Distribuição geográfica da macaúba em sua região de ocorrência
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DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd ex Mart. 1 (ARECACEAE) EM SUA REGIÃO DE OCORRÊNCIA 2
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SUELEN ALVES VIANNA1; CARLOS AUGUSTO COLOMBO1 4
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INTRODUÇÃO 6
A palmeira Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart., conhecida popularmente no Brasil 7 principalmente por macaúba ou bocaiúva, tem como principal característica para o reconhecimento 8 da espécie a presença de cicatrizes e restos de bainhas foliares e, geralmente, a presença de muitos 9 espinhos em toda extensão do estipe. A espécie apresenta síndrome de cantarofilia e seu sistema 10 reprodutivo é considerado misto, apresentando maior taxa de endogamia em áreas onde as 11 populações encontram-se muito fragmentadas ou isoladas, o que comprova sua natureza monóica e 12 autocompatível (ABREU et al., 2012; SCARIOT et al., 1995) realizando autofecundação e/ou 13 cruzamento entre indivíduos aparentados, ou fecundação cruzada entre indivíduos diferentes em 14 locais onde as populações estão menos isoladas, o que favorece o fluxo gênico, e consequentemente 15 o aumento da variabilidade genética da população (CARGNIN et al., 2008). 16
De acordo com revisão bibliográfica realizada (HÉRNANDEZ et al., 2013; BHERING, 17 2010; LORENZI et al., 2010; AQUINO et al., 2008; JANICK & PAULL, 2008; MORAES, 2004; 18 HENDERSON et al., 1995, POTT E POTT, 1994 e outros trabalhos) A. aculeata é uma espécie 19 nativa das Américas, estando distribuída desde o México, passando por alguns países da América 20 Central até áreas localizadas mais ao norte da Argentina. É uma planta heliófita, ou seja, prefere 21 áreas abertas e com alta incidência solar (MORAES, 2004; LORENZI et al., 2010), ocorrendo 22 principalmente em áreas de típicas de Cerrado e em florestas semideciduais (HENDERSON et al., 23 1995; SCARIOT et al., 1991), sendo muito tolerante a seca, à ocorrência de geadas e a solos ácidos 24 (JANICK & PAULL, 2008). 25
Considerando a classificação climática de Köppen, as áreas com maior ocorrência de A. 26 aculeata estão localizadas sob dois tipos climáticos: o Aw caracterizado por clima tropical chuvoso 27 com inverno seco e mês mais frio com temperatura média superior a 18 C e o Cwa, caracterizado 28 pelo clima tropical de altitude, com chuvas no verão e seca no inverno, com a temperatura média do 29 mês mais quente superior a 22°C (COSTA et al., 2009). Devido à sua ampla distribuição geográfica, 30 a fenologia da espécie varia de acordo com a região. Emite folhas durante todo o ano e, em geral, 31 também floresce e frutifica o ano todo, porém com maior intensidade na época chuvosa (ALMEIDA 32 et al., 1998; SCARIOT et al., 1995). 33
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A palmeira A. aculeata possui ampla diversidade de usos, podendo ocorrer o 34 aproveitamento do palmito (DAMASCENO JR E SOUZA, 2010), da madeira para construção, da 35 seiva para elaboração de bebidas, das folhas como forragem para o gado, das fibras, do endocarpo 36 como carvão ou substituto para brita e, a castanha (semente) para fabricação de doces e extração de 37 óleo comestível e cosmético (LORENZI et al., 2006; SANTOS et al., 1997; POTT E POTT, 1994). 38 Os frutos são consumidos in natura ou processados como, sorvete, bolo e outros (Salis & Matos, 39 2009), sendo muito nutritivos (VIANNA et al., 2012; RAMOS et al., 2008). 40
Dentre suas múltiplas possibilidades de uso, é crescente o interesse pelo potencial de 41 produção de óleo dos frutos da macaúba que pode ultrapassar 4 mil litros por hectare se cultivada, 42 apresentando até 55,6% de óleo por fruto tendo aplicação tanto no setor energético (biocombustível) 43 como no industrial (resinas, lubrificantes, alimentação, cosmética e farmacêutica) (CARVALHO et 44 al., 2011; CETEC, 2005; BHERING, 2009) 45
