O documento descreve a história inicial da siderurgia no Brasil, desde a chegada dos portugueses até o início do século XX. Em 1) 1554, o Padre José de Anchieta descobre depósitos de minério de ferro em São Paulo. Em 2) 1587, Afonso Sardinha constrói a primeira fábrica de ferro no Brasil em Sorocaba. A siderurgia brasileira cresce no século XIX com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808.
6. Quando as terras brasileiras foram descobertas, as
práticas mercantilistas imperavam na Europa. Os
portugueses chegaram ao Brasil com a esperança da
extração de metais como ouro, prata e bronze. No entanto,
nenhum tipo de metal, nem mesmo ferro, foi encontrado
em um primeiro momento. Os poucos ferreiros que vieram
para o Brasil utilizavam o ferro originário da Europa para
produzir os instrumentos usados na lavoura.
Em 1554, o padre jesuíta José de Anchieta relatou,
em um informe ao rei de Portugal, a existência de
depósitos de prata e minério de ferro no interior da
capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo).
Padre José de
Anchieta
7. Quem primeiro trabalhou na redução desse
minério de ferro foi Afonso Sardinha. Em 1587, ele
descobriu magnetita na atual região de Sorocaba,
no interior de São Paulo, e iniciou a produção de
ferro a partir da redução do minério. É a primeira
fábrica de ferro que se tem notícia no Brasil.
As forjas construídas por Sardinha operaram
até a sua morte, em 1616. Após essa data, a
siderurgia brasileira entrou em um período de
estagnação que durou até o século seguinte.
Afonso Sardinha
Magnetita
8. Foi a descoberta de ouro no atual Estado de
Minas Gerais que desencadeou um novo
estímulo à siderurgia. Fundições foram abertas
para a construção de implementos de ferro
utilizados no trabalho das minas.
Contudo, as mesmas práticas mercantilistas que
impulsionaram a descoberta de metais em
nossas terras fizeram com que a construção de
uma indústria siderúrgica brasileira fosse
reprimida. A colônia deveria ser explorada ao
máximo e comercializar apenas ouro e produtos
agrícolas. Portugal chegou a proibir a
construção de novas fundições e ordenou a
destruição das existentes.
9. A situação mudou com a ascensão de Dom João VI ao trono de Portugal. Em 1795, foi
autorizada a construção de novas fundições. Em 1808, a família real portuguesa desembarcou fugitiva
no Rio de Janeiro, temendo o avanço das tropas napoleônicas às terras lusitanas. Diversas indústrias
siderúrgicas foram construídas a partir desse período.
Em 1815, ficou pronta a usina do Morro do Pilar, em Minas Gerais. Em 1818, a fábrica de
Ipanema, nos arredores de Sorocaba, começa a produzir ferro forjado. Outras indústrias foram abertas
em Congonhas do Campo, Caeté e São Miguel de Piracicaba, todas em Minas Gerais. Antes da
abertura das fábricas locais, o ferro era exclusivamente importado de países europeus, especialmente
da Suécia, da Alemanha e da Espanha.
Após esse início de século XIX promissor, houve um declínio na produção de ferro. A
competição com os produtos importados da Inglaterra (que eram favorecidos com uma diminuição no
imposto de importação) era desigual e travava o desenvolvimento da siderurgia brasileira. Além disso,
havia escassez de mão-de-obra, já que os trabalhadores, em sua maioria, eram sugados pela lavoura
do açúcar e, mais tarde, do café.
Mesmo assim, um marco importante para o posterior progresso da siderurgia brasileira data
desse período: a fundação, em 1876, da Escola de Minas de Ouro Preto, que formaria engenheiros de
minas, metalurgistas e geólogos.
João VI
Fachada da Antiga
Indústria de Ipanema
Escola de Minas do Ouro
Preto
10. As primeiras décadas do século XX foram de avanços para a siderurgia brasileira,
impulsionados pelo surto industrial verificado entre 1917 e 1930. O mais importante foi a
criação, na cidade de Sabará (MG), da Companhia Siderúrgica Mineira. Em 1921, a CSBMCia. Siderúrgica Belgo-Mineira foi criada como resultado da associação da Companhia
Siderúrgica Mineira com o consórcio industrial belgo-luxemburguês ARBEd-Aciéres Réunies
de Bubach-Eich-dudelange que, em 1922, associou-se a capitais belgas e se transformou na
Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.
