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MENINO JESUS
Aguarela da Sagrada Família
Era um menino
como outro qualquer,
nascido de mulher
e pequenino.
Era uma jovem mãe
como cada uma é,
sempre ao pé
do seu bem.
Era um pai
como todo deve ser,
a permanecer,
mesmo se vai.
Era uma família feliz
como não houve igual.
É por isso que ainda se diz
e se faz a festa do Natal.
João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
A fala do Menino Jesus
Ainda agora aqui cheguei
e já tenho companhia:
são os bichos do presépio
que me enchem de alegria.
Minha mãe já me embala
no casulo da ternura
e refresca os meus lábios
com um fio de água pura.
Quando crescer terei tempo
de lhes dizer ao que vim
e quem me quiser seguir
que venha juntar-se a mim.
Eis que chegam os Reis Magos
vindos lá do Oriente
com segredos bem guardados
dentro de cada presente.
A vaca, o burro, a ovelha
são a minha doce guarda,
bem diferente dos romanos,
altivos na sua farda.
Ainda agora aqui cheguei
e estou no centro da luz;
os meus pais chamam-me filho,
os outros chamam-me Jesus.
Por este nome, estou certo,
serei sempre conhecido;
e hão-de chamar-me menino
já depois de ter crescido.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O sonho do Menino Jesus
O menino nasceu de um sonho
tecido como um novelo
feito com os fios de luz
de uma estrela no cabelo.
O menino olhou em volta
para ver mais adiante
e aquilo que encontrou
foi raro e deslumbrante.
Chamou a vaca e o burro
para estarem junto de si
e eles obedeceram
não saindo mais dali.
Era um rei pequenino
de um reino apenas sonhado
e traçou o seu destino
num presépio acanhado.
Os poderosos de então,
fossem judeus ou romanos,
queriam-no bem vigiado
por muitos e muitos anos.
Mas ele, que nasceu livre,
em liberdade quis crescer,
seguido por gente boa
que com ele ia aprender.
E o seu maior milagre,
o que tem mais valor,
foi ter mostrado ao Homem
a força que há no amor.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Ó Meu Menino Jesus
Ó Meu Menino Jesus
boquinha de requeijão
dai-me um bocadinho dele
que a minha mãe não tem pão.
Ó Meu Menino Jesus
boquinha de marmelada
dai-me um bocadinho dela
que a minha mãe não tem nada.
Ó Meu Menino Jesus
Ó minha estrela do céu
Tendes cabelinho de oiro
Nem precisais de chapéu.
(Poema Popular)
O Menino brincando
Ó Meu Jesus adorado,
Fecha os teus olhos divinos
Num soninho descansado;
Que a não sermos tu e eu
Toda a gente do povoado,
Desde os velhos aos meninos,
Há muito que adormeceu…
E o Menino Jesus não se dormia…
Dorme, dorme, dorme agora
(Cantava a Virgem Maria)
Que mal assomou a aurora,
Sentei-me junto ao tear
E por todo o dia fora,
Até que já se não via,
Não deixei de trabalhar!
E o Menino Jesus não se dormia…
Tornava Nossa Senhora,
Numa voz mais consumida:
Dorme, dorme, dorme agora
E que eu descanse também,
Porque mesmo adormecida
Vela sempre, a toda a hora,
No meu peito, o amor de mãe.
E o Menino Jesus não se dormia…
Numa voz mais fatigada,
Tornava a Virgem Maria:
Dorme pombinha nevada,
Dorme, dorme, dorme bem…
Vê que está quase apagada
A frouxa luz da bugia,
Do pouco azeite que tem.
E o Menino Jesus não se dormia…
Augusto Gil
O Menino chora, chora…
O Menino chora, chora…
porque anda descalcinho.
Haja quem lhe dê as meias
que eu lhe dou os sapatinhos.
Nossa Senhora lavava
e S. José estendia
e o Menino chorava
com o frio que fazia.
Calai-vos, meu Menino,
calai-vos meu amor,
isto são navalhinhas
que cortam sem dor.
(Poema popular, canção do Redondo)
Este Menino
Este Menino
É pequenino
Qual passarinho
A querer poisar
Devagarinho.
Devagarinho
Poisa no ninho
Que o colo tem:
Ninho do colo
Da sua mãe.
Maria Alberta Menéres, O Livro do Natal
O Menino Dorme
O Menino nasceu
Deixai-o estar sossegado
Na sua caminha de oiro
Com a mãe e o pai ao lado!
Vai-te embora rouxinol
P`ra longe desse loureiro,
Deixa dormir o Menino
Que está no sono primeiro!
Tu também, ó cotovia
Já são horas de parar!
Se não paras, o Menino
Não tarda, vai acordar!
E tu, ó melro atrevido,
Que te escondes no silvado.
Vem só cantar ao Menino
Quando estiver acordado!
O Menino dorme, dorme,
Naquele sono profundo...
Quando mais logo acordar
Vai sabê-lo todo o mundo!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
Pórtico
Entre nós uma estrela
assim acesa,
acesa,
acesa:
a notícia de que o Menino nasce
sempre em berço de surpresa.
João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
Coração de Dezembro
No coração de Dezembro se faz
um caudaloso hino de amor e paz:
Um menino, saltando o muro
da eternidade, vem ao mundo
dar ao tempo novo tempo, maduro
de festa e promessa. Nele se faz fundo
a medida do corpo do futuro.
João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
O Menino Deus
Um pastor vindo de longe
À nossa porta bateu;
Trouxe recado que diz:
- O Deus Menino nasceu.
Este recado tivemos,
Já meia-noite seria;
Estrelas do céu, lá vamos
Dar parabéns a Maria.
Mas que Lhe havemos de levar,
A um Deus que tanto tem?
- Ainda que muito tenha
Sempre gosta que Lhe dêem.
- Eu Lhe levo um cordeirinho,
O melhor que eu encontrei.
- E eu Lhe levo um requeijão,
O melhor que eu requeijei.
- Pois também eu aqui levo,
Fofinhos, para Lhe oferecer,
Bons merendeiros de leite,
Favo de mel, pra comer.
- Vamos ter com os mais pastores,
Não se percam no caminho.
Vamos todos, e depressa,
Adorar o Deus Menino.
- Vinde também pastorinhas,
Vinde, correi a Belém;
Vinde visitar Maria
Que divino Filho tem.
- Esta noite é santa noite,
Inda assim, mesmo tão fria;
Vamos todos a Belém
Visitar Jesus, Maria.
- Ai, que formoso Menino;
Ai, que tanta graça tem!
Ai, que tanto Se parece
Com a sua senhora Mãe!
(Poema popular)
Dorme, dorme…
Vai-te embora, passarinho,
deixa a baga ao loureiro,
deixa dormir o Menino
que está no sono primeiro.
Dorme, dorme, meu Menino,
que a Mãezinha logo vem.
Foi lavar os cueirinhos
à fontinha de Belém.
(Poema popular da Ilha de São Jorge – Açores)
Loas ao Menino
Menino Jesus,
Que estás no altar,
Não tenho presentes
Para Te levar!
Não tenho palácios,
Não tenho campinas,
Nem mantos de seda,
Nem cambraias finas!
Não tenho tesouros,
Nem disso ilusões!...
Sou pobre nos sonhos
E nas ambições!
Não tenho riquezas,
Nem compras de feira,
Só tenho o que cabe
Na minha algibeira!
Tenho um piãozinho,
Mais uma baraça
P’ró fazer girar
No meio da praça!
Tenho dois berlindes,
Um verde e um lilás,
E a jogar com eles
Nunca fico atrás!
Ah, que bom seria
Poderes aprender,
E eu ser teu mestre
E ver-te vencer!...
Menino Jesus,
Que estás no altar,
É tudo o que tenho
Para te levar!
E nada mais levo,
Por mais que queira,
Pois é pequenina,
A minha algibeira!...
Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
PRESÉPIO
Presépio
O presépio é a casa,
o abrigo e a fonte,
é o destino da estrela
esperando que o sol desponte.
O presépio é o lugar
que o menino quis escolher
para anunciar ao mundo
que acabara de nascer.
Os animais que se juntam
para lhe darem calor
são o teto e são a casa,
são uma prova de amor.
Faz-se um presépio de barro,
lembrando o original,
que por ser quente e humano
nunca há-de ter igual.
Até o cão e o gato
que parecem lá não estar
ficaram ao fundo à espreita
para poderem festejar.
Os primos vão buscar musgo
e dão um toque mais quente
ao presépio deste Natal
que vai juntar toda a gente.
O presépio é o abrigo
onde dorme a lua cheia,
que guarda uma surpresa
para um menino sem ceia.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
A ovelha do presépio
Eu vim trazer agasalho
ao menino de Belém
que dorme um doce soninho
no colo da sua mãe.
As histórias que eu já ouvi
dizem ser especial
o que iria acontecer
nessa noite de Natal.
Sou a ovelha discreta
que se contenta em balir
para dizer ao menino
o que ele deseja ouvir.
Sou a ovelha do presépio
em fresco barro moldada,
mas já fui de carne e osso
nessa fria madrugada.
O que fazem no presépio
outros bichos como eu?
Vêm dar calor à noite,
que o menino já nasceu.
Ontem deixei o rebanho
e amanhã lá voltarei;
hoje é este o meu lugar
junto ao menino que é rei.
Ele fica acompanhado
por quem lhe quer tanto bem;
dorme um sono descansado
sobre o regaço da mãe.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O presépio dos avós
Vêm de noite, cansados,
sem temerem a distância
pois os netos estão à espera
no reino da sua infância.
Há dias encomendaram
um enorme bolo-rei
que tem uma fava rija
e um brinde em ouro de lei.
São amigos do Pai Natal
e também são construtores
dos presépios de outros tempos
que tinham anjos voadores.
Pensaram escrever um livro
lembrando os velhos natais
em que havia mais esperança
nas notícias dos jornais.
Mas o livro que escreveram
foi afinal o da vida
que há-de ter um fim feliz
na hora da despedida.
Agora tem os netos
sentados à sua volta;
são a roda dos afetos
com tanta ternura à solta.
São o tempo que dá tempo
aos pais atarefados,
são a alegria que espalha
sorrisos por todos os lados.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Maria e José
Debruçados sobre o berço
vão velando noite fora
pelo sono do menino
até ao nascer da aurora.
