e mais triste ainda por ela não ter conhecido a neta, que era uma
menina linda, inteligente, doce e educada. Julienne era o resultado do amor
incondicional que sentia por Isabelle.
Juntos, resolveram voltar ao castelo para morar com o pai de Henry. A
família de Isabelle entendeu e prometeu-lhes uma visita sempre que pudessem.
Assim que chegaram ao castelo, Henry apresentou Isabelle e Julienne ao
pai, que, emocionado abraçou a nora e neta. Charlote estava lá com o marido
Etiénne e o filho Alain, de cinco anos, para receber sua cunhada e sua sobrinha.
Passaram a tarde inteira conversando e antes de irem para a cama,
resolveram ir até a cachoeira e se amaram novamente em cima da pedra que ainda
trazia o nome dos dois. A pedra da cachoeira onde eles um dia se conheceram e
descobriram o amor puro e verdadeiro.
Prometeram levar Julienne até lá no outro dia e foram descansar, prontos
para começarem uma nova vida.