Os governos brasileiros dos primeiros 30 anos do século XX, mais preocupados com o
café, davam pouca atenção ao crescimento da indústria nacional. A siderurgia era exceção:
decretos governamentais concederam às empresas de ferro e aço diversos benefícios
fiscais. Na ocasião, a produção brasileira era de apenas 36 mil toneladas anuais de gusa.
A década de 30 registrou um grande aumento na produção siderúrgica nacional,
principalmente incentivada pelo crescimento da Belgo-Mineira que, em 1937, inaugurava a
usina de Monlevade, com capacidade inicial de 50 mil toneladas anuais de lingotes de aço.
Ainda em 1937, são constituídas a companhia siderúrgica de Barra Mansa e a Companhia
Metalúrgica de Barbará. Apesar disso, o Brasil continuava muito dependente de aços
importados.
Antiga
Siderúrgica
Belgo-Mineira
Atual
Siderúrgica
BelgoMineira
11. O cenário de permanente dependência brasileira de produtos siderúrgicos importados
começou a mudar nos anos 40, com a ascensão de Getúlio Vargas à presidência do Brasil. Era uma
das suas metas fazer com que a indústria de base brasileira crescesse e se nacionalizasse.
Um dos grandes exemplos desse esforço foi a inauguração, em 1946, no município de Volta
Redonda (RJ), da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que começou a produzir coque metalúrgico.
No mesmo ano, foram ativados os altos-fornos e a aciaria. As laminações entraram em atividade em
1948 e marcaram o início da autonomia brasileira na produção de ferro e aço. Erguida com
financiamentos americanos e fundos do Governo, a gigante estatal do setor nascia para preencher um
vazio econômico.
O ano de 1950, quando a usina já funcionava com todas as suas linhas, pode ser tomado
como marco de um novo ciclo de crescimento da siderurgia brasileira. A produção nacional de aço
bruto alcançava 788 mil toneladas e tinha início uma fase de crescimento continuado da produção de
aço no País. Dez anos depois, a produção triplicava e passados mais dez anos, em 1970, eram
entregues ao mercado 5,5 milhões de toneladas.
A oferta estimulou a expansão da economia, que passou a fazer novas e crescentes
exigências às usinas. Outra conseqüência foi o acentuado aumento das importações de aço. Foi este
cenário que deu origem, em 1971, ao Plano Siderúrgico Nacional (PSN), com o objetivo de iniciar novo
ciclo de expansão e quadruplicar a produção. Caberia responsabilidade maior por esta meta às
empresas estatais, que então respondiam por cerca de 70% da produção nacional e detinham
exclusividade nos produtos planos. Parte da produção era para ser exportada.
CSN
12. Em 1973, foi inaugurada no País a primeira usina integrada produtora de aço que
utiliza o processo de redução direta de minérios de ferro a base de gás natural, a Usina
Siderúrgica da Bahia (Usiba). No mesmo ano foi criada a Siderurgia Brasileira S.A
(Siderbrás). Dez anos depois, entrou em operação, em Vitória (ES), a Companhia
Siderúrgica de Tubarão (CST). Em 1986, foi a vez da Açominas começar a funcionar em
operação em Ouro Branco (MG).
Na década de 80, o mercado interno estava em retração e a alternativa era voltar-se
para o exterior. De uma hora para outra, o Brasil passava de grande importador a exportador
de aço, sem ter tradição no ramo. Mas a crise que atingia a siderurgia brasileira tinha
amplitude mundial. Por toda parte, os mercados se fechavam com medidas restritivas às
importações. Na época, começaram a freqüentar as páginas dos jornais termos como
restrições voluntárias, sobretaxas antidumping, direitos compensatórios e salvaguardas.
Usiba
Siderbrás
CST
13. O parque siderúrgico nacional iniciou a década de 90 contando com 43
empresas estatais e privadas, cinco delas integradas a coque, nove a carvão
vegetal, duas integradas a redução direta e 27 semi-integradas, além de
produtores independentes de ferro-gusa e carvão vegetal, que somavam
cerca de 120 altos-fornos. A instalação dessas unidades produtoras se
concentrou principalmente no Estado de Minas Gerais e no eixo Rio-São
Paulo, devido à proximidade de regiões ricas em matérias-primas
empregadas na fabricação do aço, ou de locais com grande potencial de
consumo.