Se dormir sem sobressalto
terão noites sossegadas
e quando os dentes romperem
já não serão descansadas.
Já chegaram os amigos,
que o tempo é de festejo,
Maria embala o menino
E, ao deitá-lo, dá-lhe um beijo.
José, que é carpinteiro,
deixou trabalho adiado;
tem o presépio a cargo
e não dorme descansado.
Com a madeira que talha
fez um berço tão bem feito
que o menino quando dorme
tem um soninho perfeito.
Da fonte vem água fresquinha,
De longe alguém traz o mel
Que adoça a boca da noite
Fechada ao amargo do fel.
Quem se junta à família
que muitos dizem a sagrada
acende uma vela branca
no centro da madrugada.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O Burro do Presépio
Sou versado em pouca coisa
mas burro é que eu não sou;
entre os bichos do presépio
eu sei sempre onde é que estou.
Se era preciso calor
e uma terna companhia,
ali estava eu presente
enquanto o menino nascia.
Como não sou adivinho,
nem sequer mestre em magia,
quem esse menino era
eu ao certo não sabia.
Filho de gente modesta,
tinha um brilho no olhar
que era só comparável
ao das noites de luar.
Velando pelo seu sono,
sem o deixar despertar,
eu ficava de atalaia
evitando até zurrar.
Sem que saiba bem o quê,
qualquer coisa me fez pensar
que essa noite em Belém
o mundo iria mudar.
Mal sabia nessa altura
num lugar de escassa luz,
que essa criança, afinal,
era o Menino Jesus.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
A Vaca do Presépio
Sou a vaca do presépio,
amiga do seu amigo,
que o destino encaminhou
para dentro deste abrigo.
Sempre que um menino nasce,
tem o leite da sua mãe,
mas para crescer saudável
pode ter o meu também.
Como sou um bicho forte
que dá alento e calor,
vim ajudar o menino
e pôr-me ao seu dispor.
Segui uma estrela no céu,
como os outros a seguiram,
e com assombro e ternura
também vi o que eles viram.
Vi um menino acordado
enquanto o mundo dormia
e encontrei nos seus olhos
a paz que nos prometia.
Sou a vaca do presépio,
já só em miniatura,
mas continua a ser farta
a minha ração de ternura.
Como nesse tempo antigo
não havia fotografia,
só existo na memória
de quem celebra esse dia.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
OS REIS MAGOS
Cantiga dos Reis
Santos Reis, santos coroados
Vinde ver quem vos coroou
Foi a virgem, mãe sagrada,
Quando por aqui passou.
O caminho era torto
Uma estrela vos guiou
Em cima de uma cabana
Essa estrela se pousou.
A cabana era pequena
Não cabiam todos três;
Adoraram Deus-Menino
Cada um por sua vez.
Cantiga Popular de Barcelos, recolhida por Luísa Miranda
Os Reis Magos
São três e chegam de longe
com um sonho na bagagem:
querem estar com o menino
antes que finde a viagem.
São magos do Oriente,
mas não são magos de rua;
acreditam nos cometas,
nas estrelas e na lua.
São os magos viajantes
que resistem à fadiga,
seguindo o rasto de luz
de uma estrela que é amiga.
São os Reis Magos que chegam
das mais remotas paragens
com ouro, incenso e mirra
que trazem de outras viagens.
São os Reis Magos felizes,
joelho assente na terra,
com um voto e uma prece:
“Menino, põe fim à guerra.”
Gaspar, Baltazar e Belchior
pedem à estrela brilhante:
“Dá nome a este menino
antes que o galo cante.”
Viemos aqui nesta noite
com um desejo profundo:
queremos ver o menino
que vem dar esperança ao mundo.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Os Reis
São chegados os três reis
Lá das partes do Oriente,
A visitar o Menino
Santo Deus omnipotente.
Guiados por uma estrela,
Vieram ter a Belém
Onde estava o Rei do Mundo,
Que nasceu p’ra nosso bem.
A estrela se escondeu
Por trás de uma estrebaria;
Dentro estava o Deus Menino
E mais a Virgem Maria.
O curral era pequeno,
Não cabiam todos três:
Adoraram o Menino
Cada um por sua vez.
Ouro, mirra e incenso
Todos três lhe ofereceram;
Aos pés da Virgem Maria
As ofertas estenderam.
Pondo os joelhos em terra,
Adoraram a Jesus,
Filho de Deus encarnado,
Que é toda a nossa luz.
Santos reis, santos coroados,
Foi Jesus que vos coroou,
Jesus que, p’ra nos salvar,
Deus ao mundo enviou.
Nesta noite tão feliz
Cantemos com alegria:
Já nasceu o Rei da Glória,
Filho da Virgem Maria.
(Poema popular)
Os três reis do Oriente
Eram três reis do Oriente
E partiram mundo além,
À procura do Menino
No presépio de Belém!
Foram chamadas em sonho
Por um sagrado destino:
Guiados por uma estrela,
Lá foram dar com o Menino!
À entrada de Belém,
Logo a estrela se escondeu
Por detrás dessa cabana
Onde o Menino nasceu!
A cabana era pequena,
Não cabiam todos três,
Tiveram de ir adorá-Lo
Cada um por sua vez!
Os presentes que levaram
Mirra, incenso e muito ouro,
Eram p´ra que Ele ficasse
Dono de grande tesouro!
Puro engano, já se vê,
Desses reis orientais...
Pois p´ra Ele um bom tesouro
É o Amor… e pouco mais!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
Adoração dos Magos
Pelas veredas do deserto,
seguem, rumo a Belém,
Gaspar e Baltazar, mais perto,
Belchior, um pouco além.
A estrela que, na noite escura,
só eles vêem brilhar,
nesse instante de ventura,
que os protege ao caminhar.
Pelo céu da Galileia,
vigiam anjos cantando
loas divinas que, à ceia,
os antigos vão recordando.
Em baús, trazem presentes
que, conforme a tradição,
doaram reis, e descendentes,
aos de cada geração.
Ouro, incenso, do melhor,
que possuíam guardados;
mirra, pois, que p’ró merecedor
só os mais recomendados.
Pelas veredas do deserto,
Guia, os Reis Magos, a estrela,
que, da Terra, brilha tão perto,
e ninguém possa esquecê-la.
Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
A estrela de Belém
Vem de longe esta estrela
que os Reis Magos orienta
no caminho para Belém,
na sua passada lenta.
Nunca outra brilhou tanto
no imenso firmamento,
pois tem um recado a dar
não bastando dá-lo ao vento.
Os Reis Magos, que são três,
seguem-na com confiança,
já que ela traça a rota
que os conduz à criança.
São eternos andarilhos,
estes magos viajantes
que o céu pôs em movimento
na rota dos caminhantes.
São magos porque a magia
nunca os leva ao engano
e a estrela dá o sinal
já perto do fim do ano.
Ó estrelinha de Belém,
que és grande e pequenina,
guia os reis vindos de longe
pelos céus da Palestina.
Ó estrelinha que anuncias
a chegada do menino,
vem dizer a este mundo:
“Por favor, vê se tens tino!”
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Minha Mãe, uma estrela!
Ó mãe, anda ver
No céu a brilhar
Uma linda estrela
Que te vou mostrar
É tal qual aquela
- Repara! Olha bem! –
Que levou pastores
E reis a Belém.
Será que ela viu
Nascer o Menino?
E que lá do alto
Lhe guia o caminho?
Será que é tão grande
O dom dessa estrela
Que ainda hoje somos
Guiados por ela?...
Meu Deus, e parece
Que me está a olhar!...
Talvez tenha vindo
Para me chamar!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
PAI natal
Eu queria ser Pai Natal
Eu queria ser Pai Natal
E ter carro com renas
Para pousar nos telhados
Mesmo ao pé das antenas.
Descia com o meu saco
Ao longo da chaminé,
Carregado de brinquedos
E roupas, pé ante pé.
Em cada casa trocava
Um sonho por um presente
Que profissão mais bonita
Fazer a gente contente!
Luísa Ducla Soares, Poemas da Mentira e da Verdade
Engano do Pai Natal
O menino louro,
rosado,
tinha um coração de ouro.
E ficou tão triste
quando olhou
para o sapatinho
do menino pobre.
Disse-lhe então:
- Bem vês, amigo,
o Pai Natal passou
de presentes carregado,
mas já ia tão cansado
que tudo trocou.
Mas vem comigo.
Agora,
não faças ruído
porque ali,
nas palhinhas deitado,
dorme o Menino.
E assim
foi de mansinho
em busca dos seus brinquedos
para ofertar ao amigo,
dizendo baixinho:
- O engano está desfeito,
mas não digas a ninguém!
Um engano
até o Pai Natal tem!
Luísa Pinto Leite, Companheiro
Pai Natal
Pai Natal, acabo de perceber
que não és imparcial.
A alguns meninos deste tudo
e a outros não deste nada.
Será que perdeste a morada,
não estava a tundra gelada,
ou estava a rena cansada?
No Natal que logo vem,
pensa bem pois não pode ser assim.
Ou dás presentes a todos
ou não os dás a ninguém.
Nem a mim.
Regina Gouveia, Ciência para meninos em poemas pequeninos
O Pai Natal
Não é figura do presépio
pois pertence a outra história;
atravessa a noite escura
seguindo os fios da memória.
Dizem que traz os presentes
que os meninos lhe pediram:
brinquedos, livros e jogos
como nunca antes viram.
Tem muita pressa em chegar
ao fim da sua viagem,
por isso dá pressa às renas
e nem vê a paisagem.
De barrete e barba branca,
é um avô bem-disposto
que tudo faz para afastar
a doença e o desgosto.
Nunca parou no presépio
que é de um outro Natal;
o seu é frio e do norte
como o inverno glacial.
Se o menino o conhecesse,
havia de gostar dele;
pedia-lhe a luz de uma estrela
e dava-lhe um pouco de mel.
Ei-lo que parte apressado,
já exausto de viagens,
levando o saco vazio
depois de tantas paragens.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
NATAL
Visitação do Anjo
Povos da Terra, acordai
Que o mensageiro chegou
À Terra de Deus, olhai
A estrela que o guiou.
Do recado que o traz
Ao mundo, por bem, dirá
Qual a mensagem de paz
Que de nós outros fará.
