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A Ascensão dos Anjos e a Democratização do Acesso a
Investidores
Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Também no universo naturalmente concentrador de poder e riqueza que é a indústria do
investimento de capital de risco em inovação tecnológica, eis que aparece mais uma vez o
efeito democratizante da internet e das mídias sociais. Uma rede social chamada AngelList,
criada especificamente para propiciar um meio de comunicação entre empreendedores e
investidores, está causando uma reviravolta no Vale do Silício. Agindo como se fosse uma rede
de busca de parceiros amorosos, nesse caso entre startups e investidores-anjo, o site combina
o fazer negócios com o uso de perfis em redes sociais para torná-lo “a maior inovação na
indústria do capital de ventura desde que Paul Graham fundou a Y-Combinator cinco anos
atrás”, segundo Dave McClure. Mais de 1.500 investidores já se registraram no site, incluindo
cerca de 400 capitalistas de ventura. A grande maioria é constituída de investidores-anjo,
termo associado àqueles que adquirem participação societária numa empresa jovem usando
seu próprio dinheiro. A AngelList propicia maior visibilidade para um grande número de
startups que têm que passar pelo processo de levantar capital, e que, sem esse novo canal de
comunicação, não teria praticamente nenhum acesso a investidores.

O fato é que Vale do Silício tem testemunhado um significativo deslocamento do eixo de poder
desde que a última grande bolha economico-financeira estourou, e, mais especificamente, nos
últimos 18 meses. Empreendedores e investidores outrora membros do “baixo clero” tais
como anjos, super-anjos, capitalistas de ventura de micro-capitalização, e incubadoras
semente, estão começando a dar as cartas no cenário de investimento em empresas de web
para o consumidor no estágio inicial. E, ao que tudo indica, trata-se de uma mudança
definitiva, pois as próprias startups dos dias de hoje se diferenciam significativamente
daquelas do início dos anos 2000. Como observa Naval Ravikant, co-fundador da AngelList, em
palestra intitulada “The Rise of the Angels” hospedada pela Capital Factory em Outubro de
2010, há uma clara ascensão dos investidores-anjo como consequência da ascensão dos
empreendedores. E estes trazem novas exigências aos investidores: decisões independentes e
rápidas, manutenção do controle da empresa, direito de vender, valorização dos
relacionamentos entre pares, conhecimento específico, adiantamento do investimento em
espécie.

Observa-se a formação de um novo ecossistema ao qual as startups terão que se adaptar. Um
dos principais fatores para que essa mudança venha a ser concretizada foi a diminuição do
nível de investimento mínimo necessário para se criar uma empresa no setor de web para o
consumidor, caindo do patamar de milhões para centenas de milhares de dólares. E essa
queda de patamar se justifica na medida em que alguns avanços tecnológicos se
popularizaram: (i) os sistemas aplicativos podem ser hospedados “na nuvem” em servidores da
Amazon, da Google, ou mesmo da Rackspace; (ii) os esforços de relações públicas podem ser
alavancados com ajuda de Twitter e Facebook; e, não menos importante, (iii) as estratégias de
vendas e de formação de uma carteira de clientes têm o suporte de plataformas de “software
como serviço” tais como a Salesforce.com.
Dado que empreendedores carecem de bem menos capital que em outras épocas, é natural
que a oferta de investidores seja maior, além do fato de que aspirantes a investidor-anjo
passam a ter condições de atuar e causar impacto num segmento que há algum tempo atrás
era dominado por altos investimentos. Entre esses aspirantes a investidor-anjo estão ex-
funcionários de grandes empresas como Google e Facebook que saem com algum capital em
mãos e, ao buscar opções de investimento, se dão conta de que o melhor retorno ainda reside
em investir em inovação tecnológica.

