Fé na sociedade plural e secular (Juan Luis Segundo)
1. A fé na sociedade plural
e secularizada
no pensamento de J.L.Segundo
Afonso Murad
www.afonsomurad.blogspot.com
Simpósio Internacional de Filosofia, Teologia e Ciências da
Religião – FAJE e PUC Minas
2. Fé antropológica
• Estrutura da liberdade: impossível
testar previamente as possibilidade
da existência
• Opção de vida em vista da felicidade
é aposta irreversível.
• Recorre-se a Dados Transcendentes e
testemunhas referenciais ->
confiança em pessoas.
• Lentamente se configuram valores,
que norteiam escolhas
• Os valores tem diferentes graus de
importância e se estruturam em
torno de um “valor absoluto”.
3. Mecanismos
de eficácia
(ideologia)
A fé antropológica necessita se realizar na história.
O problema: usar métodos e mecanismos que tem autonomia
própria e não se submetem à estrutura significativa.
Trata-se de uma dimensão antropológica básica.
Sistema de meios constituídos em vista de um fim.
Os mecanismos de eficácia tem lógica própria, resistem ao
valor e tendem a se erigir como absolutos.
6. Tensão
Fé sem eficácia:
idealista, inoperante.
Degenera em má
ideologia.
Sistema de eficácia sem
valores:
instrumentalidade se
absolutiza ->
unidimensional.
7. DADOS
TRANSCENTES
• Zona de convergência de estrutura significativa e sistema de
eficácia.
• Até que ponto a realidade permite a realização de
determinados valores
• É uma aposta, que não pode ser verificada empiricamente e
sim existencialmente.
• Os DT mobilizam o ser humano para a transformação (utopia
+ esperança).
• Premissas epistemológicas e ontológicas parcialmente
autovalidantes (G. Bateson)
8. Fé antropológica e Revelação
• Deus só pode se revelar para quem tem já
alguma abertura e sintonia com sua
proposta.
• Assim, a fé antropológica faz parte do
processo da revelação, que é processo
educativo de aprender a aprender.
9. Fé antropológica e religiosa:
Elementos comuns
• Arrisca, aposta
• Confia em Testemunhas referenciais, que
criam uma tradição viva
• Fundamenta estrutura de valores em dados
transcendentes
• Tem um escala de valores
• Necessita de mecanismos de eficácia.
• Organiza-se em torno de um Valor Absoluto
(onde estiver o teu tesouro...)
• É processo de aprender a aprender
10. A questão decisiva
Referir-se a dados
transcendentes a partir dos
quais e sobre as bases das
quais se aposta seus valores
diante de toda a realidade
11. O salto de
qualidade
• F.R. é a F.A transformada mediante a revelação, que
estrutura o mundo dos valores.
• A F.R. confirma a F.A e convida à conversão.
• FR: Crer naquilo que Deus comunica, acolher suas
testemunhas e a Tradiçao, entrar no processo
educativo conduzido por Ele
12. Fé antropológica <-> fé religiosa
• Em culturas cristãs, a estrutura de valores é
configurada a partir da fé religiosa.
• Mas a religiosidade pode esconder uma estrutura de
valores questionável ou impedir as pessoas de
alcançarem valores significativos.
• Colaboração e conflito: a fé religiosa configura a
estrutura de significado. E a estrutura de significado
questiona e purifica a fé religiosa.
• (Alguns exemplos: a postura em situação de crise)
• A resposta de Jesus na parábola do Samaritano que
socorre o homem assaltado e ferido.
13. Diferentes linguagens
Sistemas de eficácia:
linguagem digital,
objetiva, objetivante,
precisa.
Fé: linguagem icônica,
aberta a múltiplos
sentido, no qual o
sujeito se coloca
14. Intelecto e fé
• Intelecto: faculdade de compreender o que realiza, função
pela qual o ser humano compreende e estrutura
mentalmente sua própria vida.
• «Compreender» inclui sempre: tarefa interpretativa, e
influxo sobre a vida.
• No âmbito da fé: perguntar qual é o impacto da verdade da
fé sobre a existência real e as tarefas históricas e sociais.