Por graça divina vêm
Com ele, os anjos do céu,
Livrar, pois, os que detêm
Do mal culposo labéu.
Não fosse, então, de favor
A hora deste rebate
Que grandeza, que louvor
Serviria de resgate
À mais nobre condição
De filhos de Deus, primeiro,
A quem a voz da redenção
Salvou, depois, por inteiro?
Povos da Terra, acolhei
Da parte de Deus, cantando
O anjo que, em nome da lei,
À terra veio a seu mando.
Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
Para aí!
Onde vais linda gaivota
Passeando sobre o mar?
Para aí porque é Natal
Vem connosco festejar.
Onde vais vento do Norte
Furioso e a soprar?
Para aí porque é Natal
Vem connosco festejar.
Andorinha viajante
Que partes para voltar
Para aí porque é Natal
Vem connosco festejar.
Cisne tão belo e altivo
De uma brancura sem par
Para aí porque é Natal
Vem connosco festejar.
Crianças deste jardim
A correr e a saltar
Parem todas. É Natal
Juntas vamos festejar.
Natal é tempo de Amor
Tempo de Paz e de Luz
Juntas vamos adorar
O bebé que é Jesus.
Isabel Lamas, O Pai Natal quer ser Poeta…
Voar, voar
Por muito voar
Por cima do mar
Uma andorinha
Ficou cansada.
Voar, voar mais
Já não sou capaz
Preciso parar
E voltar para trás.
Lá longe no céu
a Lua apareceu
- Vem andorinha
Podes seguir-me.
Disse-lhe ela
Bondosa a sorrir.
Vieram mil estrelas
Todas a brilhar
Teceram um manto
Lindo de encantar
Pelos céus além
Brilhava esta luz
quando apareceu
o Menino Jesus
sorriu docemente
estendeu a mãozinha
para nela poisar
a nossa andorinha.
Isabel Lamas, O Pai Natal quer ser Poeta…
Natal Africano
Não há pinheiros nem há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal.
Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.
Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.
Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é Noite de Natal.
Cabral do Nascimento, Obra Poética
Lapinha
Já lá vem àquela esquina
Uma preciosa dama
Visitar o Deus Menino,
Nascido em pobre cabana.
Não foi por falta de casas
Ou porque as não haveria,
Feitas do mais puro ouro,
Da mais fina pedraria;
Foi para nos dar o exemplo
Na pobreza de Maria.
(Cantiga popular de Loulé)
Dezembro
Dezembro entrou
Em bicos de pés,
Branquinho
De arminho
Espalhando a neve
De lés a lés.
Ouve-se ao longe
Música leve,
Celestial…
Daqui a pouco
Chega o Natal!...
Clara Abreu, O Meu Livro das Festas
Natal
Entrai, pastores, entrai
Por este portal sagrado.
Vinde adorar o menino
Numas palhinhas deitado!
Pastorinhos do deserto,
Todos correm para o ver.
Trazem mil e um presentes
Para o Menino comer!
Maria Alberta Menéres, O Livro do Natal, (canção popular de Linhares)
Natal dos pobres
Quando a mulher adormeceu
naquela noite de Natal,
o homem foi, pé ante pé,
pôr um sapato (dela, não seu)
com um embrulho de jornal
na lareirinha da chaminé.
Um casal pobre…um ano mau…
era um pedaço de bacalhau.
Ora alta noite, pela janela,
com fome e frio, entrou um gato
que, no escuro, cheirando aquela
comida boa no sapato,
rasgou o embrulho, comeu, comeu
e, quente e farto, adormeceu.
De manhã cedo, ela acordou,
foi à cozinha e viu o gatinho
adormecido no seu sapato.
Voltando ao quarto feliz, feliz, falou
para o seu homem: - Meu amorzinho,
como soubeste que eu queria um gato?
Leonel Neves, O Menino e as Estrelas
Cartão de Natal
Escrevi
Um cartão de Natal
Dentro de mim.
Tenho-o presente
E (se puder)
Vou dá-lo a toda a gente.
Fiz-lhe um desenho
Leve e risonho,
Do tamanho
Do meu sonho.
E uma palavra só, aberta
Como uma flor
A responder
Na rima certa:
AMOR!!
Maria Alzira Machado, Pela Mão do Teu Sonho
Natal
O menino Jesus já cansadinho
por tanto andar por cima dos telhados,
descalçou os sapatos apertados
(e eram novos) e pô-los no caminho.
Nisto, sentiu ruído ali pertinho.
Trepou à chaminé com mil cuidados,
e que viu? Dois tamancos esburacados
e, ao pé deles, rezando, um petizinho.
O menino Jesus que faz, então?
Sem ter nenhum brinquedo ali à mão,
(destes que tanto agradam aos garotos).
Troca os sapatos pelos do petiz
e, depois, vai ao céu mostrar, feliz,
à Virgem Mãe os tamanquinhos rotos.
Adolfo Simões Muller
Matinas de Natal
Vai a noite em retirada,
que a estrela d’alva lá vem.
É tempo de anunciada,
já a luz desperta além.
Com cuidado desmedido,
deixam pastores, o redil,
que o monte lhe é devido,
canseira de passos mil.
Por ondulantes colinas,
repicam bronzes de sino
em ermidas pequeninas,
brancos sonhos de menino.
Para onde correm à pressa
as águas frias, quebradas,
da vida a que não regressa
a dor de vidas passadas?
Pelas versas do olival,
anda o estorninho a cantar
mágoas de amor sem igual
a pena de as não chorar.
Vai a sombra em retirada
do dia que, então, nasceu
para ser de anunciada
ao mundo que o não esqueceu.
Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
Romanceiro de Natal
Esta noite é Noite Santa,
Já a lareira aquece o lar,
Bendizendo a luz que encanta
Quem connosco vem morar.
Pelos caminhos da Terra,
Seguem, de perto, a estrela
Reis que trocaram a guerra
Pela paz, para merecê-la.
Por eles passam pastores,
Com seus rebanhos pacatos,
Tornam-se os servos senhores
A quem todos ficam gratos.
Por entre salmos divinos,
Louvam os anjos, então,
Maria, a quem erguem hinos
De serena gratidão.
Oferendas nunca trazidas
De tão longe ficam bem,
Junto de quem honras devidas
Não esperava de ninguém.
Povos da Terra, cantai,
Bendizei o Criador
Que, por nós, pediu ao Pai
Para ser nosso redentor.
Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
Natal chique
Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na minha pressa e pouco amor.
Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.
Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado…
Só esse pobre me pareceu Cristo.
Vitorino Nemésio
Missangas de Natal no avental da avó
Caiu no avental da avó
uma rena lá do Pólo;
anda agora no seu colo
beliscando o pão-de-ló.
Perto do bolso da algibeira
um trenó descontrolado
cobiça o bolo-rei do lado
e escorrega prá sua beira.
Bem no meio do peito está
o bom do velho Pai-Natal,
depois do Menino, afinal,
é ele quem mais prendas dá.
Junto da alça do pescoço
um ramo verde de azevinho
saboreia já o doce cheirinho
do que virá depois do almoço.
No fundo da bainha, os sinos,
embora quedos e mudos, estão,
pela cor e tom, a chamar a atenção
que nasceu o Menino dos meninos.
Nas costas, o laço do avental,
sozinho, mas não entristecido,
sabe bem que lhe é devido
o lugar de cada missanga de Natal.
João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
O Natal da escola
O Natal vai à escola
com roupas de fantasia;
num bolso leva os sonhos
e no outro a poesia.
O Natal pousa nos livros,
no quadro e nas carteiras
e deixa um pó de estrelas
no fundo das algibeiras.
E até o telemóvel,
que na aula não deve entrar,
quando toca de repente
é o Natal que vem lembrar.
O Natal entra na escola,
na mochila e nos cadernos
e segreda ao ouvido
os votos que são eternos.
O Natal é o recreio
que a campainha anuncia;
todos celebram contentes
o sentido desse dia.
Há quem lhe chame magia
e quem não lhe chame nada;
este ano dão-nos livros
com uma história ilustrada.
Essa história foi contada
de geração em geração
e hoje quem a conta
são os meninos que ali estão.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O Espírito do Natal
Ninguém sabe que forma tem,
se é magrinho ou anafado,
se tem perfume de sândalo
ou bigodinho aparado.
Ninguém sabe se é um menino
ou se é um Pai Natal,
se tem voz doce e timbrada
ou um tom mais gutural.
Ninguém sabe bem o que é
esse espírito de que se fala,
se vem dentro de um trenó
ou no forro de uma mala.
Ninguém sabe se é brinquedo
ou objeto de valor,
se tem nome e morada
ou se é coisa de sonhador.
Ninguém sabe que cor tem,
se é vermelho ou amarelo,
se tem caracóis prateados
ou flores azuis no cabelo.
Só de uma coisa há certeza
e é rara e especial:
aquilo de que falamos
é o Espírito de Natal.
E esse Espírito do Natal
que trabalha sem horário
é doce, quente e fraterno,
amigo e solidário.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O dia de Natal
S. José e mais Maria
iam ambos de jornada:
S. José andava muito
e Maria is cansada.
Viram ao longe uma casa,
foram lá pedir pousada.
Chamaram pela patroa,
e respondeu a criada:
- é um homem e sua mulher
que nos vêm pedir pousada;
trazem um filho nos braços,
que nasceu de madrugada.
(Poema popular de Gralhós – Montalegre
Conto do Natal
Estando a Virgem
À borda do rio,
Lavando os cueirinhos
Do seu bento filho,
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S. José estendia,
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Com o frio que fazia.
A Virgem ao peito
O foi aconchegar
E logo o Deus Menino
Deixou de chorar!
(Poema popular de Cardigos)
Chegou o Natal
O Natal está a chegar
E há tanto para fazer:
Presentes para comprar
E postais para escrever.
Já comprei muitas prendinhas
E estou muito carregada
Andei todo o dia na rua
E agora estou muito cansada.
Já estou a fazer os arranjos
Para a noite de Natal
Quero tudo muito lindo…
Nada pode correr mal!
Olhem só o que encontrei
Arrumado num cantinho…
Há velas, bolas, grinaldas,
Fitinhas e azevinho.
O pinheiro está tão lindo!
Todo ele a cintilar.
Já vesti o meu pijama
E agora vou-me deitar.
À noite, na missa do galo,
Ao som da “Noite Feliz”
Vai haver um teatrinho
E o anjo é o Luís.