Em decorrência desse estado de coisas, tudo aponta para uma nova bolha de investimentos no
setor de tecnologia, sobretudo no seio da internet. Em 2010, os investimentos de risco (capital
de ventura) cresceram pela primeira vez desde 2007. O volume de investimentos em empresas
no estágio inicial cresceu 15 por cento em relação ao ano anterior, registrando o primeiro
aumento desde 2007, segundo a National Venture Capital Association. E se há um segmento
que parece estar atraindo todas as atenções no mercado de investimentos de risco, esse é sem
dúvida o grupo de empresas que se encontram entre o estágio semente e o estágio inicial. Um
espaço tradicionalmente ocupado pelos investidores-anjo passa agora a ser disputado por VC’s
(capitalistas de ventura), por novos milionários, e até pelos chamados “super-anjos”.
Emblemático é o fato de um nome de grande tradição na indústria do capital de ventura, tal
como a Greylock, ter lançado recentemente seu “Discovery Fund” destinado a investir
quantias tão pequenas quanto 25 mil dólares em startups.

Com todo esse movimento, é natural que as avaliações de preço de mercado têm subido
assustadoramente. Segundo Dave McClure (prolífico investidor-anjo convertido em capitalista
de ventura), além da investida dos VC’s, que, por tradição, são menos sensíveis a preços, no
terreno do investimento semente há de fato mais dinheiro disponível e menos oportunidades
para empregar toda essa riqueza. No momento atual da economia mundial, investimentos em
imóveis e em papéis do governo se revelam pouco atraentes, daí o aparecimento de uma
bolha global em setores de menor risco, e, curiosamente, um portfólio diversificado de
startups de repente parecer relativamente menos arriscado até mesmo do que letras do
governo, o que não acontecia há dois anos atrás. Some-se a isso o fato de que, em função da
redução drástica de custos para a criação de uma startup (comoditização da tecnologia,
computação em nuvem, acesso à clientela através das redes sociais, etc.), sem falar na
alavancagem praticamente gratuita oferecida por plataformas como iOS, Android, Facebook,
Twitter, Google, Amazon, empreendedores estão conseguindo realizar mais, mesmo antes de
levantar recursos de investidores.

Em artigo no seu blog Startupboy.com intitulado “There is No Angel Bubble. There are Many
Angel Bubbles” (01/12/2010), Naval Ravikant diz que as avaliações de startups com fins de
recebimento de investimento-anjo têm subido muito rapidamente, e, talvez, de forma
insustentável. Para se ter uma idéia, conta Ravikant, vinte empresas do portfólio de um
investidor avaliadas em X dólares podem hoje subitamente representar vinte pequenas bolhas
numa avaliação de 2 vezes. Pode não ser possível viabilizar essas valorações numa micro-
aquisição, ou mesmo levar a uma redução de valor numa rodada de financiamento de capital
de ventura. Pode acontecer também que esses investimentos acabem dando um retorno
abaixo da média para o que parecia candidatos a sucesso. O fato é que os preços têm subido, e
isso vai atingir o retorno no investimento, afirma Navikant.
E a subida dos preços não se deve a uma enorme entrada de dinheiro, mas devido a um influxo
modesto de dinheiro insensível a preços. Um pequeno número de investimentos-anjo de alta
repercussão fazendo movimentar pequenas quantidades de capital porém com base em
valorações muito altas pode fazer com que o mercado como um todo pareça oferecer
valorações exageradas. Seriam essencialmente três as razões que têm guiado esses
investidores insensíveis a preços: (1) fundos de capital de ventura – todo capitalista de ventura
que anuncia um fundo semente de 20 milhões seria essencialmente um super-anjo insensível a
preço; (2) empreendedores estabelecem os preços – rodadas de financiamento grupais e sem
líder normalmente terminam com os empreendedores estabelecendo a valoração; (3) novos
anjos – as pessoas que têm tido saídas (i.e., oferta de ações na bolsa de valores, aquisição ou
fusão com empresa de maior porte) com valores modestos e hoje são anjos estão
simplesmente montando seus portfólios, e sem a devida experiência para entender que preço
é de suma importância muito embora a tendência seja “se essa a empresa certa, preço é
irrelevante”.

Com bolha ou sem bolha, o fato é que a indústria do capital de ventura passa por mudanças
estruturais que vieram para ficar, e as mídias sociais têm grande responsabilidade nisso tudo.
“Capital de ventura é um negócio e está aberto a ataque por startups com novos e disruptores
modelos de negócio e tecnologias”, diz Ravikant. Aos tradicionais capitalistas de ventura
McClure avisa que, muito embora suas redes de conexões, recomendações e reputações
agreguem valor, “se isso for tudo com o qual você negocia, então se prepare para sofrer
disrupção por parte de LinkeIn, Quora, Facebook, Twitter, AngelList, etc.”