Nos primeiros anos da década de 90, era visível o esgotamento do
modelo com forte presença do Estado na economia. Em 1991, começou o
processo de privatização das siderúrgicas. Dois anos depois, oito empresas
estatais, com capacidade para produzir 19,5 milhões de toneladas (70% da
produção nacional), tinham sido privatizadas.
14. A privatização trouxe ao setor expressivo afluxo de capitais, em composições
acionárias da maior diversidade. Assim, muitas empresas produtoras passaram a
integrar grupos industriais e/ou financeiros cujos interesses na siderurgia se
desdobraram para atividades correlatas, ou de apoio logístico, com o objetivo de
alcançar economia de escala e competitividade.
O parque siderúrgico brasileiro compõe-se hoje de 29 usinas, administradas por
onze grupos empresariais. São eles: Aperam, ArcelorMittal Brasil, CSN, Gerdau,
SINOBRAS, Thyssenkrupp CSA, Usiminas, VSB Tubos, V&M do Brasil, Villares Metals e
Votorantim.
O parque produtor é relativamente novo e passa por um processo de atualização
tecnológica constante. Está apto a entregar ao mercado qualquer tipo de produto
siderúrgico, desde que sua produção se justifique economicamente.
Entre 1994 e 2011, as siderúrgicas investiram US$ 36,4 bilhões, priorizando a
modernização e atualização tecnológica das usinas, atingindo uma capacidade instalada
de 48 milhões de toneladas.
O Brasil tem hoje o maior parque industrial de aço da América do Sul; é o maior
produtor da América Latina e ocupa o quinto lugar como exportador líquido de aço e
nono como produtor de aço no mundo.
15. 1554 - O Padre José de Anchieta, S. J, descobre depósitos de minérios de ferro e de outros bens minerais na Capitania de São
Vicente.
1556 - O Padre Mateus Nogueira,S.J, instala uma forja na recém criada cidade de São Paulo para atender as necessidades da
comunidade local.
1557 -Afonso Sardinha instala na antiga freguesia de Santo Amaro uma pequena fábrica produtora de ferro metálico. Esta data é
considerada por siderurgistas brasileiros como a do nascimento da indústria nacional do ferro metálico e do aço e Afonso
Sardinha como o seu pioneiro.
1590 - Afonso Sardinha coloca em operação a sua segunda fábrica produtora de ferro metálico, com capacidade instalada de
produção superior à anterior Foi Instalada no morro de Araçoiaba, em Sorocaba.
1600 - Afonso Sardinha e outros empreendedores instalam novas fábricas voltadas à produção e a transformação de ferro
metálico em Sorocaba.
1629 - Com a morte do líder Afonso Sardinha, parte dos empreendimentos não se mantiveram por muito tempo.
1780 - Com a descoberta de ouro na região central da Capitania de Minas Gerais, o Governador Don Rodrigo José de Menezes
requer a Corte de Portugal autorização para a instalação de fábricas voltadas á produção e/ou à transformação de ferro
metálico em implementos necessários às atividades de lavra.
1785 - O pleito de Don Rodrigo J. de Menezes não só foi rejeitado como deu origem a uma ordem de Da. Maria a Louca, tornando
ilegal a instalação de novas fábricas produtoras e/ou transformadoras de ferro metálico e manda desativar as existentes.
1795- O Governador Geral do Brasil D.Luis Pinto de Souza, comunica aos governadores das Capitanias que as fábricas
produtoras e/ou transformadoras de ferro metálico estão autorizadas a funcionar.
1808 - A chegada de D.João VI ao Brasil deu um novo impulso à expansão da siderurgia brasileira. A implantação da Real Fábrica
de São João de Ipanema é acelerada.
1810 - É criada oficialmente a Real Fábrica de São João de Ipanema.
Continua
16. 1812 - Na capitania de Minas Gerais,é produzido pela primeira vez no país ferro metálico em estado Líquido.
1814 - Na Real Fábrica do Morro do Pilar, o Intendente Câmara realiza a primeira corrida de ferro-gusa no primeiro alto forno
construído no país.
1818 - O alto-forno N° 1 da fábrica de lpanema entra em operação.
1825 - O engenhetro francês Jean Antoine de Monlevade, em Sabará, instala uma fábrica para a produção e transformação de
ferro metálico.
1845 - lrineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá, instala em Ponta de Areta um complexo industrial voltado à produção de ferro
metálico e bronze.
1876 – É fundada a Escola de Minas de Ouro Preto, primeira escola de engenharia da América do Sul a formar engenheiros de
mineração e metalurgia.