Já está tudo preparado
E as crianças estão contentes
Só falta o Pai Natal
Deixar ficar os presentes.
Mais tarde, pé ante pé,
Quando está tudo a dormir,
Aparece o Pai natal
Para as prendas distribuir.
Sarah Kay
Natal na capelinha
Conta uma história antiga que um mendigo,
Doa que não tem teto nem lareira,
Na noite de Natal buscou abrigo,
Na ermida da Senhora da Azinheira.
E no chão térreo e frio da capela
Fez um borralho e uma humilde ceia,
Depois foi ao altar, fixou-se n’Ela,
E pô-La com o Menino à sua beira.
“-Consoamos – disse ele- os três assim:
O bebé faz de filho, ao pé de mim,
E a Senhora, que é a Mãe, faz de quem é!
Com Vós os dois, aqui, neste cantinho,
Até eu, um humilde pobrezinho,
Já me sinto a fazer de S. José!”
Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Alta vai a Lua!...
Alta vai a Lua, alta,
Alta vai, deixá-la ir!...
Vai a dar a luz ao caminho
Que Maria está a seguir!
S. José vai atrás dela
E não a pode alcançar…
Só ela sabe que a hora
Está mesmo, mesmo, a chegar!
Foi alcançá-la em Belém,
Já o Menino nascia!
Mas a pobreza era tanta
Que nem um panal havia!
Deitou as mãos à cabeça
E, usando o próprio véu,
Fez o primeiro agasalho
Que o Menino recebeu!
E nesse momento um anjo
Do céu à terra descia!...
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E mensagens de alegria!
Alta vai a lua, alta,
E que bonito luar!...
Nem o sol ao meio dia
Tinha tanta luz p’ra dar!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Natal de um menino de rua
Menino da rua,
Tão triste que estás,
Vem dizer-me quem
Tanto mal te faz!
Se és dono e senhor
Das ruas, do tempo,
Da noite e do dia…
Que é que te falta
P’ra teres alegria?
“P’ra ter alegria,
Bastava, afinal,
Eu ter, como os outros,
Também um Natal!
Ou lá porque sou
Menino da rua,
Não tenho direito
Também a uma noite
Feliz como a tua?
Ter prendas, luzentes,
No meu sapatinho
Junto à chaminé!...
E sentir os passos
Daquele Menino
Que vem de mansinho
Lá de Nazaré?...
Será pedir muito
Numa noite assim?
Será que o Menino
Nada tem p’ra mim?”
Menino da rua,
Para de sonhar!...
Que ao Menino Deus,
Mesmo pobrezinho,
Sem teto, sem lar…
Jamais lhe faltou
Algo p’ra nos dar!
Dá-nos esta esperança
Que nos incendeia,
A partir da luz
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Da nossa candeia!
Vem daí, menino,
Que o nosso Natal
Há-de ser de todos
O mais genial!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Natal do gaiteiro
Como um peregrino,
Lá vai o gaiteiro,
Vai de terra em terra
Sem cobrar dinheiro!
Chapéu de mendigo,
Capa de burel,
Tamancos de pau,
Polainas de pele…
A gaita-de-foles,
De odre encardido,
Embala-lhe os passos
Quando está perdido!
Olhai-o, lá vem!
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Depois duas, três…
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Como por magia
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Que ele fez um dia!...
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Depois uma morna,
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E outras nem tanto,
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A puxar o pranto!...
É esta a rotina
Do pobre gaiteiro,
Sempre a dar ao fole
Sem cobrar dinheiro!
E onde quer que vá,
À falta de um lar,
Ao cair do dia,
Dorme onde calhar!
Chegado o Natal
Sem uma família
Sem uma lareira
Consoa sozinho
E à sua maneira!...
No forno do povo,
O calor lhe sobra,
Come couve troncha
E fritas de abóbora!
No fim tem a gaita
E uma morna lenta
Como companhia…
Depois adormece
Até vir o dia!
E ainda se julga
Mais afortunado
Que aquele Menino
Nascido na gruta
E em palhas deitado!
É assim a história
Do pobre gaiteiro!...
Pobre porque vende
A sua alegria
Sem cobrar dinheiro!
E ao acordar
A gosto lhe sai
Um som matinal…
Desejando aos outros
Um Feliz Natal!
Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Natal de um pastorinho
Pela serra acima
Vai o pastorinho,
Leva o seu bornal
Bem recheadinho!
Batendo os tamancos,
Lá vai pela manhã
Vestido de croça
E gorro de lã!...
As ovelhas mansas
Seguem a seu lado,
P’ra lidar com elas
Não usa o seu cajado!
Fala-lhes mansinho:
“Meninas, correr!”
E elas tratam logo
De lhe obedecer!
Porém uma delas
Não aguentou mais,
Deitou-se p’ró lado
Ao pé duns giestais!
E logo o pequeno
De tão perspicaz
Deu pela falta dela
E voltou atrás!
Andou meia légua,
Achou-a deitada:
Ia dar à luz
Não tardava nada!
E o pastorinho
Lá fez de parteiro
Tomando nas mãos
Um lindo carneiro!
Feliz a ovelha
Feliz o pastor:
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E p’ra festejar
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Havia o farnel…
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Depois lá seguiram
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Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Natal de um palhacinho…
Pela rua abaixo
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Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
Ó Pastores que andais na serra
Ó Pastores que andais na serra,
não corteis o rosmaninho,
onde a Virgem Mãe estende
os paninhos do Menino.
Ó Pastores que andais na serra,
não corteis a bela-luz,
onde a Virgem Mãe estende
os paninhos de Jesus.
Ó Pastores que andais na serra,
não corteis a gesta em flor,
onde a Virgem Mãe estende
os paninhos do Senhor.
(Poema popular de Mouçós, Vila Real)
TRADIÇÕES
As prendas de Natal
Vem dos tios, dos avós
em embrulhos coloridos;
são livros e são brinquedos
já há muito prometidos.
E nunca mais chega a hora
de serem desembrulhados;
enquanto o momento tarda
há meninos acordados.
Ao Natal do presépio
deram os reis os presentes,
magos vindos tão longe
com túnicas reluzentes.
O menino, mal os viu,
logo se pôs a pensar:
“Talvez o melhor presente
seja o amor que vou dar.”
Chega embrulhado no sono
o presente mais gostoso:
é o colinho dos pais
abrindo a porta ao repouso.
E paira no ar a pergunta
que faz o maior sentido:
para se ter um presente,
há que tê-lo merecido?
Seja Jesus ou Pai Natal,
nisto hão-de concordar:
o que conta nesta vida
é sabermos partilhar.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Os doces de Natal
Já se encontra a mesa posta
com sonhos e azevias,
bolo-rei e coscorões
e muitas outras iguarias.
Com os doces vem afetos,
mas convém não abusar,
porque quem os come a mais
vai pela certa engordar.
Os doces são a ternura
que hoje aqui se partilha
e quem à mesa se sente
não pode ser uma ilha.
Broas, fatias douradas
são a melhor companhia
para dar aos versos rimas
da mais doce poesia.
E até o avô João,
que costuma ter cautela,
vai abrir uma exceção
com bolinhos de canela.
O menino do presépio
doces não pode comer,
mas anuncia a doçura
que nos ajuda a viver.
E há um menino triste
que sofre de diabetes
e sabe que o açúcar
tem mil e um diabretes.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
A missa do galo
Já a família se junta
para ir à Missa do Galo
e há quem vá de charrete,
de carro ou a cavalo.
Só o galo madrugador
não se mostra nada contente
por ter à hora do sono
visitas de tanta gente.
O seu desejo seria,
já que dá nome à missa,
pôr-se a cantar no altar
de forma altiva e castiça.
Mas isso não está previsto
no programa natalício;
as galinhas põem ovos
e ele só tem esse ofício.
Canta, galinho, canta
que o teu cantor tem graça;
tocam sinos a repique
enquanto a gente se abraça.
Canta, galinho, canta
para que chegue ao destino
esse canto madrugador
de quem saúda o menino.
Se a missa é do galo,
não há missa da galinha
que trabalha sem descanso
desde manhã à noitinha.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
A árvore de Natal
A árvore tão verde e esguia
que em Dezembro se enfeita
é guardiã dos presentes
tendo os meninos à espreita.
Viva a árvore de Natal
que no presépio não esteve
mas que gosta de aparecer
de mão dada com quem escreve.
Já se forma uma roda
em seu redor, animada,
à espera da meia-noite
em tempo de consoada.
Se esta árvore voasse
talvez fosse para Belém
só para ver no presépio
o menino ao colo da mãe.
Levava as estrelas nos ramos
e anjinhos prateados,
seus guias na travessia
dos céus enevoados.
Um jovem pinheiro manso
vai cumprir essa função
de enfeitar este Natal
dando mais brilho ao serão.
Em tempo de vacas magras
é nas prendas que mingua
o desenho de quem sonha
às crianças dar a Lua.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
O peru da consoada
Eu sou o peru do Natal
que anima a Consoada,
fiquei fora do presépio
nessa noite festejada.
Bem podia lá ter estado,
mesmo junto das palhinhas
em vez de ser cozinhado
entre tenras batatinhas.
Para mim é triste o Natal
por ter os dias contados;
não há nada que me salve,
nem domingos nem feriados.
A Jesus, que é bom menino,
quero fazer um pedido:
se o pobre peru for salvo,
o Natal tem mais sentido.
Quando dezembro começa,
logo começo a sofrer,
pois falta menos de um mês
para o pior me acontecer.
Se cheguei tarde ao presépio,
juro que culpa não tive,
que o peru é cumpridor
durante o tempo que vive.
Se desta sina me queixo,
não sendo desmancha-prazeres,
é por achar que a festa
se faz com outros comeres.
José Jorge Letria, O Livro do Natal
Um figurão
-Para a mesa é que eu não vou! –
Dizia o peru
A fazer Glu Glu.
-Prefiro uma pinguinha
De aguardente,
À tardinha.
E lá caiu na esparrela
De beber a aguardente
E apanhar “uma piela”…
Boa mão o temperou,
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Fez na mesa um figurão!