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  • 1. A Ascensão dos Anjos e a Democratização do Acesso a Investidores Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE Também no universo naturalmente concentrador de poder e riqueza que é a indústria do investimento de capital de risco em inovação tecnológica, eis que aparece mais uma vez o efeito democratizante da internet e das mídias sociais. Uma rede social chamada AngelList, criada especificamente para propiciar um meio de comunicação entre empreendedores e investidores, está causando uma reviravolta no Vale do Silício. Agindo como se fosse uma rede de busca de parceiros amorosos, nesse caso entre startups e investidores-anjo, o site combina o fazer negócios com o uso de perfis em redes sociais para torná-lo “a maior inovação na indústria do capital de ventura desde que Paul Graham fundou a Y-Combinator cinco anos atrás”, segundo Dave McClure. Mais de 1.500 investidores já se registraram no site, incluindo cerca de 400 capitalistas de ventura. A grande maioria é constituída de investidores-anjo, termo associado àqueles que adquirem participação societária numa empresa jovem usando seu próprio dinheiro. A AngelList propicia maior visibilidade para um grande número de startups que têm que passar pelo processo de levantar capital, e que, sem esse novo canal de comunicação, não teria praticamente nenhum acesso a investidores. O fato é que Vale do Silício tem testemunhado um significativo deslocamento do eixo de poder desde que a última grande bolha economico-financeira estourou, e, mais especificamente, nos últimos 18 meses. Empreendedores e investidores outrora membros do “baixo clero” tais como anjos, super-anjos, capitalistas de ventura de micro-capitalização, e incubadoras semente, estão começando a dar as cartas no cenário de investimento em empresas de web para o consumidor no estágio inicial. E, ao que tudo indica, trata-se de uma mudança definitiva, pois as próprias startups dos dias de hoje se diferenciam significativamente daquelas do início dos anos 2000. Como observa Naval Ravikant, co-fundador da AngelList, em palestra intitulada “The Rise of the Angels” hospedada pela Capital Factory em Outubro de 2010, há uma clara ascensão dos investidores-anjo como consequência da ascensão dos empreendedores. E estes trazem novas exigências aos investidores: decisões independentes e rápidas, manutenção do controle da empresa, direito de vender, valorização dos relacionamentos entre pares, conhecimento específico, adiantamento do investimento em espécie. Observa-se a formação de um novo ecossistema ao qual as startups terão que se adaptar. Um dos principais fatores para que essa mudança venha a ser concretizada foi a diminuição do nível de investimento mínimo necessário para se criar uma empresa no setor de web para o consumidor, caindo do patamar de milhões para centenas de milhares de dólares. E essa queda de patamar se justifica na medida em que alguns avanços tecnológicos se popularizaram: (i) os sistemas aplicativos podem ser hospedados “na nuvem” em servidores da Amazon, da Google, ou mesmo da Rackspace; (ii) os esforços de relações públicas podem ser alavancados com ajuda de Twitter e Facebook; e, não menos importante, (iii) as estratégias de vendas e de formação de uma carteira de clientes têm o suporte de plataformas de “software como serviço” tais como a Salesforce.com.
  • 2. Dado que empreendedores carecem de bem menos capital que em outras épocas, é natural que a oferta de investidores seja maior, além do fato de que aspirantes a investidor-anjo passam a ter condições de atuar e causar impacto num segmento que há algum tempo atrás era dominado por altos investimentos. Entre esses aspirantes a investidor-anjo estão ex- funcionários de grandes empresas como Google e Facebook que saem com algum capital em mãos e, ao buscar opções de investimento, se dão conta de que o melhor retorno ainda reside em investir em inovação tecnológica. Em decorrência desse estado de coisas, tudo aponta para uma nova bolha de investimentos no setor de tecnologia, sobretudo no seio da internet. Em 2010, os investimentos de risco (capital de ventura) cresceram pela primeira vez desde 2007. O volume de investimentos em empresas no estágio inicial cresceu 15 por cento em relação ao ano anterior, registrando o primeiro aumento desde 2007, segundo a National Venture Capital Association. E se há