O potencial da cadeia produtiva da macaúba é tão promissor que nos últimos seis ou sete 46 anos um grande número de instituições públicas e empresas privadas deram início à realização 47 de pesquisas sobre a planta em diversas áreas do conhecimento. No caso das atividades que 48 visem ao melhoramento genético da espécie, uma das prioridades de estudo é saber qual a 49 abrangência da espécie e seus ambientes de ocorrência como indicativo importante da sua 50 capacidade adaptativa para exploração futura. Assim, o presente trabalho visa indicar os locais de 51 ocorrência de macaúba a nível mundial. 52
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MATERIAL E MÉTODOS 54
A distribuição geográfica da espécie foi obtida a partir da construção de um banco de 55 dados derivados de revisão de literatura, levantamento de dados de herbário e de observação pessoal 56 dos autores. Para tanto, foram consideradas as coordenadas geográficas de cada localidade e em 57 alguns casos a descrição morfológica e do ambiente onde a espécie ocorre (fichas de exsicatas e 58 dados de observação pessoal). 59
Para formação do banco de dados foram consideradas as sinonímias de Acrocomia 60 aculeata: Acrocomia sclerocarpa, Acrocomia antiguana L. H. Bailey; Acrocomia antioquensis 61 Posada-Arango; Acrocomia belizensis L. H. Bailey; Acrocomia christopherensis L. H. Bailey; 62 Acrocomia chunta Covas & Ragonese; Acrocomia erisacantha Barb. Rodr.; Acrocomia fusiformis 63 Sweet; Acrocomia glaucophylla Drude; Acrocomia grenadana L.H. Bailey; Acrocomia hospes L.H. 64 Bailey; Acrocomia ierensis L.H. Bailey; Acrocomia karukerana L.H. Bailey; Acrocomia 65 lasiospatha Mart.; Acrocomia media O.F. Cook; Acrocomia mexicana Karw. ex Mart.; Acrocomia 66 microcarpa Barb. Rodr.; Acrocomia mokayayba Barb. Rodr.; Acrocomia odorata Barb. Rodr.; 67
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Acrocomia panamensis L.H. Bailey; Acrocomia pilosa León; Acrocomia quisqueyana L.H. Bailey; 68 Acrocomia sclerocarpa Mart.; Acrocomia spinosa (Mill.) H.E. Moore; Acrocomia subinermis León 69 ex L.H. Bailey; Acrocomia ulei Dammer; Acrocomia viegasii L.H. Bailey; Acrocomia vinífera 70 Oerst.; Acrocomia wallaceana (Drude) Becc. (tropicos.org, 2013; JANICK & PAULL, 2008; 71 HENDERSON et al., 1995). 72
Para geração do mapa de distribuição, foram marcadas todas as coordenadas dos pontos de 73 ocorrência levantados utilizando o software Google Earth. Para discussão dos dados foram 74 analisados em conjunto o mapa gerado, o mapa de classificação climática de Köppen-Geiger e o 75 mapa de Zoneamento Ecológico Global da Organização das Nações Unidas para Alimentação e 76 Agricultura (FAO). 77
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RESULTADOS E DISCUSSÃO 79
Os pontos de ocorrência da macaúba foram indicados no mapa de distribuição da espécie da 80 Figura 1. 81
Conforme mencionado por outros autores (HENDERSON et al., 1995; LORENZI et al., 82 2010; LLERAS, 1985) a macaúba ocorre em toda América Tropical, do México a Argentina, 83 Bolívia, Paraguai, Antilhas, exceto Equador e Peru. No Brasil ocorre em áreas mais secas, desde o 84 Nordeste até o extremo norte do Estado do Paraná, sendo encontradas as maiores concentrações da 85 espécie nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que 86 diverge em parte do mapa de distribuição da espécie mais utilizado como referência atualmente no 87 Brasil (LORENZI et al.; 2010), que não coloca pontos de ocorrência nos Estados do Ceará, 88 Pernambuco, Paraná e Rondônia, e que considera a maior parte das populações do Mato Grosso do 89 Sul como Acrocomia totai Mart. Outro mapa de distribuição utilizado é o de Henderson et al. 90 (1995) que coloca pontos de ocorrência da espécie nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do 91 Sul, locais de onde não se tem informação sobre a observação da espécie e nem coletas depositadas 92 em herbário. A divergência existente entre os mapas se deve ao não consenso sobre o número exato 93 de espécies e consequentemente sua distribuição. 94
De acordo com a Figura 1, sua ocorrência está associada a regiões mais secas, quentes e 95 com estação chuvosa bem definida sob os tipos climáticos de Köppen Aw e Cwa. Quanto à 96 vegetação, segundo o zoneamento ecológico global da FAO, a maioria dos pontos de ocorrência da 97 macaúba está em locais da denominada Tropical Moist Deciduous Forest (TAwa), onde ocorre 98 elevada precipitação e uma estação seca pronunciada com vegetação típica de Cerrado e ocorrência 99 de grandes áreas com pastagem (FAO, 2001). Esse tipo de vegetação cobre a maior parte do Brasil, 100