Alberta Menéres, O Livro do Natal
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Poemas de Natal

  • 2. Aguarela da Sagrada Família Era um menino como outro qualquer, nascido de mulher e pequenino. Era uma jovem mãe como cada uma é, sempre ao pé do seu bem. Era um pai como todo deve ser, a permanecer, mesmo se vai. Era uma família feliz como não houve igual. É por isso que ainda se diz e se faz a festa do Natal. João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
  • 3. A fala do Menino Jesus Ainda agora aqui cheguei e já tenho companhia: são os bichos do presépio que me enchem de alegria. Minha mãe já me embala no casulo da ternura e refresca os meus lábios com um fio de água pura. Quando crescer terei tempo de lhes dizer ao que vim e quem me quiser seguir que venha juntar-se a mim. Eis que chegam os Reis Magos vindos lá do Oriente com segredos bem guardados dentro de cada presente. A vaca, o burro, a ovelha são a minha doce guarda, bem diferente dos romanos, altivos na sua farda.
  • 4. Ainda agora aqui cheguei e estou no centro da luz; os meus pais chamam-me filho, os outros chamam-me Jesus. Por este nome, estou certo, serei sempre conhecido; e hão-de chamar-me menino já depois de ter crescido. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 5. O sonho do Menino Jesus O menino nasceu de um sonho tecido como um novelo feito com os fios de luz de uma estrela no cabelo. O menino olhou em volta para ver mais adiante e aquilo que encontrou foi raro e deslumbrante. Chamou a vaca e o burro para estarem junto de si e eles obedeceram não saindo mais dali. Era um rei pequenino de um reino apenas sonhado e traçou o seu destino num presépio acanhado. Os poderosos de então, fossem judeus ou romanos, queriam-no bem vigiado por muitos e muitos anos. Mas ele, que nasceu livre,
  • 6. em liberdade quis crescer, seguido por gente boa que com ele ia aprender. E o seu maior milagre, o que tem mais valor, foi ter mostrado ao Homem a força que há no amor. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 7. Ó Meu Menino Jesus Ó Meu Menino Jesus boquinha de requeijão dai-me um bocadinho dele que a minha mãe não tem pão. Ó Meu Menino Jesus boquinha de marmelada dai-me um bocadinho dela que a minha mãe não tem nada. Ó Meu Menino Jesus Ó minha estrela do céu Tendes cabelinho de oiro Nem precisais de chapéu. (Poema Popular)
  • 8. O Menino brincando Ó Meu Jesus adorado, Fecha os teus olhos divinos Num soninho descansado; Que a não sermos tu e eu Toda a gente do povoado, Desde os velhos aos meninos, Há muito que adormeceu… E o Menino Jesus não se dormia… Dorme, dorme, dorme agora (Cantava a Virgem Maria) Que mal assomou a aurora, Sentei-me junto ao tear E por todo o dia fora, Até que já se não via, Não deixei de trabalhar! E o Menino Jesus não se dormia… Tornava Nossa Senhora, Numa voz mais consumida: Dorme, dorme, dorme agora E que eu descanse também, Porque mesmo adormecida
  • 9. Vela sempre, a toda a hora, No meu peito, o amor de mãe. E o Menino Jesus não se dormia… Numa voz mais fatigada, Tornava a Virgem Maria: Dorme pombinha nevada, Dorme, dorme, dorme bem… Vê que está quase apagada A frouxa luz da bugia, Do pouco azeite que tem. E o Menino Jesus não se dormia… Augusto Gil
  • 10. O Menino chora, chora… O Menino chora, chora… porque anda descalcinho. Haja quem lhe dê as meias que eu lhe dou os sapatinhos. Nossa Senhora lavava e S. José estendia e o Menino chorava com o frio que fazia. Calai-vos, meu Menino, calai-vos meu amor, isto são navalhinhas que cortam sem dor. (Poema popular, canção do Redondo)
  • 11. Este Menino Este Menino É pequenino Qual passarinho A querer poisar Devagarinho. Devagarinho Poisa no ninho Que o colo tem: Ninho do colo Da sua mãe. Maria Alberta Menéres, O Livro do Natal
  • 12. O Menino Dorme O Menino nasceu Deixai-o estar sossegado Na sua caminha de oiro Com a mãe e o pai ao lado! Vai-te embora rouxinol P`ra longe desse loureiro, Deixa dormir o Menino Que está no sono primeiro! Tu também, ó cotovia Já são horas de parar! Se não paras, o Menino Não tarda, vai acordar! E tu, ó melro atrevido, Que te escondes no silvado. Vem só cantar ao Menino Quando estiver acordado! O Menino dorme, dorme, Naquele sono profundo... Quando mais logo acordar Vai sabê-lo todo o mundo! Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
  • 13. Pórtico Entre nós uma estrela assim acesa, acesa, acesa: a notícia de que o Menino nasce sempre em berço de surpresa. João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal Coração de Dezembro No coração de Dezembro se faz um caudaloso hino de amor e paz: Um menino, saltando o muro da eternidade, vem ao mundo dar ao tempo novo tempo, maduro de festa e promessa. Nele se faz fundo a medida do corpo do futuro. João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
  • 14. O Menino Deus Um pastor vindo de longe À nossa porta bateu; Trouxe recado que diz: - O Deus Menino nasceu. Este recado tivemos, Já meia-noite seria; Estrelas do céu, lá vamos Dar parabéns a Maria. Mas que Lhe havemos de levar, A um Deus que tanto tem? - Ainda que muito tenha Sempre gosta que Lhe dêem. - Eu Lhe levo um cordeirinho, O melhor que eu encontrei. - E eu Lhe levo um requeijão, O melhor que eu requeijei. - Pois também eu aqui levo, Fofinhos, para Lhe oferecer, Bons merendeiros de leite, Favo de mel, pra comer. - Vamos ter com os mais pastores, Não se percam no caminho. Vamos todos, e depressa, Adorar o Deus Menino. - Vinde também pastorinhas,
  • 15. Vinde, correi a Belém; Vinde visitar Maria Que divino Filho tem. - Esta noite é santa noite, Inda assim, mesmo tão fria; Vamos todos a Belém Visitar Jesus, Maria. - Ai, que formoso Menino; Ai, que tanta graça tem! Ai, que tanto Se parece Com a sua senhora Mãe! (Poema popular)
  • 16. Dorme, dorme… Vai-te embora, passarinho, deixa a baga ao loureiro, deixa dormir o Menino que está no sono primeiro. Dorme, dorme, meu Menino, que a Mãezinha logo vem. Foi lavar os cueirinhos à fontinha de Belém. (Poema popular da Ilha de São Jorge – Açores)
  • 17. Loas ao Menino Menino Jesus, Que estás no altar, Não tenho presentes Para Te levar! Não tenho palácios, Não tenho campinas, Nem mantos de seda, Nem cambraias finas! Não tenho tesouros, Nem disso ilusões!... Sou pobre nos sonhos E nas ambições! Não tenho riquezas, Nem compras de feira, Só tenho o que cabe Na minha algibeira! Tenho um piãozinho, Mais uma baraça P’ró fazer girar No meio da praça!
  • 18. Tenho dois berlindes, Um verde e um lilás, E a jogar com eles Nunca fico atrás! Ah, que bom seria Poderes aprender, E eu ser teu mestre E ver-te vencer!... Menino Jesus, Que estás no altar, É tudo o que tenho Para te levar! E nada mais levo, Por mais que queira, Pois é pequenina, A minha algibeira!... Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 20. Presépio O presépio é a casa, o abrigo e a fonte, é o destino da estrela esperando que o sol desponte. O presépio é o lugar que o menino quis escolher para anunciar ao mundo que acabara de nascer. Os animais que se juntam para lhe darem calor são o teto e são a casa, são uma prova de amor. Faz-se um presépio de barro, lembrando o original, que por ser quente e humano nunca há-de ter igual. Até o cão e o gato que parecem lá não estar ficaram ao fundo à espreita para poderem festejar.
  • 21. Os primos vão buscar musgo e dão um toque mais quente ao presépio deste Natal que vai juntar toda a gente. O presépio é o abrigo onde dorme a lua cheia, que guarda uma surpresa para um menino sem ceia. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 22. A ovelha do presépio Eu vim trazer agasalho ao menino de Belém que dorme um doce soninho no colo da sua mãe. As histórias que eu já ouvi dizem ser especial o que iria acontecer nessa noite de Natal. Sou a ovelha discreta que se contenta em balir para dizer ao menino o que ele deseja ouvir. Sou a ovelha do presépio em fresco barro moldada, mas já fui de carne e osso nessa fria madrugada. O que fazem no presépio outros bichos como eu? Vêm dar calor à noite, que o menino já nasceu. Ontem deixei o rebanho
  • 23. e amanhã lá voltarei; hoje é este o meu lugar junto ao menino que é rei. Ele fica acompanhado por quem lhe quer tanto bem; dorme um sono descansado sobre o regaço da mãe. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 24. O presépio dos avós Vêm de noite, cansados, sem temerem a distância pois os netos estão à espera no reino da sua infância. Há dias encomendaram um enorme bolo-rei que tem uma fava rija e um brinde em ouro de lei. São amigos do Pai Natal e também são construtores dos presépios de outros tempos que tinham anjos voadores. Pensaram escrever um livro lembrando os velhos natais em que havia mais esperança nas notícias dos jornais. Mas o livro que escreveram foi afinal o da vida que há-de ter um fim feliz na hora da despedida.
