O documento defende a desobediência civil pacífica como um direito do cidadão de resistir a decisões tomadas sem seu consentimento. Promove a autonomia individual e coletiva, rejeitando qualquer autoridade ou hierarquia. Defende a ação direta das pessoas para promover transformações de acordo com seus próprios interesses, em vez de depender de políticos ou instituições.
1. Manual Prático de Desobediência Civil
DESOBEDEÇA!
A Desobediência Civil é uma resistência pacifica, um direito de todo cidadão que não
queira colaborar com as decisões que tem sido tomadas em seu nome.Desobedecer
significa não colaborar com o sistema, entrar em conflito com sua ordem estabelecida, que
tem causados danos aos povos e ao planeta. “O direito á revolução é reconhecido por
todos, isto é, o direito de negar lealdade e de oferecer resistência ao governo sempre que
se tornem grandes e insuportáveis sua tirania e ineficiência” (Henry D. Thoreau, autor de
“A Desobediência Civil”). Não é necessário lutar fisicamente contra um governo, mas sim
não apoiá-lo, não contribuir com ele, ignorar suas leis.
AUTONOMIA!
Autonomia significa a busca de auto-suficiência, viver dentro de nossa própria realidade e
vivenciar nossas próprias experiências. Autonomia é a liberdade dos indivíduos de
fazerem suas próprias escolhas, sem um sistema de controle e de sugestionamento
ideológico. As pessoas têm o direito a terem oportunidade de governarem a si próprias. O
que os autônomos lutam é pela liberdade dos indivíduos escolherem seus destinos, sem
interferência de autoridades ou submissão a alguma hierarquia. Devemos escolher as
pessoas com os quais possamos dividir afinidades, trabalhar e unir-se com eles para
sobreviver e preencher todas as necessidades e desejos coletivamente, sem interferência
da burocracia e da ideologia de lucro.
AÇÃO DIRETA!
Por que devemos esperar que alguém, alguma instituição, um partido ou empresa, reaja
por nós? Por que duvidar de nossa própria capacidade de agir, de interferir, de
transformar? Por que não confiar na possibilidade da auto-organização da inteligência
coletiva?
Ação Direta é a potência que liberta um povo da submissão, é a raiz de todas as
transformações que esse povo deseja. Se não agirmos diretamente, outros agirão em
nosso lugar... e não em nossos nomes. “Feliz é o povo que não necessita de heróis.”
Se agirmos diretamente colheremos os frutos de nossas próprias escolhas.
REJEIÇÃO Á AUTORIDADE!
Autoridade é inibidora da criatividade potencial. A hierarquia é o fracionamento do poder
de uns sobre os outros com a finalidade de controlar e manipular interesses alheios a nós.
O Estado rouba das pessoas a capacidade de cuidar delas mesmas e de suas
comunidades de forma direta. A coerção, manipulação e controle inibem a nossa
capacidade de espontaneidade social, liberdade e criatividade. O Estado rouba e controla
a comunidade para seu próprio benefício, e o destina a interesse daqueles que possuem
seu controle.
NÃO DOUTRINAÇÃO!
A não reverência á um teórico, a ausência de um herói intelectual, no qual suas palavras
acabem por se tornarem dogmáticas. Doutrinar significar cercar o indivíduo dentro de uma
2. interpretação de mundo dada, estabelecida por uma ideologia de classe; e isso
impossibilita a experiência própria, a perspectiva múltipla e o direito a uma alternativa de
nossa própria escolha.
ESPIRITUALIDADE AUTO DIRECIONADA!
A religião consiste na necessidade (criada em nós!) de um mediador que nos conecte com
a experiência da existência. Deixar o poder espiritual concentrado nas mãos de outros
indivíduos nos enfraquece espiritualmente, e dá inicio a dependência de um especialista
para tais relações. Esses mediadores, sacerdotes, monopolizam, manipulam e controlam
este acesso à espiritualidade, aprisionam as percepções, reduzem os oprimidos á
condição de suportar a opressão, porque é assim a vontade de Deus. Rejeitar qualquer
autoridade ou hierarquia religiosa nós dá acesso direto para a percepção do maravilhoso e
da sensação de comunhão com o todo.
APOIO MÚTUO!
No lugar da competição pratiquemos o Apoio Mútuo. Precisamos romper com o paradigma
da competição, da propriedade do pensamento, da exploração do trabalho, e estarmos
preparados para os tempos da coexistência, onde somente com o apoio mutuo poderemos
criar a nossa própria realidade e transformá-la de acordo com as necessidades libertárias.
A cooperação voluntária nasce somente a partir de homens livres, não oprimidos e não
alienados.
SOMOS TODOS TERRÁQUEOS!
Rejeitar a noção de poder sobre a natureza, romper com o antropocentrismo. O homem é
elemento da natureza, e esta noção de superioridade sobre as demais espécies, o
especismo, está nos destruindo, nos levando ao colapso ecológico que já é uma realidade
entre nós. Não somos os únicos terráqueos por aqui. Compartilhar da vida e da existência
com as outras espécies é equilíbrio; submetê-las ao nosso padrão de vida é crime.