um segmento que parece estar atraindo todas as atenções no mercado de investimentos de risco, esse é sem dúvida o grupo de empresas que se encontram entre o estágio semente e o estágio inicial. Um espaço tradicionalmente ocupado pelos investidores-anjo passa agora a ser disputado por VC’s (capitalistas de ventura), por novos milionários, e até pelos chamados “super-anjos”. Emblemático é o fato de um nome de grande tradição na indústria do capital de ventura, tal como a Greylock, ter lançado recentemente seu “Discovery Fund” destinado a investir quantias tão pequenas quanto 25 mil dólares em startups. Com todo esse movimento, é natural que as avaliações de preço de mercado têm subido assustadoramente. Segundo Dave McClure (prolífico investidor-anjo convertido em capitalista de ventura), além da investida dos VC’s, que, por tradição, são menos sensíveis a preços, no terreno do investimento semente há de fato mais dinheiro disponível e menos oportunidades para empregar toda essa riqueza. No momento atual da economia mundial, investimentos em imóveis e em papéis do governo se revelam pouco atraentes, daí o aparecimento de uma bolha global em setores de menor risco, e, curiosamente, um portfólio diversificado de startups de repente parecer relativamente menos arriscado até mesmo do que letras do governo, o que não acontecia há dois anos atrás. Some-se a isso o fato de que, em função da redução drástica de custos para a criação de uma startup (comoditização da tecnologia, computação em nuvem, acesso à clientela através das redes sociais, etc.), sem falar na alavancagem praticamente gratuita oferecida por plataformas como iOS, Android, Facebook, Twitter, Google, Amazon, empreendedores estão conseguindo realizar mais, mesmo antes de levantar recursos de investidores. Em artigo no seu blog Startupboy.com intitulado “There is No Angel Bubble. There are Many Angel Bubbles” (01/12/2010), Naval Ravikant diz que as avaliações de startups com fins de recebimento de investimento-anjo têm subido muito rapidamente, e, talvez, de forma insustentável. Para se ter uma idéia, conta Ravikant, vinte empresas do portfólio de um investidor avaliadas em X dólares podem hoje subitamente representar vinte pequenas bolhas numa avaliação de 2 vezes. Pode não ser possível viabilizar essas valorações numa micro- aquisição, ou mesmo levar a uma redução de valor numa rodada de financiamento de capital de ventura. Pode acontecer também que esses investimentos acabem dando um retorno abaixo da média para o que parecia candidatos a sucesso. O fato é que os preços têm subido, e isso vai atingir o retorno no investimento, afirma Navikant.
  • 3. E a subida dos preços não se deve a uma enorme entrada de dinheiro, mas devido a um influxo modesto de dinheiro insensível a preços. Um pequeno número de investimentos-anjo de alta repercussão fazendo movimentar pequenas quantidades de capital porém com base em valorações muito altas pode fazer com que o mercado como um todo pareça oferecer valorações exageradas. Seriam essencialmente três as razões que têm guiado esses investidores insensíveis a preços: (1) fundos de capital de ventura – todo capitalista de ventura que anuncia um fundo semente de 20 milhões seria essencialmente um super-anjo insensível a preço; (2) empreendedores estabelecem os preços – rodadas de financiamento grupais e sem líder normalmente terminam com os empreendedores estabelecendo a valoração; (3) novos anjos – as pessoas que têm tido saídas (i.e., oferta de ações na bolsa de valores, aquisição ou fusão com empresa de maior porte) com valores modestos e hoje são anjos estão simplesmente montando seus portfólios, e sem a devida experiência para entender que preço é de suma importância muito embora a tendência seja “se essa a empresa certa, preço é irrelevante”. Com bolha ou sem bolha, o fato é que a indústria do capital de ventura passa por mudanças estruturais que vieram para ficar, e as mídias sociais têm grande responsabilidade nisso tudo. “Capital de ventura é um negócio e está aberto a ataque por startups com novos e disruptores modelos de negócio e tecnologias”, diz Ravikant. Aos tradicionais capitalistas de ventura McClure avisa que, muito embora suas redes de conexões, recomendações e reputações agreguem valor, “se isso for tudo com o qual você negocia, então se prepare para sofrer disrupção por parte de LinkeIn, Quora, Facebook, Twitter, AngelList, etc.”