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partes do Paraguai, Bolívia, Argentina, Colômbia, Venezuela, os países da América Central e 101 México. 102
Os ritmos fenológicos, principalmente o de produção e perda de folhas é uma estratégia 103 adquirida para minimizar ou evitar a perda de água. No entanto, a produção de folhas em A. 104 aculeata é contínua, o que é compensado, segundo trabalho realizado por Barleto (2011), pelo alto 105 controle estomático da transpiração foliar da espécie. Desta forma, o estresse hídrico é minimizado 106 pelo aumento da eficiência no uso da água, o que pode ser considerado como característica 107 adaptativa da espécie, o que também explica sua distribuição em áreas mais secas. Ainda referente à 108 fenologia, lembrando que a macaúba normalmente sobrepõe os eventos de floração e frutificação, 109 que a queda dos frutos estende-se, em geral, durante o período de junho a março (SCARIOT et al., 110 1991; 1995) e que as sementes demoram a germinar, podemos dizer que é formado então um banco 111 sementes no solo que a cada ano é “reposto” o que amplia sua capacidade adaptativa e de 112 colonização de novas áreas. 113
Scariot (1998) demonstrou que a macaúba apresenta duas estratégias de polinização, 114 entomofilia (principalmente a cantarofilia) e anemofilia que, combinadas ao seu sistema reprodutivo 115 flexível (polinização cruzada e autopolinização), a torna altamente competitiva na colonização de 116 novas áreas. Ainda, o mesmo autor cita que a dispersão dos frutos pode ser realizada por diversos 117 animais silvestres e domésticos, o que também pode explicar sua ampla distribuição. 118
Trabalhos realizados por Manfio (2010), Oliveira et al. (2012; 2008) e Nucci (2007) 119 demonstraram a existência de altos níveis de diversidade genética de A. aculeata, o que explicaria a 120 capacidade de dispersão e ocupação de novos ambientes ou de ambientes em mudança, haja vista 121 que indivíduos com determinados alelos ou combinações de alelos podem apresentar vantagens 122 adaptativas necessárias para sobreviverem e se reproduzirem sob novas condições. 123
Por fim, a ampla área de distribuição da macaúba em grande parte do território americano 124 deve também ter sido influenciada por atividades antrópicas, pela disseminação realizada por povos 125 indígenas em épocas passadas (JANICK & PAULL, 2008; ARBOLES, 2005; MISSOURI, 2005; 126 HENDERSON et al., 1995; LENTZ, 1990) e pelo aumento da área de criação de bovinos pois, além 127 dos animais comerem e dispersarem as sementes, as áreas de pastagens são mais abertas e permitem 128 maior insolação e emergência de novas plantas. 129
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CONCLUSÕES 131
A distribuição geográfica apresentada é mais abrangente e completa que os mapas 132 apresentados até o momento e poderá ser modificada e ou ampliada conforme surgirem novas 133 coletas e observações em áreas pouco ou ainda não visitadas, tais como Venezuela, Guiana 134
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Francesa, Suriname e, no Brasil, o Estado de Rondônia, além de novas informações sobre a 135 taxonomia do gênero que ainda não está bem resolvida. Assim, estas informações são de grande 136 interesse para futuros projetos de conservação, melhoramento e manejo para suas diversas 137 possibilidades de uso. 138
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AGRADECIMENTOS 140
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento 141 do projeto e ao MSc. Luiz Alberto Pellegrin pela geração dos mapas. 142
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ANEXOS 246
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Figura 01. Distribuição geográfica de Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. em sua região de 254 ocorrência (A) América do Norte, (B) América Central e (C) América do Sul, a partir de dados 255 publicados, dados de herbário e observação dos autores. 256
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