SENSUALIDADE NÃO REPRIMIDA!
O “outro” é parte individual que aprimora a complexidade. A repressão da sexualidade
humana, ou sua canalização para interesses dos controladores, é crime. A condução de
nossa própria sensualidade, as nossas escolhas, são pessoais e não devem ser
submetidas á instituição do Estado ou á expressão moral de uma sociedade baseada em
interesses de classes.
PENSAR + AGIR = ATITUDE!
Não separar pensamento da ação significa movimento, ter um caminho, tomar uma
posição. Ter consciência da necessidade de mudança e tomar atitude! Nos
desvencilharmos de todas as dominações que nos impedem de vivermos uma vida plena,
que nos aprisiona a interesses que não nos pertencem e buscar a autonomia tanto na
mente quanto na rotina. É preciso romper divisa entre teoria e pratica. Superar os antigos
métodos, prescritos em teorias, e buscar a pratica vivendo de acordo com nossas próprias
experiências.
ABOLIÇÃO DO TRABALHO PRODUTIVO!
3. O trabalho produtivo – a energia canalizada para o processo produtivo- nos empobrece,
arruína nossos espíritos, nos submete á repetição, enfraquece os indivíduos capazes de
desenvolver as mais diversas habilidades, nos impede de enfrentar e experimentar as
mais diversas situações. O trabalho é o roubo de nossa energia criativa para os fins que
não nos interessam e que geralmente são prejudiciais a nós mesmos e ao planeta. Grande
parte de nossas vidas são apropriadas pelo trabalho produtivo. Trabalhamos em lugares
que não gostamos, legitimando interesses alheios a nós, fazendo coisas que não nos
interessam, fabricando objetos que não nos identificamos, tudo isso para comprarmos
coisas que na realidade não precisamos. Estamos sempre muito “ocupados”, sem tempo
para apreciar a vida e contemplar a existência, sem oportunidade de auto-reflexão. É
preciso lutar pela emancipação do trabalho, se desvencilhar do universo do trabalho
produtivo através da construção da autonomia.
SEM FRONTEIRAS!
O INTERNACIONALISMO requer a abolição das fronteiras, dos rótulos nacionalistas que
segregam os povos e as comunidades do planeta O nacionalismo é uma ferramenta usada
pelos dominantes para criar um sentimento de unidade numa sociedade dividida, o que
nos impede de compreendermos que somos uma comunidade planetária. Fronteiras não
existem, são frutos do imaginário humano, linhas imaginárias desenhadas em mapas e
reproduzidas através do preconceito. Devemos romper com as fronteiras impostas em
nossas mentes! Não devemos ter medo do “outro”, pois que ele é singularidade que nos
conecta com o ‘todo”.
DEMOCRACIA DIRETA!
O sistema democrático representativo ainda nos prende a algum intermediário entre as
relações. É ilusório acreditar que votar em representantes para exercer o poder em nosso
nome seja um ato de liberdade. Voto nulo, voto em branco e abstinência eleitoral são
atitudes de desobediência civil, de soberania sobre suas decisões. Todos sabemos que a
comunicação de massa objetiva nos “convencer” a depositar nossa confiança em outro
individuo, cujo caráter é trabalhado por um sistema de propaganda enganosa. Tal
ideologia suprime a autonomia do individuo, a autogestão das comunidades, a soberania
dos povos. Tal estrutura costura uma rede de necessidades e crenças que levem
indivíduos, comunidades e sociedades a não confiarem em seu poder de autodescoberta,
de autorevelação, de autodefinição, de governarem a si próprios.
DESLIGUE A TV!
A não colaboração com a mídia não significa uma critica passiva, mas uma ação de
rejeição á sua lógica. Se libertar da realidade programada pela sociedade de espetáculo,
romper com o tubo projetor que controla nosso dia-a-dia e descobrir nossas capacidade
criativas. A TV dita o comportamento desejável, explora os desejos, ilude os sentidos,
amortece as dores (que devem ser enfrentadas e não remediadas por mercadorias).
Devemos vivenciar nossas próprias experiências, descobrir as contradições do mundo
através de relações presentes, e não permitir que a mídia controle nosso quotidiano e
formate as nossas crenças. Com tal rompimento só temos a ganhar: ninguém nos dirá o
que vestir, o que pensar, o que comer. Descobriremos nossas reais necessidades, nossos
próprios gostos, poderemos construir nossa própria visão de mundo. E isso pode nos
4. colocar diante do desafio : criar a nossos próprios modos de expressão, construir uma
rede de informações independente que gerem criticas e propostas.
AUTONOMIA DE LUTA!
A multiplicidade de organizações fortalece a luta. A autonomia de luta consiste
em não necessitar se filiar a algum partido ou formar algum movimento para
agir. O essencial é estarmos decididos a lutar, a levar adiante a nossa atitude
de desobediência ao sistema que tem nos afetado de forma danosa. Assim
agimos individualmente mas conectados num consciente coletivo, sem
necessidade de hierarquias que nos venha dizer como temos que lutar.