  • 25. Agora tem os netos sentados à sua volta; são a roda dos afetos com tanta ternura à solta. São o tempo que dá tempo aos pais atarefados, são a alegria que espalha sorrisos por todos os lados. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 26. Maria e José Debruçados sobre o berço vão velando noite fora pelo sono do menino até ao nascer da aurora. Se dormir sem sobressalto terão noites sossegadas e quando os dentes romperem já não serão descansadas. Já chegaram os amigos, que o tempo é de festejo, Maria embala o menino E, ao deitá-lo, dá-lhe um beijo. José, que é carpinteiro, deixou trabalho adiado; tem o presépio a cargo e não dorme descansado. Com a madeira que talha fez um berço tão bem feito que o menino quando dorme tem um soninho perfeito. Da fonte vem água fresquinha,
  • 27. De longe alguém traz o mel Que adoça a boca da noite Fechada ao amargo do fel. Quem se junta à família que muitos dizem a sagrada acende uma vela branca no centro da madrugada. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 28. O Burro do Presépio Sou versado em pouca coisa mas burro é que eu não sou; entre os bichos do presépio eu sei sempre onde é que estou. Se era preciso calor e uma terna companhia, ali estava eu presente enquanto o menino nascia. Como não sou adivinho, nem sequer mestre em magia, quem esse menino era eu ao certo não sabia. Filho de gente modesta, tinha um brilho no olhar que era só comparável ao das noites de luar. Velando pelo seu sono, sem o deixar despertar, eu ficava de atalaia evitando até zurrar. Sem que saiba bem o quê,
  • 29. qualquer coisa me fez pensar que essa noite em Belém o mundo iria mudar. Mal sabia nessa altura num lugar de escassa luz, que essa criança, afinal, era o Menino Jesus. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 30. A Vaca do Presépio Sou a vaca do presépio, amiga do seu amigo, que o destino encaminhou para dentro deste abrigo. Sempre que um menino nasce, tem o leite da sua mãe, mas para crescer saudável pode ter o meu também. Como sou um bicho forte que dá alento e calor, vim ajudar o menino e pôr-me ao seu dispor. Segui uma estrela no céu, como os outros a seguiram, e com assombro e ternura também vi o que eles viram. Vi um menino acordado enquanto o mundo dormia e encontrei nos seus olhos a paz que nos prometia.
  • 31. Sou a vaca do presépio, já só em miniatura, mas continua a ser farta a minha ração de ternura. Como nesse tempo antigo não havia fotografia, só existo na memória de quem celebra esse dia. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 33. Cantiga dos Reis Santos Reis, santos coroados Vinde ver quem vos coroou Foi a virgem, mãe sagrada, Quando por aqui passou. O caminho era torto Uma estrela vos guiou Em cima de uma cabana Essa estrela se pousou. A cabana era pequena Não cabiam todos três; Adoraram Deus-Menino Cada um por sua vez. Cantiga Popular de Barcelos, recolhida por Luísa Miranda
  • 34. Os Reis Magos São três e chegam de longe com um sonho na bagagem: querem estar com o menino antes que finde a viagem. São magos do Oriente, mas não são magos de rua; acreditam nos cometas, nas estrelas e na lua. São os magos viajantes que resistem à fadiga, seguindo o rasto de luz de uma estrela que é amiga. São os Reis Magos que chegam das mais remotas paragens com ouro, incenso e mirra que trazem de outras viagens. São os Reis Magos felizes, joelho assente na terra, com um voto e uma prece: “Menino, põe fim à guerra.”
  • 35. Gaspar, Baltazar e Belchior pedem à estrela brilhante: “Dá nome a este menino antes que o galo cante.” Viemos aqui nesta noite com um desejo profundo: queremos ver o menino que vem dar esperança ao mundo. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 36. Os Reis São chegados os três reis Lá das partes do Oriente, A visitar o Menino Santo Deus omnipotente. Guiados por uma estrela, Vieram ter a Belém Onde estava o Rei do Mundo, Que nasceu p’ra nosso bem. A estrela se escondeu Por trás de uma estrebaria; Dentro estava o Deus Menino E mais a Virgem Maria. O curral era pequeno, Não cabiam todos três: Adoraram o Menino Cada um por sua vez. Ouro, mirra e incenso Todos três lhe ofereceram; Aos pés da Virgem Maria As ofertas estenderam.
  • 37. Pondo os joelhos em terra, Adoraram a Jesus, Filho de Deus encarnado, Que é toda a nossa luz. Santos reis, santos coroados, Foi Jesus que vos coroou, Jesus que, p’ra nos salvar, Deus ao mundo enviou. Nesta noite tão feliz Cantemos com alegria: Já nasceu o Rei da Glória, Filho da Virgem Maria. (Poema popular)
  • 38. Os três reis do Oriente Eram três reis do Oriente E partiram mundo além, À procura do Menino No presépio de Belém! Foram chamadas em sonho Por um sagrado destino: Guiados por uma estrela, Lá foram dar com o Menino! À entrada de Belém, Logo a estrela se escondeu Por detrás dessa cabana Onde o Menino nasceu! A cabana era pequena, Não cabiam todos três, Tiveram de ir adorá-Lo Cada um por sua vez! Os presentes que levaram Mirra, incenso e muito ouro, Eram p´ra que Ele ficasse Dono de grande tesouro! Puro engano, já se vê, Desses reis orientais... Pois p´ra Ele um bom tesouro É o Amor… e pouco mais! Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
  • 39. Adoração dos Magos Pelas veredas do deserto, seguem, rumo a Belém, Gaspar e Baltazar, mais perto, Belchior, um pouco além. A estrela que, na noite escura, só eles vêem brilhar, nesse instante de ventura, que os protege ao caminhar. Pelo céu da Galileia, vigiam anjos cantando loas divinas que, à ceia, os antigos vão recordando. Em baús, trazem presentes que, conforme a tradição, doaram reis, e descendentes, aos de cada geração. Ouro, incenso, do melhor, que possuíam guardados; mirra, pois, que p’ró merecedor só os mais recomendados. Pelas veredas do deserto, Guia, os Reis Magos, a estrela, que, da Terra, brilha tão perto, e ninguém possa esquecê-la. Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
  • 40. A estrela de Belém Vem de longe esta estrela que os Reis Magos orienta no caminho para Belém, na sua passada lenta. Nunca outra brilhou tanto no imenso firmamento, pois tem um recado a dar não bastando dá-lo ao vento. Os Reis Magos, que são três, seguem-na com confiança, já que ela traça a rota que os conduz à criança. São eternos andarilhos, estes magos viajantes que o céu pôs em movimento na rota dos caminhantes. São magos porque a magia nunca os leva ao engano e a estrela dá o sinal já perto do fim do ano.
  • 41. Ó estrelinha de Belém, que és grande e pequenina, guia os reis vindos de longe pelos céus da Palestina. Ó estrelinha que anuncias a chegada do menino, vem dizer a este mundo: “Por favor, vê se tens tino!” José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 42. Minha Mãe, uma estrela! Ó mãe, anda ver No céu a brilhar Uma linda estrela Que te vou mostrar É tal qual aquela - Repara! Olha bem! – Que levou pastores E reis a Belém. Será que ela viu Nascer o Menino? E que lá do alto Lhe guia o caminho? Será que é tão grande O dom dessa estrela Que ainda hoje somos Guiados por ela?... Meu Deus, e parece Que me está a olhar!... Talvez tenha vindo Para me chamar! Alexandre Parafita, Histórias de Natal Contadas em Verso
  • 44. Eu queria ser Pai Natal Eu queria ser Pai Natal E ter carro com renas Para pousar nos telhados Mesmo ao pé das antenas. Descia com o meu saco Ao longo da chaminé, Carregado de brinquedos E roupas, pé ante pé. Em cada casa trocava Um sonho por um presente Que profissão mais bonita Fazer a gente contente! Luísa Ducla Soares, Poemas da Mentira e da Verdade
  • 45. Engano do Pai Natal O menino louro, rosado, tinha um coração de ouro. E ficou tão triste quando olhou para o sapatinho do menino pobre. Disse-lhe então: - Bem vês, amigo, o Pai Natal passou de presentes carregado, mas já ia tão cansado que tudo trocou. Mas vem comigo. Agora, não faças ruído porque ali, nas palhinhas deitado, dorme o Menino. E assim foi de mansinho em busca dos seus brinquedos para ofertar ao amigo, dizendo baixinho: - O engano está desfeito, mas não digas a ninguém! Um engano até o Pai Natal tem! Luísa Pinto Leite, Companheiro
  • 46. Pai Natal Pai Natal, acabo de perceber que não és imparcial. A alguns meninos deste tudo e a outros não deste nada. Será que perdeste a morada, não estava a tundra gelada, ou estava a rena cansada? No Natal que logo vem, pensa bem pois não pode ser assim. Ou dás presentes a todos ou não os dás a ninguém. Nem a mim. Regina Gouveia, Ciência para meninos em poemas pequeninos
  • 47. O Pai Natal Não é figura do presépio pois pertence a outra história; atravessa a noite escura seguindo os fios da memória. Dizem que traz os presentes que os meninos lhe pediram: brinquedos, livros e jogos como nunca antes viram. Tem muita pressa em chegar ao fim da sua viagem, por isso dá pressa às renas e nem vê a paisagem. De barrete e barba branca, é um avô bem-disposto que tudo faz para afastar a doença e o desgosto. Nunca parou no presépio que é de um outro Natal; o seu é frio e do norte como o inverno glacial.