1892 – Instalação de alto-forno na usina Miguel Burnier.
1910 - O Presidente Nilo Peçanha assina o decreto favorecendo a instalação de estabelecimentos siderúrgicos.
1917 - Em um pequeno forno Siemens Martin, Instalado na Cia. Ferrum, no Rio de Janeiro, é iniciada a produção brasileira de aço
bruto.
1918 - Decreto assinado pelo Presidente Wenceslau Braz regula o apoio financeiro e de outros incentivos à indústria siderúrgica.
1919 - Para fins siderúrgicos o Presidente Epitácio Pessoa autoriza os estudos do carvão mineral no sul do Pais.
1921 - É criada a Cia Siderúrgica Belgo-Mineira, resultado da associação da Cia Siderúrgica Mineira com a empresa belgoluxemburguesa ARBED.
1924 - O Presidente da República, Arthur Bernardes. apoia as siderúrgicas existentes e promove a instalação de novas.
1925 - Entra em operação a usina de Sabará, MG, da Cia Belgo Mineira, que opera com base em carvão vegetal.
1939 – É inaugurada em Monlevade, MG, a segunda usina da Cia Siderúrgica Belgo-Mineira.
1940 - É assInado pelo Pres1dente Getúlio Vargas decreto que cria a Com1ssão Execut1va do Plano Siderúrgico Nacional.
Continua
17. 1941 – Decreto autoriza a construção da Cia Siderúrg1ca Nac1onal
1946 - É Inaugurada a us1na da CSN em Volta Redonda, RJ. Trata-se da ma1or us1na 1ntegrada, com base em coque, da
América Lat1na
1952 - É criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), principal 1nst1tuição finance1ra de desenvolvimento
do Governo. Um dos pnncrpa1s agentes da expansão e modem1zação do parque metalúrgico brasileiro.
1954 - Com a inauguração da Cia Siderúrgica Mannesmann, em Belo Horizonte, MG, começa a operar o prime1ro forno elétrico
de redução de m1nénos de ferro.
1961 - Entra em operação na S1derúrg1ca Riograndense, em Porto Alegre, a prime1ra máqu1na de lingotamento contínuo de aço.
1963 - É fundado no R1o de Jane1ro, RJ, o Instituto Brasileiro de S1derurg1a (IBS) com a finalidade de congregar e representar
as empresas bras1le1ras produtoras de aço, ass1m como promover e defender seus interesses e desenvolvimento.
1966 - A Cia Vale do Rio Doce inaugura a sua prime1ra us1na de pelotização de minério de ferro em Vitória, ES.
1967 - Visando a expansão e a modernização do parque s1derúrg1co brasileiro, o Presidente Castelo Branco cria o Grupo
Consultivo da Indústria Siderúrgica (GCIS).
1968 - Para Implantar e Implementar as propostas do GCIS, o Pres1dente Costa e S1lva cria o Conselho Consultivo da lndústria
Siderúrg1ca (CONSIDER).
1970 - O CONSIDER deixa de ser consultivo para se transformar em deliberativo e passa a denominar-se Conselho Nacional da
Indústria Siderúrgica.
1971 - Em 7 de Janeiro, em solenidade na us1na da CSN em Volta Redonda, RJ, é aprovado o Plano Nacional Siderúrgico.
1973 - É inaugurada no País a primeira usina integrada produtora de aço, Usina Siderúrgica da Bahia (Usiba).
1973 - É criada a Cia. Siderúrgica Brasileira (SIDERBRAS)
1983 - Entra em operação em Vitória, ES, a C1a S1derúrg1ca de Tubarão (CST).
1986 - Entra em operação em Ouro Branco, MG, a Cia Aço Minas Gerais (Açominas)
1988 - É extinto o CONSIDER.
Continua
18. 1990 - Governo Collor extingue a SIDERBRAS.
1991/1993 - Com a 1mplantação do Programa Nacional de Desestatização, as
empresas Cosinor, Usiminas, Aços Finos Piratini, CST, Acesita, CSN, Cosipa
e Açominas são privatizadas.
2010 – Fundada a Thyssenkrupp CSA Siderúrgica do Atlântico, na Baía de
Sepetiba, Rio de Janeiro.
2011 – Fundação da Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB), em Jeceaba,
Minas Gerais, e criação da Aperam, formada pela ex-Arcelor Mittal Inox
Brasil e outras sete plantas industriais localizadas na França e Bélgica.