• Anulação da função intelectual da fé: preferência à verdade
formulada, em detrimento da verdade pensada, para facilitar
a salvação para o maior número de pessoas.
• Simultaneamente, a fé que tem conteúdo irrenunciável e
está sujeita à interpretação.
15. Dimensão intelectual da fé e
compromisso histórico
• Quem só recebeu a fé como como imperativo externo tende
a ficar desorientado ante a complexidade do histórico. Aplica
a fé sem traduzi-la.
• A aceitação acrítica se estende para a prática social ->
conformidade com o status quo.
• A função do intelecto e a introdução da mensagem cristã em
realidades relativas e ambíguas da história serão vistas como
perigosas.
• Consequência: dualismo entre duas histórias, entre a eficácia
da salvação e a da história humana.
• Pensar a fé possibilita também julgar as tarefas históricas
postas por ela, na relação com demais homens e mulheres.
16. Intelecto e fé
• A fé necessita de compreensão, de pensar ativamente a
verdade revelada. «Dar razão» àquilo que se acredita, de
maneira inteligente e criadora.
• A função intelectual da fé não consiste somente em
compreender a doutrina cristã.
• Qual seria? Interpretar a história sempre em mudança à
luz de fé. Formulação dinâmica, em diálogo, que
responde às profundas questões colocadas pela
humanidade.
17. Pensar a fé e a ação humana transformadora
• A fé exige adesão pessoal ativa e deve ser pensada.
• O discurso sobre o conteúdo da fé requer:
- Expressar e interpretar o diálogo Deus – ser humano,
- Compreender-se em relação a tarefas humanas atuais.
18. Do amor à fé
• O amor solidário pergunta pela esperança: Vale a
pena amar, diante das possibilidades de frustação? A
fé responde -> afirma a vitória final do amor de Deus,
em meio a (aparentes) reveses da história.
• O amor que progride pergunta pela sua amplidão:
Vale a pena amar aos que estão fora do seu círculo
restrito. A fé cristã sustenta a universalidade do amor
que passa necessariamente pelo amor ao mais fraco
(Mt 25,40).
• Grandes experiências humanas são pré-catequese da
fé. Perguntam sobre o sentido da existência.
Acontece no mundo, na sociedade.
19. O diálogo com o mundo purifica a fé
• O diálogo obriga a Igreja a repensar elementos que
são fruto de deformações e que estão «travestidos»
de fé.
• A fé corre o risco de se transformar em verbalismo. O
Credo ser «verificado» também no nível da
existência.
• Rever o conteúdo da fé, em confronto com os
questionamentos que a evolução da humanidade
suscita, não é um gesto desesperado para não perder
o trem da história, e sim uma exigência da sua
dimensão encarnatória.
20. Metamensagem da fé tem 2 dimensões
Absoluta: parte
de Deus e do
horizonte dos
valores que ele
suscita na
humanidade.
Relativa:
acompanha o
ritmo de
interpretações
na história em
mudança
21. Fé encarnada
• A tarefa de encarnar a fé no mundo é
simultaneamente definitiva e provisória.
• A verdade revelada não é uma verdade final,
por mais absoluta que seja, mas elemento
fundamental para a busca da verdade.
• A revelação e a fé são imprescindíveis, numa
situação de relação com o mundo e a história.
22. Assumir o relativo
• A fé não é receita contra o relativismo na
história.
• Com a fé o homem vive o relativo, sem cair
no caos ou na oscilação entre valores
contraditórios.
• Conotação positiva: não é capricho,
pragmatismo ou instrumentalização.
• Fé religiosa absoluta depende de
condicionamentos essencialmente relativos.
25. A ética cristã, a partir de Paulo
Criadora Progressiva
Social Significativa
26. Relação entre meios e fins
Os fins
justificam os
meios
Os meios
devem ser
coerentes
com os fins
Exercita-se
flexibilidade
histórica
27. Fonte:
Afonso Murad: professor na FAJE, teólogo, escritor e ambientalista. Bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq.
Blog: afonsomurad.blogspot.com
Redes sociais: Afonso Murad