  • 48. Se o menino o conhecesse, havia de gostar dele; pedia-lhe a luz de uma estrela e dava-lhe um pouco de mel. Ei-lo que parte apressado, já exausto de viagens, levando o saco vazio depois de tantas paragens. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 49. NATAL
  • 50. Visitação do Anjo Povos da Terra, acordai Que o mensageiro chegou À Terra de Deus, olhai A estrela que o guiou. Do recado que o traz Ao mundo, por bem, dirá Qual a mensagem de paz Que de nós outros fará. Por graça divina vêm Com ele, os anjos do céu, Livrar, pois, os que detêm Do mal culposo labéu. Não fosse, então, de favor A hora deste rebate Que grandeza, que louvor Serviria de resgate À mais nobre condição De filhos de Deus, primeiro, A quem a voz da redenção Salvou, depois, por inteiro? Povos da Terra, acolhei Da parte de Deus, cantando O anjo que, em nome da lei, À terra veio a seu mando. Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
  • 51. Para aí! Onde vais linda gaivota Passeando sobre o mar? Para aí porque é Natal Vem connosco festejar. Onde vais vento do Norte Furioso e a soprar? Para aí porque é Natal Vem connosco festejar. Andorinha viajante Que partes para voltar Para aí porque é Natal Vem connosco festejar. Cisne tão belo e altivo De uma brancura sem par Para aí porque é Natal Vem connosco festejar. Crianças deste jardim A correr e a saltar Parem todas. É Natal Juntas vamos festejar. Natal é tempo de Amor Tempo de Paz e de Luz Juntas vamos adorar O bebé que é Jesus. Isabel Lamas, O Pai Natal quer ser Poeta…
  • 52. Voar, voar Por muito voar Por cima do mar Uma andorinha Ficou cansada. Voar, voar mais Já não sou capaz Preciso parar E voltar para trás. Lá longe no céu a Lua apareceu - Vem andorinha Podes seguir-me. Disse-lhe ela Bondosa a sorrir. Vieram mil estrelas Todas a brilhar Teceram um manto Lindo de encantar Pelos céus além Brilhava esta luz quando apareceu o Menino Jesus sorriu docemente estendeu a mãozinha para nela poisar a nossa andorinha. Isabel Lamas, O Pai Natal quer ser Poeta…
  • 53. Natal Africano Não há pinheiros nem há neve, Nada do que é convencional, Nada daquilo que se escreve Ou que se diz... Mas é Natal. Que ar abafado! A chuva banha A terra, morna e vertical. Plantas da flora mais estranha, Aves da fauna tropical. Nem luz, nem cores, nem lembranças Da hora única e imortal. Somente o riso das crianças Que em toda a parte é sempre igual. Não há pastores nem ovelhas, Nada do que é tradicional. As orações, porém, são velhas E a noite é Noite de Natal. Cabral do Nascimento, Obra Poética Lapinha Já lá vem àquela esquina Uma preciosa dama Visitar o Deus Menino, Nascido em pobre cabana. Não foi por falta de casas Ou porque as não haveria, Feitas do mais puro ouro, Da mais fina pedraria; Foi para nos dar o exemplo Na pobreza de Maria. (Cantiga popular de Loulé)
  • 54. Dezembro Dezembro entrou Em bicos de pés, Branquinho De arminho Espalhando a neve De lés a lés. Ouve-se ao longe Música leve, Celestial… Daqui a pouco Chega o Natal!... Clara Abreu, O Meu Livro das Festas Natal Entrai, pastores, entrai Por este portal sagrado. Vinde adorar o menino Numas palhinhas deitado! Pastorinhos do deserto, Todos correm para o ver. Trazem mil e um presentes Para o Menino comer! Maria Alberta Menéres, O Livro do Natal, (canção popular de Linhares)
  • 55. Natal dos pobres Quando a mulher adormeceu naquela noite de Natal, o homem foi, pé ante pé, pôr um sapato (dela, não seu) com um embrulho de jornal na lareirinha da chaminé. Um casal pobre…um ano mau… era um pedaço de bacalhau. Ora alta noite, pela janela, com fome e frio, entrou um gato que, no escuro, cheirando aquela comida boa no sapato, rasgou o embrulho, comeu, comeu e, quente e farto, adormeceu. De manhã cedo, ela acordou, foi à cozinha e viu o gatinho adormecido no seu sapato. Voltando ao quarto feliz, feliz, falou para o seu homem: - Meu amorzinho, como soubeste que eu queria um gato? Leonel Neves, O Menino e as Estrelas
  • 56. Cartão de Natal Escrevi Um cartão de Natal Dentro de mim. Tenho-o presente E (se puder) Vou dá-lo a toda a gente. Fiz-lhe um desenho Leve e risonho, Do tamanho Do meu sonho. E uma palavra só, aberta Como uma flor A responder Na rima certa: AMOR!! Maria Alzira Machado, Pela Mão do Teu Sonho
  • 57. Natal O menino Jesus já cansadinho por tanto andar por cima dos telhados, descalçou os sapatos apertados (e eram novos) e pô-los no caminho. Nisto, sentiu ruído ali pertinho. Trepou à chaminé com mil cuidados, e que viu? Dois tamancos esburacados e, ao pé deles, rezando, um petizinho. O menino Jesus que faz, então? Sem ter nenhum brinquedo ali à mão, (destes que tanto agradam aos garotos). Troca os sapatos pelos do petiz e, depois, vai ao céu mostrar, feliz, à Virgem Mãe os tamanquinhos rotos. Adolfo Simões Muller
  • 58. Matinas de Natal Vai a noite em retirada, que a estrela d’alva lá vem. É tempo de anunciada, já a luz desperta além. Com cuidado desmedido, deixam pastores, o redil, que o monte lhe é devido, canseira de passos mil. Por ondulantes colinas, repicam bronzes de sino em ermidas pequeninas, brancos sonhos de menino. Para onde correm à pressa as águas frias, quebradas, da vida a que não regressa a dor de vidas passadas? Pelas versas do olival, anda o estorninho a cantar mágoas de amor sem igual a pena de as não chorar. Vai a sombra em retirada do dia que, então, nasceu para ser de anunciada ao mundo que o não esqueceu. Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
  • 59. Romanceiro de Natal Esta noite é Noite Santa, Já a lareira aquece o lar, Bendizendo a luz que encanta Quem connosco vem morar. Pelos caminhos da Terra, Seguem, de perto, a estrela Reis que trocaram a guerra Pela paz, para merecê-la. Por eles passam pastores, Com seus rebanhos pacatos, Tornam-se os servos senhores A quem todos ficam gratos. Por entre salmos divinos, Louvam os anjos, então, Maria, a quem erguem hinos De serena gratidão. Oferendas nunca trazidas De tão longe ficam bem, Junto de quem honras devidas Não esperava de ninguém. Povos da Terra, cantai, Bendizei o Criador Que, por nós, pediu ao Pai
  • 60. Para ser nosso redentor. Vergílio Alberto Vieira, Romanceiro de Natal
  • 61. Natal chique Percorro o dia, que esmorece Nas ruas cheias de rumor; Minha alma vã desaparece Na minha pressa e pouco amor. Hoje é Natal. Comprei um anjo, Dos que anunciam no jornal; Mas houve um etéreo desarranjo E o efeito em casa saiu mal. Valeu-me um príncipe esfarrapado A quem dão coroas no meio disto, Um moço doente, desanimado… Só esse pobre me pareceu Cristo. Vitorino Nemésio
  • 62. Missangas de Natal no avental da avó Caiu no avental da avó uma rena lá do Pólo; anda agora no seu colo beliscando o pão-de-ló. Perto do bolso da algibeira um trenó descontrolado cobiça o bolo-rei do lado e escorrega prá sua beira. Bem no meio do peito está o bom do velho Pai-Natal, depois do Menino, afinal, é ele quem mais prendas dá. Junto da alça do pescoço um ramo verde de azevinho saboreia já o doce cheirinho do que virá depois do almoço. No fundo da bainha, os sinos, embora quedos e mudos, estão, pela cor e tom, a chamar a atenção que nasceu o Menino dos meninos. Nas costas, o laço do avental, sozinho, mas não entristecido, sabe bem que lhe é devido o lugar de cada missanga de Natal. João Manuel Ribeiro, Romanceiro de Natal
  • 63. O Natal da escola O Natal vai à escola com roupas de fantasia; num bolso leva os sonhos e no outro a poesia. O Natal pousa nos livros, no quadro e nas carteiras e deixa um pó de estrelas no fundo das algibeiras. E até o telemóvel, que na aula não deve entrar, quando toca de repente é o Natal que vem lembrar. O Natal entra na escola, na mochila e nos cadernos e segreda ao ouvido os votos que são eternos. O Natal é o recreio que a campainha anuncia; todos celebram contentes o sentido desse dia. Há quem lhe chame magia
  • 64. e quem não lhe chame nada; este ano dão-nos livros com uma história ilustrada. Essa história foi contada de geração em geração e hoje quem a conta são os meninos que ali estão. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 65. O Espírito do Natal Ninguém sabe que forma tem, se é magrinho ou anafado, se tem perfume de sândalo ou bigodinho aparado. Ninguém sabe se é um menino ou se é um Pai Natal, se tem voz doce e timbrada ou um tom mais gutural. Ninguém sabe bem o que é esse espírito de que se fala, se vem dentro de um trenó ou no forro de uma mala. Ninguém sabe se é brinquedo ou objeto de valor, se tem nome e morada ou se é coisa de sonhador. Ninguém sabe que cor tem, se é vermelho ou amarelo, se tem caracóis prateados ou flores azuis no cabelo.
  • 66. Só de uma coisa há certeza e é rara e especial: aquilo de que falamos é o Espírito de Natal. E esse Espírito do Natal que trabalha sem horário é doce, quente e fraterno, amigo e solidário. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 67. O dia de Natal S. José e mais Maria iam ambos de jornada: S. José andava muito e Maria is cansada. Viram ao longe uma casa, foram lá pedir pousada. Chamaram pela patroa, e respondeu a criada: - é um homem e sua mulher que nos vêm pedir pousada; trazem um filho nos braços, que nasceu de madrugada. (Poema popular de Gralhós – Montalegre
  • 68. Conto do Natal Estando a Virgem À borda do rio, Lavando os cueirinhos Do seu bento filho, A Virgem lavava, S. José estendia, O Menino chorava Com o frio que fazia. A Virgem ao peito O foi aconchegar E logo o Deus Menino Deixou de chorar! (Poema popular de Cardigos)
  • 69. Chegou o Natal O Natal está a chegar E há tanto para fazer: Presentes para comprar E postais para escrever. Já comprei muitas prendinhas E estou muito carregada Andei todo o dia na rua E agora estou muito cansada. Já estou a fazer os arranjos Para a noite de Natal Quero tudo muito lindo… Nada pode correr mal! Olhem só o que encontrei Arrumado num cantinho… Há velas, bolas, grinaldas, Fitinhas e azevinho. O pinheiro está tão lindo! Todo ele a cintilar. Já vesti o meu pijama E agora vou-me deitar.
  • 70. À noite, na missa do galo, Ao som da “Noite Feliz” Vai haver um teatrinho E o anjo é o Luís. Já está tudo preparado E as crianças estão contentes Só falta o Pai Natal Deixar ficar os presentes. Mais tarde, pé ante pé, Quando está tudo a dormir, Aparece o Pai natal Para as prendas distribuir. Sarah Kay
  • 71. Natal na capelinha Conta uma história antiga que um mendigo, Doa que não tem teto nem lareira, Na noite de Natal buscou abrigo, Na ermida da Senhora da Azinheira. E no chão térreo e frio da capela Fez um borralho e uma humilde ceia, Depois foi ao altar, fixou-se n’Ela, E pô-La com o Menino à sua beira. “-Consoamos – disse ele- os três assim: O bebé faz de filho, ao pé de mim, E a Senhora, que é a Mãe, faz de quem é! Com Vós os dois, aqui, neste cantinho, Até eu, um humilde pobrezinho, Já me sinto a fazer de S. José!” Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 72. Alta vai a Lua!... Alta vai a Lua, alta, Alta vai, deixá-la ir!... Vai a dar a luz ao caminho Que Maria está a seguir! S. José vai atrás dela E não a pode alcançar… Só ela sabe que a hora Está mesmo, mesmo, a chegar! Foi alcançá-la em Belém, Já o Menino nascia! Mas a pobreza era tanta Que nem um panal havia! Deitou as mãos à cabeça E, usando o próprio véu, Fez o primeiro agasalho Que o Menino recebeu! E nesse momento um anjo Do céu à terra descia!... Com panais de fino ouro E mensagens de alegria! Alta vai a lua, alta,
  • 73. E que bonito luar!... Nem o sol ao meio dia Tinha tanta luz p’ra dar! Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 74. Natal de um menino de rua Menino da rua, Tão triste que estás, Vem dizer-me quem Tanto mal te faz! Se és dono e senhor Das ruas, do tempo, Da noite e do dia… Que é que te falta P’ra teres alegria? “P’ra ter alegria, Bastava, afinal, Eu ter, como os outros, Também um Natal! Ou lá porque sou Menino da rua, Não tenho direito Também a uma noite Feliz como a tua? Ter prendas, luzentes, No meu sapatinho Junto à chaminé!... E sentir os passos Daquele Menino
  • 75. Que vem de mansinho Lá de Nazaré?... Será pedir muito Numa noite assim? Será que o Menino Nada tem p’ra mim?” Menino da rua, Para de sonhar!... Que ao Menino Deus, Mesmo pobrezinho, Sem teto, sem lar… Jamais lhe faltou Algo p’ra nos dar! Dá-nos esta esperança Que nos incendeia, A partir da luz Humilde e mortiça Da nossa candeia! Vem daí, menino, Que o nosso Natal Há-de ser de todos O mais genial! Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 76. Natal do gaiteiro Como um peregrino, Lá vai o gaiteiro, Vai de terra em terra Sem cobrar dinheiro! Chapéu de mendigo, Capa de burel, Tamancos de pau, Polainas de pele… A gaita-de-foles, De odre encardido, Embala-lhe os passos Quando está perdido! Olhai-o, lá vem! É a feira do mês, Já se ouve uma moda, Depois duas, três… E as modas lhe saem Como por magia Dos velhos canudos Que ele fez um dia!... Toca a marinheira Mais a foliada
  • 77. Depois uma morna, Lenta, sossegada… Modinhas alegres, E outras nem tanto, Algumas são mesmo A puxar o pranto!... É esta a rotina Do pobre gaiteiro, Sempre a dar ao fole Sem cobrar dinheiro! E onde quer que vá, À falta de um lar, Ao cair do dia, Dorme onde calhar! Chegado o Natal Sem uma família Sem uma lareira Consoa sozinho E à sua maneira!... No forno do povo, O calor lhe sobra, Come couve troncha E fritas de abóbora!
  • 78. No fim tem a gaita E uma morna lenta Como companhia… Depois adormece Até vir o dia! E ainda se julga Mais afortunado Que aquele Menino Nascido na gruta E em palhas deitado! É assim a história Do pobre gaiteiro!... Pobre porque vende A sua alegria Sem cobrar dinheiro! E ao acordar A gosto lhe sai Um som matinal… Desejando aos outros Um Feliz Natal! Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 79. Natal de um pastorinho Pela serra acima Vai o pastorinho, Leva o seu bornal Bem recheadinho! Batendo os tamancos, Lá vai pela manhã Vestido de croça E gorro de lã!... As ovelhas mansas Seguem a seu lado, P’ra lidar com elas Não usa o seu cajado! Fala-lhes mansinho: “Meninas, correr!” E elas tratam logo De lhe obedecer! Porém uma delas Não aguentou mais, Deitou-se p’ró lado Ao pé duns giestais!
  • 80. E logo o pequeno De tão perspicaz Deu pela falta dela E voltou atrás! Andou meia légua, Achou-a deitada: Ia dar à luz Não tardava nada! E o pastorinho Lá fez de parteiro Tomando nas mãos Um lindo carneiro! Feliz a ovelha Feliz o pastor: Que quadro tão belo Para um bom pintor! E p’ra festejar Aquele Natal Havia o farnel… Puxou do bornal! Depois lá seguiram De novo o caminho:
  • 81. Ao colo do moço Ia o cordeirinho. E ao chegar a casa Lá pela tardinha, Com mais um no rol… O bom pastorinho Aumentou o encanto Daquele pôr-do-sol! Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 82. Natal de um palhacinho… Pela rua abaixo Vai o palhacinho! Onde é que ele irá Tão apressadinho? De laço dourado, Peruca amarela, Olhinhos de prata, Nariz de canela… Na mão a cartola Da cor do lilás, Mais as pantominas Que só ele faz! “-Aonde é que vais Assim tão garrido, Se aí para baixo Não há nenhum circo, Nem algo parecido?...” “- Vou ver o menino Que nasceu além! Quero ir alegrá-lo, A Ele e à Mãe!”
  • 83. “-Que Menino é? Onde é que nasceu?” “- Foi numas palhinhas Pertinho do Céu!” “-Pertinho do Céu?! Não podes lá ir: Não há lá meninos P’ra tu fazeres rir!” “-P’ra eu fazer rir, Bastam-me as estrelas! Se não há meninos, Brincarei com elas! Mas este Menino É tão especial! Só Ele é que pôde Criar o Natal!” “-Adeus, palhacinho, Não te atrases mais: Faz rir o Menino Dá gosto a seus pais! E leva à choupana Onde Ele nasceu
  • 84. Tamanha alegria, Maior do que o Céu!” E o palhacinho, Em gestos geniais, Meteu-se a caminho, E tão ligeirinho… Ninguém o viu mais! Alexandre Parafita, Histórias de Natal contadas em verso
  • 85. Ó Pastores que andais na serra Ó Pastores que andais na serra, não corteis o rosmaninho, onde a Virgem Mãe estende os paninhos do Menino. Ó Pastores que andais na serra, não corteis a bela-luz, onde a Virgem Mãe estende os paninhos de Jesus. Ó Pastores que andais na serra, não corteis a gesta em flor, onde a Virgem Mãe estende os paninhos do Senhor. (Poema popular de Mouçós, Vila Real)
  • 87. As prendas de Natal Vem dos tios, dos avós em embrulhos coloridos; são livros e são brinquedos já há muito prometidos. E nunca mais chega a hora de serem desembrulhados; enquanto o momento tarda há meninos acordados. Ao Natal do presépio deram os reis os presentes, magos vindos tão longe com túnicas reluzentes. O menino, mal os viu, logo se pôs a pensar: “Talvez o melhor presente seja o amor que vou dar.” Chega embrulhado no sono o presente mais gostoso: é o colinho dos pais abrindo a porta ao repouso.
  • 88. E paira no ar a pergunta que faz o maior sentido: para se ter um presente, há que tê-lo merecido? Seja Jesus ou Pai Natal, nisto hão-de concordar: o que conta nesta vida é sabermos partilhar. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 89. Os doces de Natal Já se encontra a mesa posta com sonhos e azevias, bolo-rei e coscorões e muitas outras iguarias. Com os doces vem afetos, mas convém não abusar, porque quem os come a mais vai pela certa engordar. Os doces são a ternura que hoje aqui se partilha e quem à mesa se sente não pode ser uma ilha. Broas, fatias douradas são a melhor companhia para dar aos versos rimas da mais doce poesia. E até o avô João, que costuma ter cautela, vai abrir uma exceção com bolinhos de canela.
  • 90. O menino do presépio doces não pode comer, mas anuncia a doçura que nos ajuda a viver. E há um menino triste que sofre de diabetes e sabe que o açúcar tem mil e um diabretes. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 91. A missa do galo Já a família se junta para ir à Missa do Galo e há quem vá de charrete, de carro ou a cavalo. Só o galo madrugador não se mostra nada contente por ter à hora do sono visitas de tanta gente. O seu desejo seria, já que dá nome à missa, pôr-se a cantar no altar de forma altiva e castiça. Mas isso não está previsto no programa natalício; as galinhas põem ovos e ele só tem esse ofício. Canta, galinho, canta que o teu cantor tem graça; tocam sinos a repique enquanto a gente se abraça.
  • 92. Canta, galinho, canta para que chegue ao destino esse canto madrugador de quem saúda o menino. Se a missa é do galo, não há missa da galinha que trabalha sem descanso desde manhã à noitinha. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 93. A árvore de Natal A árvore tão verde e esguia que em Dezembro se enfeita é guardiã dos presentes tendo os meninos à espreita. Viva a árvore de Natal que no presépio não esteve mas que gosta de aparecer de mão dada com quem escreve. Já se forma uma roda em seu redor, animada, à espera da meia-noite em tempo de consoada. Se esta árvore voasse talvez fosse para Belém só para ver no presépio o menino ao colo da mãe. Levava as estrelas nos ramos e anjinhos prateados, seus guias na travessia dos céus enevoados. Um jovem pinheiro manso
  • 94. vai cumprir essa função de enfeitar este Natal dando mais brilho ao serão. Em tempo de vacas magras é nas prendas que mingua o desenho de quem sonha às crianças dar a Lua. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 95. O peru da consoada Eu sou o peru do Natal que anima a Consoada, fiquei fora do presépio nessa noite festejada. Bem podia lá ter estado, mesmo junto das palhinhas em vez de ser cozinhado entre tenras batatinhas. Para mim é triste o Natal por ter os dias contados; não há nada que me salve, nem domingos nem feriados. A Jesus, que é bom menino, quero fazer um pedido: se o pobre peru for salvo, o Natal tem mais sentido. Quando dezembro começa, logo começo a sofrer, pois falta menos de um mês para o pior me acontecer.
  • 96. Se cheguei tarde ao presépio, juro que culpa não tive, que o peru é cumpridor durante o tempo que vive. Se desta sina me queixo, não sendo desmancha-prazeres, é por achar que a festa se faz com outros comeres. José Jorge Letria, O Livro do Natal
  • 97. Um figurão -Para a mesa é que eu não vou! – Dizia o peru A fazer Glu Glu. -Prefiro uma pinguinha De aguardente, À tardinha. E lá caiu na esparrela De beber a aguardente E apanhar “uma piela”… Boa mão o temperou, Belo forno o assou. Fez na mesa um figurão! Alberta Menéres, O Livro do Natal